[pt] Este trabalho tem por objeto central as formas de resistência que os adeptos das religiões de matrizes africanas utilizam para enfrentar atos de discriminação religiosa, através do resgate de memórias subterrâneas transformadas em memória coletiva. O que se assume é que a construção desta memória coletiva se fundamenta em experiências compartilhadas no terreiro, a partir da ressignificação das memórias subterrâneas individuais. O objetivo central deste estudo é conhecer e descrever estas estratégias de resistência no ambiente escolar, como uma contribuição à luta pela defesa do direito à liberdade religiosa no Brasil. Adicionalmente, este trabalho descreve os atos de intolerância religiosa narrados pelos colaboradores da pesquisa e identifica as principais redes de proteção e solidariedade por eles apontadas como referências para a resistência. O que se deseja é contribuir com o debate sobre intolerância religiosa nas Ciências Sociais e, particularmente, no Serviço Social, além de corroborar o processo de afirmação da identidade positiva dos adeptos de religiões de matrizes africanas. Em termos metodológicos, este estudo está construído como uma investigação daquelas estratégias, a partir dos testemunhos de oito colaboradores da pesquisa empírica, frequentadores do Centro Espírita Casa do Perdão e do Templo Espírita Caboclo Flecheiro. Estes são templos de umbanda localizados, respectivamente, na Zona Oeste e na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Os colaboradores foram entendidos como coautores deste estudo, na medida em que dos seus relatos de experiências de intolerância religiosa vividas na escola foram extraídos não apenas informações, mas também percepções e interpretações. A seleção dos colaboradores se deu a partir de indicações do líder religioso de cada templo, contemplando os seguintes critérios: pertença na Umbanda desde a infância e variedade nos papéis sociais dos colaboradores, a fim de compreender como o fenômeno da intolerância religiosa se apresenta diante de diferentes particularidades e contextos. Os testemunhos, disparados pela reação à negação indutiva Os adeptos da Umbanda não sofrem discriminação na escola. Você concorda?, oferecem uma série de narrativas sobre vivências de intolerância religiosa, tanto no ambiente escolar, como em outros âmbitos, tais como: vias públicas, mercado, espaço familiar e mercado de trabalho. As principais estratégias de resistência identificadas contemplam uma variedade de opções: desde a afirmação pública de orgulho e apego profundos aos seus preceitos e concepções religiosas; passando pela omissão (silenciamento e invisibilização) como forma de autoproteção, chegando ao enfrentamento aberto e direto. Importa salientar que a pesquisa observou a realidade de dois terreiros que apresentam características comuns, tais como, possuir uma organização política, religiosa e social que embasam a formação de seus adeptos para perceber, interpretar e combater atos intolerância religiosa. Este posicionamento permite fortalecer o sentimento religioso e, a partir da convivência social e política coletiva, possibilita a emersão de memórias de atos discriminatórios, transformando-as em base da luta social ou em acolhimento espiritual. Nesse sentido, compreende-se que os terreiros analisados, sendo associados a movimentos sociais e políticos, são grandes referências no processo de construção de resistência social. / [en] The main object of this dissertation is the range of strategies of resistance that members of African matrix religions use to face acts of religious discrimination through the revival of underground memories that are transformed into a collective memory. It is assumed that the creation of this collective memory is based on the shared experiences in the terreiro through the re-signification of the individual underground memories. The objective of this research is to reveal and describe these resistance strategies in the school environment as a form of contribution to the struggle for religious freedom rights in Brazil. Furthermore, within this dissertation, research subjects narrate acts of religious intolerance and identify the main networks of protection and solidarity used by them, highlighted as references of resistance. The attempt is to contribute to the debate about religious intolerance in the Social Sciences, particularly Social Work, besides reinforcing the process of statement of positive identity of the members of African matrix religions. In terms of procedures, this research is built on investigation of such strategies, based on the testimonies of eight subjects of the field research who are members of the Centro Espírita Casa do Perdão and the Templo Espírita Caboclo Flecheiro. These are Umbanda temples located in the Zona Oeste and the Zona Norte of the city of Rio de Janeiro, respectively. The subjects are considered coauthors of this research to the extent that not only information, but also perceptions and interpretations, were extracted from their testimonies of experiences of religious intolerance in the school. The selection of these subjects was carried out base on the appointments of the religious leader of each temple, taking into consideration the following criteria: to be an Umbanda member since childhood and to result in a variety of social rolls between the subjects. This was necessary in order to understand how religious intolerance presents itself in different settings. The testimonials were triggered by the denial of the existence of discrimination through the question: Umbanda members do not suffer discrimination in school, would you agree? The answers offer a variety of narratives about religious intolerance in the school, as well as in other social spaces, such as: public spaces, marketplaces, family relations and the job market. The main resistance strategies that are identified cover a range of behaviors: from public display of pride and deep attachment to the religious precepts and conceptions, to omission (silencing and concealment) as a form of self-protection, to open and direct confrontation. It is worth noting that the research took into consideration two terreiros that display a common characteristic: having a social, religious and political organization that is the basis for the training of its members to perceive, interpret and combat acts of religious intolerance. This perspective strengthens the sense of religious belonging and, through a collective social and political experience, creates the environment for the memory of acts of discrimination to be revealed and to become the foundation of the social struggle or spiritual refuge. Therefore, these terreiros, that are centers of social and political movements, are understood as important references in the process of the construction of social resistance.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:24167 |
Date | 02 March 2015 |
Creators | RACHEL DE SOUZA DA COSTA E OLIVEIRA |
Contributors | DENISE PINI ROSALEM DA FONSECA, DENISE PINI ROSALEM DA FONSECA |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | TEXTO |
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