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O discurso político da luta contra a pobreza : uma análise de sua produção e circulação no contexto brasileiro contemporâneoTurati, Carlos Alberto 23 March 2016 (has links)
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Previous issue date: 2016-03-23 / In our research, we investigate the discourse on the fight against
poverty in the contemporary Brazilian political sphere, by analyzing the aspects of
constitution, formulation and circulation of this discourse. More specifically, we take
as a starting point, for the analysis, a set of speeches presented by President Dilma
Rousseff in 2011, the year in which the federal government has adopted the slogan
Rich country is country without poverty, and has made the fight against poverty a
central goal of government actions. Supported by theoretical and methodological
framework of Discourse Analysis and having as main reference the work of Michel
Pêcheux, we take as a theoretical presupposition that all discursive practice is
entered in contradictory-unequal- overdetermined complex of discursive formations
that characterizes the ideological instance in given historical conditions. Therefore,
we consider the category of the material contradiction as a constitutive condition of
the discursive process, such that we consider it as a theoretical principle that guides
the research and, at the same time, as the object of analysis. From this perspective,
first we search to understand some historical determinations of the processes of
meaning production. Thus, we identified in the context of European industrialization
that the hegemonic form of the fight against poverty, already in its origin, is
constituted by a set of contradictions that indicate that its goal is first of all a goal of
the ruling classes, having in the classical liberal thought the basis of its formation.
Similarly, we have identified that in the historical context of the Brazilian national
problems, since the extractive activities until the contemporary capitalism, certain
meanings that relate poverty to the public menace and violence, that take it as an
indirect social and economic concern and that constitute the poor as naturally
incapable feature an elitist and vertical view of the problem. Then we investigated
how the contemporary form of the discourse on the fight against poverty acquired a
central role in Brazilian politics, becoming a kind of categorical imperative of political
and discursive actions. We seek to identify how this discourse has its hegemonic
reproduction guaranteed, where apparent and naturalized differences serve to cover
the constitutive contradictions that materialize the class conflicts that generate social
inequalities. Thus, we see how the forms of functioning of the discourse on the fight
against poverty configure strategies by which its constitutive contradictions are
rarefied, erased, displaced and forgotten. If the first and most apparent contradiction
of this discourse is the fact that it becomes hegemonic under the dictates and the
impulse of monetary institutions, in our analysis, we observed that its hegemonic
condition in the Brazilian political field has its efficiency guaranteed because such
discourse functions contradictorily as evidence, consensus and truth to be taught; it
mutes the agents and processes of exploitation by the capital, producing consensus
within the contradictions and operating a management of the polemic within the
political field; it is based on moral, subjectifying the poverty; it produces an erosion of
collective identities of resistance; it delegitimizes politically the organized groups and
individuals in their fight against inequalities; and subjective the poor as economic
subject in a passive dimension. / Em nossa pesquisa investigamos o discurso da luta contra a pobreza
na esfera política brasileira contemporânea mediante a análise dos aspectos de sua
constituição, formulação e circulação. Mais especificamente, tomamos como ponto
de partida da análise um conjunto de falas da presidente Dilma Rousseff produzidas
durante o ano de 2011, ano no qual o governo federal adotou o slogan País rico é
país sem pobreza e fez da luta contra a pobreza um objetivo central das ações
governamentais. Amparados no arcabouço teórico-metodológico da Análise do
discurso e tendo como principal referência os trabalhos de Pêcheux, tomamos por
pressuposto teórico que toda prática discursiva está inscrita no complexo
contraditório-desigual-sobredeterminado das formações discursivas que caracteriza
a instância ideológica em condições históricas dadas. Assim sendo, consideramos a
categoria da contradição material como condição constitutiva do processo discursivo
de modo que a tomamos como princípio teórico que orienta a pesquisa e ao mesmo
tempo como objeto de análise. A partir dessa perspectiva, buscamos primeiramente
compreender algumas determinações históricas dos processos de produção de
sentidos. Assim, identificamos no contexto da industrialização europeia que a forma
hegemônica da luta contra a pobreza já em sua origem é constituída por uma gama
de contradições que apontam que seu objetivo é antes de tudo um objetivo das
classes dominantes, tendo no pensamento liberal clássico a base de sua formação.
De forma análoga, identificamos que no contexto histórico dos problemas nacionais
brasileiros, desde as atividades extrativistas até o capitalismo contemporâneo,
determinados sentidos que relacionam a pobreza à ameaça pública e à violência,
que a tomam por uma preocupação social e econômica indireta e que constituem o
pobre como naturalmente incapaz caracterizam uma visão elitista e vertical sobre o
problema. Em seguida investigamos como a forma contemporânea do discurso da
luta contra a pobreza adquiriu um papel central na política brasileira, tornando-se
uma espécie de imperativo categórico das ações políticas e discursivas. Procuramos
identificar como esse discurso tem a sua reprodução hegemônica garantida, onde
diferenças aparentes e naturalizadas servem para se sobrepor às contradições
constitutivas que materializam os conflitos de classe geradores das desigualdades
sociais. Assim, observamos como as formas de funcionamento do discurso da luta
contra a pobreza configuram estratégias pelas quais suas contradições constitutivas
são rarefeitas, apagadas, deslocadas e esquecidas. Se a contradição primeira e
mais aparente desse discurso consiste no fato de que ele se torna hegemônico sob
o ditame e o impulso das instituições do dinheiro, em nossas análises pudemos
observar que essa sua condição no campo político brasileiro tem sua eficácia
garantida porque tal discurso funciona contraditoriamente como evidência, consenso
e verdade a ser ensinada; silencia os agentes e os processos de exploração do
capital, produzindo o consenso no interior das contradições e operando uma gestão
da polêmica no interior do campo político; fundamenta-se na moral, subjetivando a
pobreza; produz uma erosão de identidades coletivas de resistência; deslegitima
politicamente os grupos organizados e os sujeitos individualizados em sua luta
contra as desigualdades; e subjetiva o pobre como sujeito econômico em uma
dimensão passiva.
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