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Representações e o Hiato Digital na Comunidade Quilombola de Conceição das Crioulas: Uma Ação-Investigação

As relações que se estabelecem através da utilização dos meios digitais e das TIC provocam alterações na forma como interagimos e nos relacionamos no contexto educativo e pessoal, assim como nos modelos pré-estabelecidos da sociedade. A sociedade tecnológica e de consumo acelerado que integramos requere a capacidade de pensamento crítico e de reflexão, acerca dos possíveis processos de (des)subjetivação que acontecem através da tecnologia.
Esta investigação é referente a uma ação numa comunidade em desenvolvimento e pretende explorar a semiótica e funções das TIC neste caso de estudo, através da teoria das representações sociais. Com esta investigação pretendemos questionar várias teorias de determinismo tecnológico e social, expondo as limitações das TIC para o desenvolvimento (ITC4D), e simultaneamente propor uma linha de ação alternativa. O contacto com a comunidade de Conceição das Crioulas, uma comunidade quilombola e indígena localizada no estado de Pernambuco, no nordeste do Brasil, tornou-se possível através da participação no grupo de estudo e ação-investigação, "Identidades", que é mantido por um grupo de investigadores da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, ativo desde 1996.
A integração deste grupo de estudos aconteceu no âmbito da proposta de desenvolvimento de um website para e com a comunidade, e a simultânea realização de ações educativas que suportassem este website. Este estudo de campo é uma ação-investigação ou investigação-ação e está organizado em três ciclos de pesquisa. No primeiro ciclo foi realizado um curso intensivo sobre web design, durante uma visita de campo em julho de 2017, focado nas linguagens de programação visual, HTML e CSS, e outros conteúdos relacionados com as TIC. O segundo ciclo decorreu entre dezembro e março de 2018 e consistiu na análise dos resultados obtidos durante o primeiro ciclo e uma nova visita de campo num ambiente mais informal. A comunicação com os alunos que integraram o curso foi mantida e, através de entrevistas semiestruturadas e dados qualitativos relacionados com a utilização da tecnologia, foi possível ter uma perceção mais detalhada sobre a relação e semiótica que envolve os dispositivos digitais nesta comunidade. O terceiro e último ciclo consistiu na análise da matéria recolhida neste processo, assim como das diferentes dificuldades relativas à manutenção do website que foram acontecendo durante o processo. Estas dificuldades surgem de limitações relativas à falta de velocidade de banda-larga e infraestruturas, capacidade e motivações de pesquisa em linha. O universo consensual que surge da objetificação da era digital em dispositivos e plataformas permite-nos perceber como os processos de identidade social podem ser afetados pela apropriação de ou resistência à tecnologia.
Desenvolveram-se perspetivas sobre a popularidade das TIC e a sua integração na sociedade e currículo ocidental e práticas culturais. Pensar sobre as possíveis desigualdades que são perpetuadas pela cultura digital exige questionar os processos de (des)subjetivação que ocorrem através destes dispositivos. Participar numa realidade que nos desafia a questionar (pré)conceitos em relação à utilização das TIC proporciona o questionamento sobre quais são efetivamente as valências necessárias para ensinar, exercer e aprender de forma autónoma, no contexto do séc. XXI, e quais são as limitações desta cultura afinal não tão participativa. / This work reports an experience in a developing community and aims to explore the significance and roles of ICT, through the theoretical lenses of social representations theory. The contact with the community of Conceição das Crioulas, a Quilombola/indigenous community located in the state of Pernambuco, Brazil, was possible through the integration of the action-research group "Identidades" ["Identities"], held by a group of researchers from the Faculty of Fine Arts of the University of Porto, Portugal, ongoing since 1996.
The main purpose of integration within the research group was, the development of a community website, subsequently leading to education activities about how to maintain and support this website. The action-research field study is organized in three cycles. The first cycle comprised the teaching of a four days intensive course/workshop of web design focused on programming languages, HTML and CSS, among other ICT contents. The course was taught during a field visit in July, 2017. The second cycle developed between December-March, 2018, consisting in the analysis of the feedback obtained (as the communication with the students was maintained) and allowed us to understand through field notes, semi-structured interviews and qualitative data regarding the use of these technologies, the scope of meanings being attributed to digital devices. The final cycle consisted of the analysis of the collected data regarding the website maintenance and the difficulties that occurred. Problems arise from limitations concerning a lack of bandwidth speed infrastructure, research skills and research interests.
The consensual universe that emerges from the objectification of the digital era into devices and platforms allows us to understand how social identity processes might be affected by the appropriation of (or resistance to) technology, as the boundaries between identity and avatar become more and more blurred. With this analysis we intend to review several predictions or prophecies of technological and social determinism, thus, exposing the limitations of ICT for development (ICT4D) but also urging us to analyse the challenges of ICT from developing alternative mindset. These problems denounce the myth of digital diversity, considering the access nearly every member of the community has to a digital device, and how its use is currently limited to recreational purposes.
The participation in this research allows a reflection on the spread of ICT in the Western society usually perceived as an educational opportunity. Reflecting about the possible inequalities perpetuated by the digital culture, demands questioning the (de)subjectivation processes that occur through these devices. Participating in a reality that challenges our biases related to the use of these devices, enables a series of questions about what are indeed the necessary skills to excel, teach and learn in the 21st century, and what are the limitations of this, after all, not so participatory culture.

Identiferoai:union.ndltd.org:up.pt/oai:repositorio-aberto.up.pt:10216/114273
Date09 August 2018
CreatorsMaria Ramos Portela
ContributorsFaculdade de Engenharia
Source SetsUniversidade do Porto
LanguageEnglish
Detected LanguagePortuguese
TypeDissertação
Formatapplication/pdf
RightsopenAccess

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