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A modernização do sertão

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em História / Made available in DSpace on 2012-10-23T21:34:00Z (GMT). No. of bitstreams: 0 / A história da inter-relação das sociedades humanas e as florestas, no Brasil, em grande parte, se confunde com o processo de colonização, e portanto, de tentativa de controle da natureza e dos semelhantes, que formou a nação brasileira. Nesta pesquisa procuro entender as estratégias e as representações na apropriação de florestas e terras, durante o processo de colonização dirigida, ocorrido na região de Campo Mourão, Paraná, entre 1939 e 1964. As fontes utilizadas são, basicamente, as mensagens do Governador ao Legislativo Estadual do Paraná, os relatórios do Departamento de Geografia, Terras e Colonização, da Delegacia Regional do Paraná do Instituto Nacional do Pinho e os processos da Vara Civil da Comarca de Campo Mourão, Paraná. A partir dessa massa documental e da historiografia postulo que, no caso em tela, a estratégia defendida de apropriação das terras devolutas era efetuar uma colonização racional, que implicava no planejamento estatal, que junto com uma rigorosa aplicação da tecno-ciência e a divisão produtiva da terra, garantiriam o "progresso". Quanto à floresta a tecnoburocracia propugnava como forma de gestão, um reflorestamento racional, que era entendido como a substituição da "floresta improdutiva" por uma "floresta melhorada", ou seja, por uma floresta artificial. Em ambos os casos a fé na tecno-ciência era um elemento central da sustentação da estratégia, sendo que uma visão de mundo mecanicista pautava tais propostas, no qual a natureza seria "melhorada" pela intervenção da tecno-ciência que geraria o "progresso". Dessa forma, mais do que uma natureza cornucópia, há nas fontes abordadas uma certeza dos efeitos positivos da intervenção tecno-científica. Ademais, em ambos os casos, se têm uma tentativa não apenas de intervir sobre coisas, mas principalmente, sobre pessoas. Ambas as estratégias se inserem em um projeto fordista-keynesiano periférico, não apenas porque se trata da intervenção estatal tentando regular a economia, para possibilitar a industrialização, mas porque sua proposta era espraiar sua ação para os mais variados campos da vida social, tentando produzir um trabalhador ordeiro e obediente, um "homem novo", e não um cidadão. Em tal projeto modernizador do sertão há uma série de representações e práticas que acabaram por excluir uma parte da população ao acesso as terras e as florestas. Desta, e de outras formas, o "Estado jardineiro" deslegitima os mecanismos de auto-equilíbrio e reprodução das populações. Todavia, os lavradores pobres não foram passivos em tal processo. Como demonstra sua estratégia de fazer posse, a qual estava amparada por uma dada ordem moral, uma campesinidade, que era articulada com uma ordem econômica, na luta cotidiana de se defender. Tal negociação/resistência/colaboração cotidiana teve efeitos nada desprezíveis no processo geral de colonização dirigida, uma vez que a ação efetiva do Estado na colonização dirigida da região foi, em grande parte, fruto da pressão gerada pelos milhares de posseiros que buscavam fazer posse. Gerando uma estrutura fundiária em que, apesar da forte presença da agricultura familiar, a maioria da população estava excluída da propriedade da terra. Dessa forma, em uma situação de extrema desigualdade de recursos de poder e de violência aberta, a hierárquica cultura brasileira, continuou a se reelaborar, formando uma paisagem socialmente injusta e ambientalmente insustentável, mas moderna, e como toda a paisagem moderna estava prestes a se desmanchar no ar.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.ufsc.br:123456789/91328
Date January 2008
CreatorsCarvalho, Ely Bergo de
ContributorsUniversidade Federal de Santa Catarina, Nodari, Eunice Sueli
PublisherFlorianópolis, SC
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Format344 f.| il., tabs., mapa
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFSC, instname:Universidade Federal de Santa Catarina, instacron:UFSC
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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