A tese que aqui se apresenta pretende sugerir que a cultura escolar regula as modalidades de acesso dos indivíduos aos objetos da cultura científica, em contraposição à idéia de enculturação como objetivo do ensino de ciências. Para tanto, parte de uma longa discussão teórica em que o conceito de cultura, campo ou esfera é discutido. De mão desses conceitos, parte-se para definição do que seria cultura escolar uma relação pedagógica submetida a tempos, lugares e objetos específicos e cultura científica atividade humana com métodos e padrões historicamente contingentes que são avaliados em relação à sua meta e ao grau de sucesso obtido, na qual está inserida a biologia. Definidos esses campos, foi necessário, então, entender como se dá o diálogo entre essas esferas, para tanto se fez uso do conceito de hidridação, zona de encontro entre as linguagens típicas de cada um desses campos sociais. Com os conceitos construídos, escolheu-se a abordagem metodológica: tomar como objeto de análise dois textos de cientistas e dez textos de alunos sobre a mesma temática, a noção de que o DNA é a molécula portadora das informações hereditárias. Usou-se o padrão de Toulmin (1958/2006) e as marcas lingüísticas de Koch (2000) para identificar elementos dos argumentos e suas relações. A análise dos textos mostrou que os alunos fazem uso, preponderantemente, de argumentos substanciais, enquanto que cientistas constroem seus textos por meio de argumentos analíticos. A utilização diferenciada dos tempos verbais do discurso nos textos de cientistas e alunos permitiu sugerir a transformação de uma biologia funcional em uma narrativa histórica. A seleção lexical e o uso de qualificadores tornaram visível o deslizamento entre as modalidades aléticas e epistêmicas que assumiram funções diferenciadas nos dois tipos de produção textual. Essa análise nos permitiu discutir que o percurso realizado pelos estudantes para acessar as verdades científicas ou construir visões de ciências envolve etapas e processos diferenciados daqueles percorridos pelos cientistas nesses mesmos processos. Se, por um lado, não é suficiente que o objetivo do ensino de ciências seja o de propiciar a compreensão dos resultados e produtos produzidos na esfera científica, por outro lado, não são todas as regras do jogo que são acessíveis aos estudantes. Assim, o ensino de ciências deve ser visto como um processo de construção de uma visão idiossincrática de ciência que envolva a compreensão dos seus conceitos e linguagem, não para adotar essa nova cultura, mas para que se possa dialogar com ela. / The thesis presented here suggests that school culture regulates the access to objects of scientific culture, as opposed to the idea of enculturation. To pursue that, we begin with a long theoretical discussion in which the concepts of culture, field or sphere, school culture (a pedagogical relationship subject to time, specific places and objects) and scientific culture (human activity with standardized methods) are discussed. Finally, it is necessary to understand the dialogue between school culture and scientific culture. In other words, to examine their field of hybridization. After establishing the concepts, we chose as object two scientific texts and the answers of ten students, all on the same subject: the notion that the DNA molecule is the carrier of hereditary information. We use the Toulmins model of argumentation (1958/2006) and the linguistic categories of Koch (2000) to identify elements of the arguments and their relationship. The analysis of the texts have shown that students are using substantive arguments, while scientists construct their texts by means of analytical arguments. The difference between the use of verb tenses between scientific texts and those of the students suggests the transformation of a functional biology into a historical narrative. The lexical selection and use of qualifiers has made visible the interchange between the alethic and epistemic modalities which have different functions in both discourses. The analysis has allowed us to see that the path traveled by the students to access the scientific truths or to construct visions of science involves stages and processes different from those covered by the scientists. If, on the one hand, to provide an understanding of the results in the scientific sphere it is not sufficient goal for teaching science, on the other hand, not all the rules are accessible to students. Thus, the science teaching should be seen as a process of building a specific vision of science that involves the understanding of its concepts and language. Instead of inserting the students in this new culture, it should help them to exchange impressions with it.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-23092009-144938 |
Date | 12 March 2009 |
Creators | Daniela Lopes Scarpa |
Contributors | Silvia Luzia Frateschi Trivelato, Anna Maria Pessoa de Carvalho, Marcelo Tadeu Motokane, Diana Goncalves Schmidt, Sandra Lúcia Escovedo Selles |
Publisher | Universidade de São Paulo, Educação, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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