“Comemorar efemérides” não é apenas uma expressão legítima utilizada para fazer referência à celebração de uma festa nacional. Desde o final do século XIX, ao menos em língua portuguesa, os dois termos têm sido associados como sinônimos. A presente tese representa um esforço em compreender o desenvolvimento de dois conceitos – comemorações e efemérides – na longa duração. Os encontros e desvios entre as práticas associadas a um e a outro serão pontuados através da seleção de episódios intelectuais, seguidos pelo exame de debates que os tocavam na periferia de suas articulações. Na primeira parte, dedicada às comemorações, montei uma revisão desse bem conhecido tópico de estudos endereçada a uma única hipótese, a saber: o “ofício” comemorativo pode ser entendido como uma forma de comunicação e transmissão geracional de valores. Inspirado pelas fontes, argumento que os eventuais pontos de encontro entre o par de objetos propostos nesta tese são análogos às interrelações entre a “ordem do tempo” e a “ordem da natureza”, entre o tempo dos homens e o movimento das estrelas. Neste drama conceitual, se pudermos assim chamá-lo, faríamos perceber como a superação dos antigos modelos cosmológicos não se esquivou em guardar, para assumir termo caro a Pomian, uma lógica cronosófica. Se eu for bem sucedido, esse argumento deverá se expressar na segunda parte. As efemérides, como tábuas do movimento dos corpos celestes, vieram sofrer uma lenta transição rumo ao registro dos feitos humanos. Bebendo em fontes antigas e nas práticas de emulação, personagens bem conhecidos da primeira modernidade associaram o termo primeiro aos diários pessoais, depois ao jornalismo e, nos séculos seguintes, à história literária, religiosa e política. Na França, as éphémérides emergem da revolução já como um subgênero historiográfico. No Brasil da segunda metade do século XIX, listas de efemérides encontram lugar comum junto às comemorações dentro dos debates do IHGB. É no horizonte do projeto de nação que busco observar a união dos paralelos. Esse horizonte – como um ponto de chegada – vai aparecer ao final de cada secção da tese, observado a partir da celebração do quadricentenário da descoberta de Cabral. / “Comemorar efemérides” is a Portuguese phrase that despite its academic ring, is often used in the mainstream press. It translates roughly as 'the commemoration of an auspicious occasion’ and is used in reference to the public marking of nationally significant events. By the end of the nineteenth century, the two terms of this phrase came to be synonymous in Portuguese. This thesis represents an effort to understand the development of these two terms – efemérides and comemorações – over the longue durée. The long-term similarities in the practical and public uses of these terms are explored by tracing their discursive deployments and examining the debates that surrounded such public uses. The first section, dedicated to commemorations, frames the analysis of this much discussed topic with the following hypothesis: the act of commemoration is a form of moral utterance between generations; it is the rehearsal and transmission of collective values. Drawing on historical sources, I argue that the eventual points of contact between these terms can be seen as analogs to the discursive exchange and conflict between the classical and peripatetic notions of the “order of time” and the “order of nature”. In this conceptual drama, one sees how the sublation of old cosmological perspectives nevertheless still contains what I shall call – following Pomian – a chronosophy. This analysis leads to the second part of the thesis. Efemérides, originally tables of the movements of the celestial bodies – also known as almanacs – underwent a slow transition from the celestial to the earthly, from the charting of the stars to the recording of human deeds. Drawing on classical texts, well-informed readers of early modernity would have associated those writings in the first instance with diaries, then with journalism and, in the following centuries, with political history. Emerging from the French Revolution as a historiographical subgenre, lists of Efemérides shared a common function with commemorations as nation-building practices that described the horizon of a project to create national identity. This horizon, as a meeting point of moral utterance and political project is explored at the end of both sections of the thesis, as it is observed in the quadricentenial celebration of Cabral’s Discovery of Brazil. It is at this horizon that the parallel developments of comemorações and efemérides promise to meet.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume.ufrgs.br:10183/114415 |
Date | January 2014 |
Creators | Bonaldo, Rodrigo Bragio |
Contributors | Cezar, Temistocles Americo Correa |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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