Este é um estudo qualitativo sobre o sofrimento psíquico de familiares de mortos pela polícia militar em situações conhecidas como resistência seguida de morte, desenvol-vido a partir da uma experiência de escuta de duas famílias, cujos filhos ou irmãos fo-ram mortos no município de São Paulo. A partir de um método de coleta de dados inspi-rado na psicanálise de Sandor Ferenczi e em sua teoria do trauma, para quem o não re-conhecimento da violência e do sujeito em sua singularidade são centrais para a experi-ência traumática, discute-se como a relação entre esses sujeitos e o sistema de justiça criminal é determinante para a compreensão das consequências psíquicas dessas mortes. São componentes dessa relação tanto o tratamento com o qual os operadores do direito conferem a esses familiares (discriminatório, via de regra), bem como as decisões ope-radas por esse sistema, cujo aspecto principal é operar uma série de negações nega-se o homicídio, nega-se a vítima e seu sofrimento que foram aproximadas nesse estudo ao desmentido de Ferenczi. Discute-se como a sujeição criminal, ou criminalização de determinados sujeitos sociais, é a lógica que subjaz tanto as mortes perpetradas pela polícia, como a forma como os familiares dos mortos serão tratados pelo sistema de justiça criminal: são eles mesmos tornados criminais. Esses familiares se veem tão des-protegidos, tão desrespeitados em seus direitos mais fundamentais, quanto aqueles que efetivamente morreram pelas mãos das forças de segurança. Uma abordagem psicológi-ca dessas mortes revela que uma ampla gama de atores para além da polícia desempe-nham um papel fundamental no sofrimento psíquico que tais mortes produzem / This is a qualitative study of the traumatic experiences of indirect victims of police kill-ings in situations described as resistance followed by death in the city of Sao Paulo. Two families exposed to these violent deaths were interviewed following a method in-spired by the theory of trauma developed by Sandor Ferenczi, who defines the center of the traumatic experience as the social denial of violence suffered. This study argues that the relationship between the victims and the criminal justice system is crucial to under-standing the harmful psychological consequences of these experiences. Both the dis-criminatory treatment to which these individuals are subjected by law enforcement of-ficers and criminal justice authorities, and the decisions made by the criminal justice system are relevant components of this relationship. It discusses how the logic by which the criminal justice system responds to the claims and needs of indirect victims could be approximated to the logic that underlies the legitimization of the homicides committed by the police forces in Brazil -- criminal subjection --, which, in turn, can be related to Ferenczi´s theory of trauma. Considered just as criminals as their dead relatives, the indirect victims find themselves unprotected by the criminal justice system and forced to bear witness to the violation of their most fundamental rights, resulting in long lasting suffering. A psychological approach to the homicides committed by police reveals a wide range of actors outside of the police forces also responsible for the damages caused by these deaths
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-01092017-104250 |
Date | 13 June 2017 |
Creators | Lagatta, Pedro |
Contributors | Endo, Paulo César |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Dissertação de Mestrado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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