[pt] Empreendemos, nesta pesquisa, um estudo crítico-analítico de seleto corpus
de poemas extraídos das obras de dois autores da atual poesia brasileira: Eucanaã
Ferraz e Davino Ribeiro de Sena. Partimos da premissa de que suas obras ilustram
uma vertente sintetizadora das demais linhas de força da poesia brasileira contemporânea — tradição, ruptura e vitalidade — conforme põe em xeque as polarizações legadas pela leitura unívoca do lírico e do moderno dominante durante grande
parte do século XX. Essa recusa da univocidade — evidenciada pela tensa conjugação de procedimentos historicamente antagonizados — impele esses poetas a se
reportarem a diversos cânones, sobretudo à tradição modernista, o que faz dessa
síntese não só sincrônica, da diversa cena contemporânea, senão ainda diacrônica,
já que se constitui como um compósito de tradições. Nessa revisitação, deslindam-se descontinuidades, sentidos imprevistos nas leituras canonizadas, reanimando o
potencial crítico amiúde atribuído à poesia moderna. Porquanto tais antagonismos
derivam, sobretudo, do cisma entre lirismo e antilirismo, impôs-se como conceito
medular deste estudo o lírico — não apesar da sua anacronia, mas justo em virtude
dela. Esse gênero, frequentemente tomado como resquício de uma temporalidade
primitiva, marcada por encantamento do mundo e antropomorfismo, e, portanto,
inadequado à modernidade cética e secular, prova-se uma excepcional via rumo a
uma noção de contemporâneo menos constrangida pelas evidências da hora histórica. Esse caráter anacrônico traz à baila conceitos como heterogeneidade, inter-textualidade, sublime, expansão e crise, todos eles imprescindíveis à compreensão
dessa safra da atual poesia brasileira. A um só tempo, reconhecendo que todo estudo empírico envolve uma série de conceitos que requerem perscrutação a fim de
se evitar as armadilhas dos termos tradicionais que obnubilam seus objetos com o
tempo, buscamos traçar, no primeiro capítulo, uma breve genealogia das genologias, em especial do gênero lírico, desde a sua irrupção moderna com a tripartição
pseudoaristotélica, passando pela crítica pós-lírica — cuja maior expressão no
Brasil é a noção de poesia de inspiração cabralino-concretista — até a noção a que
chamamos contemporânea, a partir das teorias de Michel Collot e Jonathan Culler. / [en] In this research, we undertake a critical-analytical study of a select corpus of poems written by two contemporary Brazilian poets: Eucanaã Ferraz and Davino Ribeiro de Sena. We work on the premise that their poetry illustrates a trend that synthesizes all the other thrusts of current Brazilian poetry — tradition, rupture,and vitality — by questioning the polarizations bequeathed by the univocal accountof the lyric and the modern which prevailed for much of the 20th century. This refusal of univocity, made evident by the tense conjugation of historically antagonized procedures, pushes these poets to revisit canons, especially the modernist tradition, which makes this synthesis not only synchronic of the diverse contemporary scene, but also diachronic, as it constitutes a composite of diverse traditions. In this revision, discontinuities and meanings unforeseen in the canonized readingsare unveiled, reviving the critical potential often attributed to modern poetry. Since these antagonisms derive, above all, from the schism between lyric and anti-lyric, the lyric imposes itself as the core concept of this study — not despite its anachronism, but precisely thanks to it. This genre, often seen as a remnant of a primitivetemporality, marked by enchantment of the world and anthropomorphism, and therefore unsuited to skeptical and secular modernity, proves to be an exceptional route towards a notion of the contemporary less constrained by the evidence of the historical time. This anachronistic character brings up concepts such as heterogeneity, intertextuality, the sublime, expansion and crisis, all of which are essential to understanding this crop of current Brazilian poetry. At the same time, recognizing that every empirical study involves a series of concepts that require scrutiny in order to avoid the pitfalls of traditional terms that eventually obfuscate their objects, in the first chapter we try to sketch a brief genealogy of genologies, especially of the lyric genre, from its modern irruption with the pseudo-Aristotelian tripartition, through post-lyric critique — whose greatest expression in Brazil is the notion of poetry identified with João Cabral and the concretists — to the contemporary conception drawn up, above all, from the theories of Michel Collot and Jonathan Culler.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:67302 |
Date | 11 July 2024 |
Creators | ERICK MONTEIRO MORAES |
Contributors | PAULO FERNANDO HENRIQUES BRITTO |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
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