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Fatores Meteorológicos, Oceanográficos, Morfodinâmicos, Geológicos e Urbanos relacionados à Incidência de Afogamentos nas Praias da Costa Atlântica de SalvadorCarvalho, Mário Pereira de 12 1900 (has links)
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Refra-Corr-157.pdf: 5812615 bytes, checksum: 282dc7c66e321c87902c1adb2ddbd58b (MD5) / A segurança do banho de mar na cidade de Salvador, como em qualquer outra
grande cidade tropical costeira, onde a freqüência de banhistas é elevada, é sempre
preocupante. Números conservadores, fornecidos pelo órgão de salva-vidas local,
indicam que são registrados, em média, por ano, 1.586 acidentes na costa atlântica,
sendo que este total deve ser cerca de 20% maior, uma vez que nem todas as
ocorrências são registradas, a julgar pelo entendimento dos próprios salva-vidas. A
maioria dos acidentados é composta por jovens com idades que variam entre 5 e 18 anos.
Felizmente, o patrulhamento exercido, principalmente pela Coordenadoria de
Salvamentos Marítimos da Prefeitura de Salvador (SALVAMAR) e também pelo Corpo de
Bombeiros do Estado da Bahia, resulta em um índice de óbitos de apenas 1%. Embora
pareça pequeno, na cidade de Sydney (Austrália), este índice é ainda menor, ou seja,
cerca de 0,5%.
A análise de 10.697 operações de salvamento, realizadas entre os anos de 1994 e
2000, na costa atlântica da cidade de Salvador, acrescida dos depoimentos dos salvavidas,
mostram três fatos bem marcantes: 1) as correntes de retorno são responsáveis
por cerca de 70% dos acidentes, 2) aproximadamente 77% dos acidentes ocorrem em
praias do estágio morfodinâmico Intermediário, 3) cerca de 43% dos acidentes ocorrem
durante a primavera.
O fato de as correntes de retorno serem as responsáveis diretas pela maior parte
dos acidentes não surpreende e é bem conhecido em diversas cidades do mundo, como
no Rio de Janeiro, Florianópolis, San Diego, Miami, Sidney, etc, e está documentado, por
exemplo, pelos serviços de salva-vidas dos Estados Unidos e Austrália (United States
Lifesaving Association & Surf Life Saving).
Também já era esperado que a maior parte dos acidentes acontecessem em praias
do estágio morfodinâmico Intermediário, uma vez que nestas são desenvolvidas as
condições propícias à geração das correntes de retorno, como será abordado adiante
O fato que surpreende é a concentração de acidentes na primavera, já que durante
o verão é que são registradas as maiores taxas de freqüência pública das praias.
A análise de uma série de fatores meteorológicos, oceanográficos, morfodinâmicos
praiais, geológicos e urbanos, relativos à costa atlântica de Salvador, permite estabelecer
uma série de relações de causa e efeito que explicam estas concentrações verificadas. O
papel das correntes de retorno nos acidentes é muito óbvio, uma vez que se trata de um fluxo, na maioria das vezes de velocidade elevada, que transporta o banhista da praia
para o mar e que geralmente é difícil de ser detectado por este.
Por sua vez, a alta concentração de acidentes que é registrada nas praias do
estágio morfodinâmico Intermediário pode ser explicada basicamente pelos seguintes
fatores: 1) o perfil marcadamente ondulado da zona de surfe, típico deste estágio praial,
com a formação de canais, bancos e depressões circulares, favorece o desenvolvimento
de correntes de retorno e cria fatores de risco isolados, neste caso os canais e as
depressões; 2) a existência de um amplo espaço subaéreo, formado sobretudo no berma
e na zona de espraiamento, é capaz de acomodar um elevado número de banhistas; 3) as
ondas predominantemente do tipo deslizante, que quebram progressivamente, sem
causar grandes impactos, encorajam o banhista a penetrar na zona de surfe, expondo-se
aos seus riscos inerentes.
Em relação à primavera, ainda em comparação ao verão, a conjunção de quatro
fatores ambientais explica a alta concentração de acidentes: 1) é demonstrado, pelos
dados relativos à altura e período das ondas, conjugados às direções predominantes dos
ventos oceânicos ao longo do ano, que a média da altura das ondas verificadas durante a
primavera é, no mínimo, cerca de 10% maior do que esta média verificada durante o
verão, e por conseqüência, a velocidade das correntes geradas dentro da zona de surfe
também é mais elevada; 2) os ventos costeiros, que muitas vezes aceleram as correntes
e sobreelevam a altura das ondas, também são cerca de 17% mais velozes durante a
primavera; 3) em função desta hidrodinâmica mais forte, e também por herança das fortes
ondas do inverno, o perfil da zona de surfe torna-se mais ondulado, com a formação
freqüente de canais, bancos e depressões circulares, o que favorece o desenvolvimento
de correntes de retorno e de fatores de risco isolados; 4) é verificado também que a
amplitude média das marés é cerca de 8% superior.
