[pt] Esta pesquisa tem como objetivo realizar um estudo sobre o universo
simbólico do design gráfico vernacular, compreendido como o campo de
produção de bens simbólicos relacionado à produção de material gráfico por
indivíduos pertencentes a espaços sociais economicamente desfavorecidos. O
trabalho tem como enfoque o modo como as estruturas sociais operam a criação
da dimensão imaginária ou do universo simbólico, que vem a ser o chão das
representações sociais. A pesquisa parte do princípio de que realidades sociais
distintas refletem-se na produção, no consumo e na legitimação de bens, sejam
eles materiais ou simbólicos, bem como no julgamento de valor desses bens e
dessas práticas. Consideramos, portanto, que as hierarquias e classificações
inscritas em objetos, produtos culturais, instituições, linguagens, assim como os
julgamentos e veredictos impostos pelas instituições designadas para esses
propósitos, expressam as diferentes condições sociais de existência. Assim, o
valor estético de uma peça de design gráfico não seria determinado por qualidades
objetivas ou formais do próprio objeto. Do mesmo modo, esse valor não seria
determinado por critérios de natureza subjetiva, tal como definiu Kant.
Consideramos, então, que o valor estético de uma peça gráfica pode ser
encontrado com base na estrutura social que permeia sua criação, seu uso e sua
avaliação, ou seja, a partir do uso social que se faz dela, e não pelo objeto em si. A
análise da forma de produção de pensamento dos grupos sociais apresentada, ou
seja, o modo como eles operam a construção de seus simbolismos, parte do
princípio de que a norma culta concentra-se na forma, em uma dimensão mais
abstrata, ao passo que as classes populares possuem a tendência a enfatizar uma
configuração mais concreta. A partir da observação e análise de um conjunto de
letreiros pintados à mão, filipetas e embalagens impressas populares, foi verificado
como a opção pela objetividade reflete-se nas construções formais do design gráfico
vernacular, constituindo uma das características mais marcantes de sua linguagem
visual. Observou-se, então, a existência de um padrão na construção das
representações visuais deste grupo, reflexo simbólico das similaridades das
condições de existência de seus integrantes, e se analisou o que padroniza ou cria
um estilo para esta linguagem. Considerando que existem relações de
circularidade constantes entre os campos de produção do design gráfico
vernacular e oficial, foram analisadas quais seriam as principais formas de
interação entre eles e como estas ocorrem. A partir da existência de diferentes
processos de hibridação entre esses grupos, examinamos em que medida esses
campos podem se mesclar originando outros grupos e produções que combinam
aspectos de ambos os grupos originais. Além disso, foi realizada uma análise do
uso da linguagem popular fora de seu contexto original e do modo como seus
elementos visuais podem ser reinterpretados e ressignificados pelo campo oficial.
Analisamos, também, como o popular, apesar de não corresponder aos valores
da cultura hegemônica, frequentemente assume o valor simbólico de
representação de identidade nacional e verificamos as possibilidades de
legitimação desta produção. / [en] This research aims to conduct a study on the symbolic field of vernacular
graphic design, which can be comprehended as the field of production of
symbolic goods related to the production of graphical material by individuals
belonging to the economically disadvantaged social groups. The work emphasizes
the way how social structures operate the creation of an imaginary dimension or
symbolic space, which happens to be the ground of social representations. The
research takes as principle the fact that the production, consumption and
legitimization of goods, whether are they material or symbolic, as well as on the
judgments of value of those goods and these practices, are a reflection of different
social realities. We, therefore, believe that the hierarchies and classifications
inscribed into objects, cultural products, institutions, languages, as well as
evaluations and verdicts imposed by designated institutions for those purposes,
express the different social conditions of existence. Thereby, the aesthetic value of
a piece of graphic design would be determined not by objective or formal qualities
of the object itself. Likewise, that value would not be determined by rules of
subjective nature as Kant defined. We believe that the aesthetic value of a
graphical piece can be found considering the social structure used in its creation,
its use, and its evaluation, in other words, the evaluation would be made from the
social usage of that object rather than the object itself. The analysis of the way of
thought production of the social groups presented here, that is, how they do
operate the construction of their symbolism, arises from the principle that the
cultivated rules focuses on the form, and in a more abstract dimension, while the
lower classes have the tendency to emphasize a more concrete configuration.
From the observation and analysis of a set of hand painted signs, popular flyers
and printed packages it was found out that the option for objectivity is reflected in
the formal constructions of vernacular graphic design, establishing one of the most
significant characteristics of its visual language. It was observed, then, the existence
of a pattern in the construction of visual representations of that group, a symbolic
reflection of similar conditions of existence of their components. It was also
analyzed the factors that standardize or create a style for that language.
Having in mind the frequent relations of circularity between the fields of
vernacular and institutionalized graphic design production, there were considered
what would be the main forms of interaction between them and the way they
occur. From the existence of different hybrid processes among those groups, we
looked over to what extension those fields can be mingled and originate new
groups and productions blending characteristics of both original groups. In
addition to that, it was made an analysis of the use of popular language outside its
original context and how their visual elements can be reinterpreted and reviewed
by official design field. We have studied how the popular often takes the
symbolic value of representing the national identity, despite of not corresponding
to the values of the hegemonic culture and it was also examined the possibilities
of legitimization of that production.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:15975 |
Date | 27 July 2010 |
Creators | FERNANDA DE ABREU CARDOSO |
Contributors | ALBERTO CIPINIUK |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
Page generated in 0.0038 seconds