[pt] Este estudo persegue uma ideia de leitura como mutação apresentada por Maria Gabriela Llansol em muitos dos seus textos, especialmente em Contos do Mal Errante (1986), Um Beijo Dado Mais Tarde (1990) e Parasceve, puzzles e ironias (2001). Persegue, ainda, uma pergunta sobre como a leitura, que para
Llansol é um modo de escrita, pode provocar essa mutação, entendendo esse conceito como dissolução e morte, a partir do encontro de Llansol com o frade dominicano Giordano Bruno. A tese delimita seu campo de movimentação a partir de um recorte entre as noções de Llansol sobre o amor e o ruah, palavra sua para o sopro que anima a vida e que está presente com sua força sobretudo na infância. Em Contos do Mal Errante (1986) o amor é ímpar, de três figuras que vivem numa mansão situada no Litoral do Mundo (título de sua segunda trilogia). Este livro é uma dobra no percurso de sua escrita até então, situando a volta de Llansol para Portugal (depois de um autoexílio de 20 anos na Bélgica). O amor é a força que move o mundo, não numa perspectiva apenas do encontro, mas também da radicalidade que desestabiliza o é assim porque assim é, que instaura uma brecha nas ordens e no estabelecido, pedindo/oferecendo um pensamento despojado, disponível para a mutação. Em Um Beijo Dado Mais Tarde esses gestos se
explicitam a partir da estátua de Santa Ana ensinando Maria a ler, estátua que se movimenta como o pensamento enquanto se decepa, passando a existir como Sant Ana e Myriam. Em Parasceve, um dos seus últimos livros publicados em vida, Llansol apresenta figuras sem nome (a mulher, Alguém-texto, Alguémuniverso, criança-ruah) que perscrutam e experimentam o ruah no aprendizado que habita a dispersão da existência, depois e com a decepação. As imagens de Llansol em sua escrita habitam a interlocução do pensamento e o texto, se posicionando num embate frontal e ativo em relação à formação do continente europeu e sua herança judaico-cristã, no/com/pelo texto. Tais imagens são companheiras de Llansol num questionamento e numa revisão dessa cultura e do enrijecimento que ela instaura, subjugando o possível. Nesse sentido, a escrita de Llansol é, para esta tese, um enfrentamento pela leitura e com a leitura, perscrutando a expanção da linguagem e as possibilidades da existência em sua formulação no pensamento. / [en] This study investigates reading as a mutational act and inquires how reading - being also a way of writing - provokes mutations. Reading presented as a mutation appears in many of Maria Gabriela Llansol s writings. Also, according to her perception of the Dominican friar Giordano Bruno s writings, mutation is death, understood as a dissolution. The dissertation s field of analysis ranges between love and ruah - Llansol s word for the breath that animates life, mainly present and active in childhood. Two of her more than thirty books, published in life and posthumously, engage in a dialogue with this research: Contos do Mal
Errante (1986), and Parasceve, puzzles e ironias (2001). The first one happens around Llansol s return to Portugal, after a 20-year self-exile in Belgium. In that book, a unique love between three figures caused a bend in her writing. As for the second one, it is one of her last works published in life. In it, figures lose their names and, with the ruah, dive into the dispersion of existence. LLansol claims that love is a strength and moves the world in a non-romantic way. It causes loopholes in the order and the establishment; it calls for a complete detachment from rules and creates an open body available for mutation. The images built by
her converse with philosophy, and the author perceives children as ruah s carriers. In Parasceve, the children operate their body movement as a movement of thought. In order to communicate with this process, the concepts of sever (Jean-Luc Nancy) and nudity of thought (Maria Gabriela Llansol) became necessary for this study. Consequently, Um Beijo Dado Mais Tarde, from 1990, is another of
Llansol s book significant for this investigation. In it, the statue of Sant Ana teaching Mary to read experiments many changes and presents itself as Sant Ana and Myriam, another woman who accompanies Témia, the girl who feared the imposture of the tongue. The three figures dismantle by the author are concepts of Judeo-Christian culture about the formation of the European continent; they are Llansol s companions in a quest and a revisitation, through the text and with the text, of that culture and the stiffening it establishes, subduing the possible in the face of what is so because it is so. In this sense, Llansol s writing is, for this dissertation, a possible confrontation by reading and with reading, expanding
language, and the possibilities of existence.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:49570 |
Date | 23 September 2020 |
Creators | JULIA DE CARVALHO MELO LOPES |
Contributors | ALEXANDRE MONTAURY BAPTISTA COUTINHO |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | TEXTO |
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