A pouca presença da Astronomia na Educação Básica tem a ver com um pragmatismo não estritamente brasileiro nem tão recente. Ela, que era um dos quatro componentes do quadrivium da educação medieval, foi gradualmente banida dos currículos oficiais e, por largo tempo, esteve ausente na educação básica brasileira, exceto pela apresentação de seus aspectos básicos em disciplinas como Geografia e Ciências no Ensino Fundamental. Recentemente, no entanto, as regulamentações oficiais, tanto na esfera federal quanto nas estaduais, indicam que temas de astronomia devem ser contemplados na Educação Básica nacional. Em oposição à falta de material pedagógico adequado para desenvolver esses temas na educação formal, a popularização da Astronomia encontra nos planetários um ambiente rico e promissor. Um olhar mais amplo sobre as relações que povos de todas as épocas tiveram com o céu revela que elas são indissociáveis dos valores e visões de mundo que cada civilização desenvolveu. Conhecer o céu era necessário não só por razões de sobrevivência, para determinar as épocas de chuvas e estiagem com objetivos agrícolas, mas também para identificar nas configurações dos astros respostas para o destino humano. Os mitos de criação do mundo e os astros vistos como deuses foram personagens centrais de muitas culturas e, de inúmeras maneiras, continuam presentes em nossos dias, mais frequentemente por conta de convicções religiosas, mas também pela percepção mítica dos modelos cosmológicos contemporâneos de base científica. A evolução da Astronomia como ciência se deu inicialmente em linha de continuidade com as percepções de regularidade do céu de práticas religiosas e protocientíficas. Quando a Astronomia se apresentou científica, já contava com milênios de observação e na sua evolução, muitas vezes, estiveram presentes aspectos não racionais do ponto de vista científico. No presente trabalho, por meio de pesquisa bibliográfica, buscamos indicar uma linha de ação que auxilie na superação do pragmatismo na educação, utilizando a Astronomia como fio condutor. Baseado nas ideias de Eliade, Cassirer, Jafelice, entre outros, que apontam a forte ligação que o ser humano manteve com o céu durante sua evolução e mantém até hoje, propomos o desenvolvimento de temas de Astronomia na Educação Básica de uma forma centrada nas relações simbólicas que podem ser evocadas quando alguém é exposto a contato mais direto com as coisas do céu, em vez de explorar apenas o conhecimento objetivo e racional. Essa proposta, aliás, tem sido ensaiada com algum sucesso em exemplos relativamente isolados, mas demandaria um desenvolvimento mais amplo, em livros-texto e práticas escolares. Para avançar na direção pretendida, sugerimos a integração entre os recursos dos sistemas formais e não formais de educação, por exemplo, a utilização das sessões dos planetários como estímulo do estudo das Ciências da Natureza em geral e da Astronomia em particular. / The little presence of Astronomy in basic schooling is related to a pragmatic understanding, not so recent and not strictly Brazilian. The subject, one of the four of the quadrivium in medieval education, was gradually banished from official curriculums and, for a long time, has been absent in basic education in Brazil, except for its basic features presented in other subjects such as Geography and Sciences in primary school. Recently, however, the official laws indicate that astronomy themes should be present in national education. In spite of the lack of proper teaching skills and materials, the popularization of Astronomy finds in planetariums a rich and promising environment. A broader look on the relations which people of all ages had with the sky reveals that they cannot be separated of the values and visions of the world developed by every civilization. To understand the sky was necessary, not only for surviving purposes, to determine raining and drying seasons with agricultural purposes, but also to identify in the configuration of constellations answers to human destinies. The myths of world creation as well as constellations seen as gods were central in many cultures and, in many ways, are still present in our days, more frequently due to religious convictions, but even due to the mythical perception of the contemporary scientific cosmological models. The evolution of Astronomy as a science started initially in continuity to perceptions of the regularity of the skies in religious and proto-scientific practices. When Astronomy presented itself as scientific, it had already thousands of years of observation. Its evolution usually presented non rational features as far as science is concerned. In this work, through a bibliographic research, we seek to indicate a line of action using astronomy as a guideline that helps to overcome an extreme pragmatism in education. Based on authors such as Eliade, Cassirer, Jafelice, among others, who point out a strong connection from human being with the sky, during their evolution until today, we propose the development of astronomy themes in school centered in the symbolic relations that can be evoked when someone is exposed to a more direct contact with the skies, instead of exploring just the objective and rational knowledge. This proposal, by the way, has been rehearsed with some success in a sort of isolated examples, but it would demand a broader development, in textbooks and school practices. To reach its goal, we suggest connection of formal and not formal education, such as the access to planetarium sessions as stimulus to the study of the natural sciences in general and astronomy in particular.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-12062012-150132 |
Date | 09 April 2012 |
Creators | Kantor, Carlos Aparecido |
Contributors | Menezes, Luis Carlos de |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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