O consumo abusivo de álcool e os acidentes de trânsito (AT) são considerados problemas de saúde pública, sendo que, anualmente, causam a morte de 2,5 e 1,2 milhões de pessoas, respectivamente, em todo o mundo. A densidade de pontos de consumo de álcool (Alcohol Outlets - AO) vem sendo relacionada ao comportamento de beber e dirigir (Drive Under Influence - DUI), e este é fator de risco importante para AT. Contudo, essa associação permanece controversa na literatura internacional e não há no Brasil estudos que a tenham avaliado. Esta tese compreende três estudos distintos, apresentados em quatro artigos científicos, e tem como objetivo geral avaliar a associação entre a disponibilidade física de bebidas alcoólicas e o comportamento de beber e dirigir na cidade de Porto Alegre. Considerando a escassez de dados nacionais na área, os dois primeiros estudos (“Geoprocessamento e análise espacial de acidentes de trânsito e pontos de consumo de bebidas alcoólicas em Porto Alegre” e “Prevalência de alcoolemia positiva em vítimas de acidente de trânsito atendidas em emergências de Porto Alegre”) foram necessários para estabelecer os parâmetros do último, um inquérito para avaliar a prevalência DUI entre motoristas que freqüentam AO. O primeiro artigo (Traffic crashes and alcohol outlets in a Brazilian state capita) descreve um estudo transversal utilizando dados secundários, cujo objetivo foi determinar as áreas da cidade de Porto Alegre com maior concentração de AO e verificar sua associação com áreas de maior concentração de AT. Os dados foram analisados utilizando geoprocessamento e estatística espacial e não houve associação significativa entre AO e AT relacionados ao álcool, possivelmente porque a densidade de AO é elevada em todo o município. O segundo artigo (Factors associated with alcohol and drug use among traffic crash victims in southern Brazil) descreve um estudo transversal com amostra consecutiva obtida nos dois principais hospitais de emergência–trauma de Porto Alegre. Seu objetivo principal foi verificar a prevalência de alcoolemia positiva e de outras drogas entre as vítimas de AT. Os dados foram então tabulados para estimar os horários (turnos) de maior freqüência de AT relacionados ao álcool, que serviram como base para a estratificação dos turnos no estudo 3. Foram entrevistadas 609 vítimas, sendo que a prevalência de alcoolemia positiva variou de 7,8%, entre os motoristas, a 9,2% entre os pedestres. O terceiro estudo foi um “Inquérito entre motoristas que bebem em pontos de consumo de bebidas alcoólicas de Porto Alegre”, cujo objetivo foi determinar a prevalência de beber e dirigir e seus fatores associados a partir de uma amostra probabilística. O artigo 3 descreve as estratégias de método utilizadas para selecionar uma amostra representativa da população de motoristas que bebem em AO de porto Alegre, uma população flutuante. Foi desenhada uma amostra complexa em três estágios: 1) setores censitários estratificados pela densidade de AO (obtida no Estudo 1) e selecionados com probabilidade proporcional ao número de AO em cada setor; 2) combinação de AO e turno, estratificados pela prevalência de AT relacionados ao álcool (obtida no Estudo 2) e selecionados com probabilidade proporcional ao quadrado de sua duração em horas; 3) motoristas que beberam utilizando amostragem inversa baseada no screening dos que beberam nos AO selecionados. Os pesos amostrais foram obtidos com base nas probabilidades de inclusão na amostra e calibrados por meio de um estimador de pós-estratificação para assegurar coerência com os totais do screening. Foram abordados 3.118 indivíduos e entrevistados 683. Estimou-se que 151.573 motoristas beberam em bares no período do estudo e 56% deles pretendia dirigir na hora subseqüente. O artigo 4 mostra que a prevalência de DUI foi maior nas áreas de baixa concentração de AO, enquanto as áreas de alta concentração tiveram maior freqüência de jovens e indivíduos intoxicados por cocaína. Para cada um dos estudos são discutidas as limitações, as necessidades de continuidade nas pesquisas e as implicações para as políticas de Saúde. Os resultados indicam a necessidade de limitar a disponibilidade física de álcool ─ seja através da restrição do número de estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas ou do zoneamento de áreas para a vendaestratégias recomendadas internacionalmente como forma de prevenir as conseqüências do abuso de álcool. / Alcohol abuse and traffic crashes (TC) are considered public health problems and every year they are associated with 2.5 and 1.2 million of deaths worldwide, respectively. Alcohol outlet (AO) density has been associated with Driving Under Influence (DUI), which is a well known risk factor for TC. However, the association is controversial in international literature and there are no studies in Brazil. This thesis comprises three different studies, presented in four scientific papers. Its main objective is to evaluate the association between alcohol physical availability and the drinking and driving behavior. As national data on the subject is scarce, the initial two studies (“Geoprocessing and spatial analyses of traffic crashes and alcohol outlets in Porto Alegre” and “Prevalence of positive alcohol blood concentration (BAC) among traffic crash victims of emergency rooms from Porto Alegre”) were conducted to establish the parameters of the third study, a survey to evaluate DUI prevalence among drivers in alcohol outlets. The first manuscript (Traffic crashes and alcohol outlets in a Brazilian state capital) describes a cross-sectional study with secondary data, which aimed to describe high and low AO concentration areas, as well as to test its association with AT density areas in Porto Alegre. Data was analyzed using geoprocessing and spatial statistics. There was no association between AO and alcohol related TC, maybe because AO are spread all over the city. The second manuscript (Factors associated with alcohol and drug use among traffic crash victims in southern Brazil) describes a cross-sectional study with consecutive sample obtained in the two main emergency rooms from Porto Alegre. Its aim was to estimate the prevalence of positive BAC and other drugs among TC victims. Data was tabulated to define the three hour shifts that had higher frequencies of alcohol related TC (used to stratify the shifts from Study 3). On the 609 victims interviewed, positive BAC was found in 7.8% of drivers and 9.2% of pedestrians. The third study was a survey aimed to estimate DUI prevalence and its associated factors after a probabilistic sample. The manuscript 3 describes the methods used to select a representative sample of drivers who drank in Porto Alegre AO, a floating population. It was designed a complex sample with three stages: 1) census enumeration areas - stratified by AO density (obtained after Study 1) and sampled with probability proportional to the number of AOs in each CEA; 2) combinations of outlets and shifts - stratified by prevalence of alcohol-related TC (obtained after Study 2) and sampled with probability proportional to their squared duration in hours; and, 3) drivers who drank - using inverse sampling after the screening of individuals who drank at selected AO. Sample weights were calculated using the probabilities of inclusion in the sample and calibrated using a post-stratification estimator to ensure coherence with the screening totals. It was approached 3,118 individuals and interviewed 683. It was estimated that 151,573 drivers have drank at AO during the survey timeframe, and 56.3% of them intended to drive in the subsequent hour. The manuscript 4 points that DUI prevalence was higher in areas with low AO concentration, while high AO concentration areas had a higher frequency of young people and cocaine use. Limitations, the need of future research and implications for public policy are discussed for each study. Results indicate that restricting alcohol availability is a necessary measure- either restricting the number of AO or establishing zoning areas for alcohol sales, which are strategies recommended worldwide for the prevention of alcohol abuse consequences.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:www.lume.ufrgs.br:10183/37050 |
Date | January 2011 |
Creators | De Boni, Raquel Brandini |
Contributors | Pechansky, Flavio, Bastos, Francisco Inácio |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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