Pode a direção de uma escola de Educação Infantil criar um espaço de escuta psicanalítica com a equipe pedagógica, visando desconstruir as visões estereotipadas de criança-problema de modo que cada criança possa ser considerada como um sujeito, ou seja, um enigma que nunca chega a ser solucionado? Essa é a questão que guia este trabalho. Afinal, que criança é essa? Esta pesquisa busca problematizar as diferentes concepções de infância e de educação escolar, explicitando como a criança vem sendo continuamente considerada pela Pedagogia, desde a implantação da educação infantil no mundo ocidental e no Brasil, como um ser natural, biológico ou social passível de ser entendido e conhecido integralmente, com auxílio de outras disciplinas como a Medicina e a Psicologia. Por outro lado, a Psicanálise explicita que, no encontro entre adulto e criança, há uma rachadura por onde se revela o impossível de saber, de controlar, de educar. O mal-estar gerado nesse (des)encontro, principalmente quando se tratam de crianças que não se encaixam nos moldes ideais, vem gerando diversas metodologias e iniciativas educacionais. Algumas reflexões sobre Psicanálise e Educação são retomadas, passando pelos principais psicanalistas que se dedicaram de alguma forma a questões da infância, com especial foco nas práticas de educação psicanaliticamente orientadas. A Psicanálise no Brasil é revista em sua trajetória, com forte influência no campo da Educação, inicialmente com abordagem higienista e culminando com questionamentos da atualidade. As estruturas discursivas lacanianas e os registros simbólico, imaginário e real são conceitos fundamentais para essa leitura de Psicanálise e Educação. A origem da concepção de criança-problema está situada no centro dos primeiros efeitos da Psicanálise na educação brasileira e se desdobra em nomenclaturas e classificações variadas, que atuam mais na segregação e na exclusão das crianças do que em seu processo de inclusão. Como a criança que apresenta problemas na sua escolarização é tomada pelo adulto educador é o principal elemento da discussão sobre a Educação Inclusiva, que analisa desde o próprio conceito de inclusão, o cenário brasileiro e algumas questões específicas da inclusão na Educação Infantil. Nessa perspectiva, a dissertação se direciona para a figura do professor e apresenta algumas possibilidades de formação continuada ou supervisão, como laboratórios de conversação e reuniões de suporte à inclusão, que podem ajudar a pensar nos encaminhamentos e escolhas da direção de uma escola. A experiência profissional desta pesquisadora é trazida em cena para interrogar os efeitos da Psicanálise na gestão escolar e na própria metodologia da pesquisa, além da descrição e análise de uma prática realizada em reuniões de professores para discussão de caso. Nesse modelo de reunião, os professores podem falar livremente, já que não há a intenção de se chegar a um entendimento, um esclarecimento e/ou a prescrições práticas, mas sim a uma implicação subjetiva a partir dos furos do saber. O objetivo é refletir se esse espaço de não-saber pode ser sustentado por uma escuta psicanalítica, mesmo por intermédio da figura da direção, agenciadora do discurso do Mestre. Dado o caráter desta dissertação, não há como apresentar conclusões fechadas, mas sim, abrir caminhos para práticas em educação que sigam em direção a uma ética do sujeito, considerando educadores e crianças como seres de linguagem, irremediavelmente incompletos e com uma face enigmática irredutível a qualquer rótulo diagnóstico. / Is it possible for the board of a nursery school/preschool to adopt psychoanalytic listening with the pedagogical team, aiming at deconstructing the stereotyped views of the problem child in such a way that each child may be considered as a subject, i.e. a puzzle that never gets to be solved? That\'s the question that guides this essay. After all, what child is that? This research tries to analyze the different concepts of childhood and school education, showing how children have been continuously considered by Pedagogy, since the implementation of nursery school and preschool education in the Western world and in Brazil, as a natural, biological or social being which may be fully understood and known with the help of other disciplines, such as Medicine and Psychology. On the other hand, Psychoanalysis shows that, when the child and the adult meet, there\'s a gap through which is revealed the impossibility of knowing, controlling, educating. The discomfort created in this (mis)match, especially when we are dealing with children that do not fit the ideal standards, has generated several methodologies and educational initiatives. Some reflections on Psychoanalysis and Education are made, with special emphasis on the practices of psychoanalytical oriented education and references to the major psychoanalysts who dedicated themselves somehow to childhood issues. The evolution of Psychoanalysis in Brazil is reviewed, considering its strong influence in Education, at first with a Hygienist approach, and concluding with present issues. The Lacanian discursive structures and the Symbolic, Imaginary and Real registers are fundamental concepts for this view on Psychoanalysis and Education. The origin of the concept of a problem child is situated in the heart of the first effects of Psychoanalysis in Brazilian Education and unfolds in several naming and classification systems, which act more towards segregation and exclusion of the kids than for their inclusion. How the child that shows problems in their schooling process is considered by their adult educator is the key element in the discussion about inclusive education, which analyzes the concept of inclusion itself, the Brazilian scenario and some specific issues concerning inclusion in nursery schools/preschool education. From this point of view, the essay discusses the teacher figure and presents some possibilities for continued training or supervision, such as conversation labs and meetings to support inclusion, which can help to think about the choices and decisions made by the school board. The researchers professional experience is called upon to question the effects of Psychoanalysis in school management and in the research method itself, besides describing and analyzing a practice carried out in teachers meetings for case studies. In this kind of meeting, teachers can speak openly, since there\'s no intention to reach understanding, clarification and/or practical prescriptions, but rather subjective implications from the holes in knowledge. The aim is to ponder whether this notknowing space can be sustained by psychoanalytic listening, even if carried out by the board, representing the Masters discourse. Due to the characteristics of this essay, it is not possible to present firm conclusions, but rather to open paths for education practices that follow towards the ethics of the subject, considering educators and children as language beings, hopelessly incomplete and with an enigmatic face that cannot be reduced to any diagnostic label.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-04112013-112230 |
Date | 24 September 2013 |
Creators | Rezende, Tânia Maria Asturiano de Campos |
Contributors | Mrech, Leny Magalhaes |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Dissertação de Mestrado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
Page generated in 0.0028 seconds