Outros fatores, de natureza sedimentológica, geológica e urbana, ainda que de
forma indireta, também contribuem para a ocorrência dos acidentes, como a
granulometria fina da areia de determinadas praias, que, ao produzir um piso bem
compactado, favorece a prática de esportes e torna o ato de caminhar mais agradável,
atraindo um grande número de banhistas. Da mesma forma o controle tectônico, que, ao
determinar a direção da linha de costa, faz com que determinados segmentos fiquem,
durante uma significativa parte do tempo, parcialmente abrigados contra a ação das
ondas, enquanto que outros fiquem frontalmente expostos a estas. Por fim, fatores de
natureza urbana, como os índices de poluição orgânica das praias, as condições de acesso para pedestres e para veículos, as opções de lazer de cada praia, etc, são fatores
que influenciam diretamente nas taxas de ocupação das praias por parte dos banhistas,
acabando por refletir nos índices de acidentes. / ABSTRACT
The safety of sea bathing in the city of Salvador – Bahia - Brazil, as in any other
large coastal tropical city, where the bathers’ frequency always is raised, is preoccupying.
Conservative figures, supplied by the local surf life saving agency, indicate that about
1,586 drowning accidents are registered per year in the atlantic coast, and this total must
be about 20% greater, once not all the occurrences are reported. The majority of the
victims is young varying between five and eighteen years old. Happily, the exerted
patrolling, mainly by the Coordenadoria de Salvamentos Marítimos de Salvador –
SALVAMAR – (Coordination of Surf Life Saving of Salvador) and also by the Corpo de
Bombeiros do Estado da Bahia (Firemen Group of the State of Bahia), results in an
death’s rate of 1%. Although it seems small, in the city of Sydney (Australia), this index is
only about 0,5%.
The analysis of 10,697 rescue operations, carried through between the years of
1994 and 2000, in the atlantic coast of Salvador, supported by the life-guard observations,
shows three well defined points: 1) the rip currents are responsible for about 70% of the
accidents, 2) approximately 77% of the accidents occur in the intermediate beach state, 3)
about 43% of the accidents occur during the spring.
The fact of the rip currents is directly responsible for the mostly of the accidents is
not a surprise and it is well known in many cities of the world, as in Rio de Janeiro and
Florianópolis (Brazil), San Diego and Miami (USA), Sidney (Australia), etc, and this is
registered by the surf life saving services of the United States and Australia (United States
Lifesaving Association & Surf Life Saving), for example. Also it is already expected that
most of the accidents happened in intermediate beach state, because the propitious
conditions to the generation of rip currents, as it will be described ahead. The fact that
surprises is the concentration of accidents in the spring time, since during the summer the
maximum public frequency at the beaches is recorded.
The analysis of meteorological, oceanographical, beach morphodynamics,
geological and urban data, relative to the atlantic coast of Salvador, allows to establish a
series of cause and effect relationships that could explain these verified concentrations.
The rule of rip currents in the accidents is very obvious, once it is represented by a rapid
speed flow, that pushes the swimmer from the beach to the sea, and that it is generally
difficult of being realized by them. In turn, the high accidents’ concentration that is
registered in Intermediate beach state can be explained basically by the following factors: 1) the rough surf zone profile, typical of this beach state, with the formation of bars,
troughs and depressions, favors the rip current development and creates isolated factors
of risk, in this case the troughs and depressions; 2) the occurrence of an ample aerial
space, formed over all in the berm and the swash zone, is capable to accomodate a high
number of swimmers; 3) the predominant spilling waves type, which breaks progressively,
with no heavy impact, encourages the swimmer to enter the surf zone.
In relation to the spring, still in comparison with the summer, the conjunction of four
ambient factors explains the high concentration of accidents: 1) it is demonstrated, for the
height and period wave data, conjugated to the predominant oceanic winds directions
through the year, that the mean wave height is about 10% higher in the spring than in the
summer, and in consequence, the speed of wave-generated currents in the surf zone also
are higher; 2) the coastal winds, that many times speed up the currents, also are about
17% faster during the spring (Instituto Nacional de Meteorologia – INMET - National
Meteorology Institute); 3) by this stronger hydrodynamics, and by the inheritance of the
strong winter waves, the surf zone profile becomes more waved shape, with the formation
of bars, troughs and depressions, which favors the rip currents development and others
isolated risk factors; 4) at last, the mean amplitude tide is about 8% larger.
Other indirect factors, of sedimentological, geological and urban nature, also
contribute for the drowning occurrence, as the fine sand granulometry of certain beaches,
that produces a well compact floor, favors the sports practical and becomes the act to walk
more pleasant, attracting then a great number of swimmers. The different directions of the
shoreline, determined by tectonic control, produces some segments that are, during a
significative part of the year, partially sheltered against the waves action, while others are
directly exposed to these. Finally, factors of urban nature, like the organic pollution indices
of the beaches, the access conditions for pedestrians and vehicles, the leisure options of
each beach, etc, are factors that directly influence the swimmers occupation of beaches,
reflecting in the indices of accidents.
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