Sugere-se neste trabalho que o irrealismo constitui uma característica marcante da corrente dominante na ciência econômica que explica o desempenho decepcionante das atividades de previsão e explanação realizadas com base nesse paradigma. Após desenvolver o pouco claro conceito de irrealismo na ciência econômica, mostrando quando ele ocorre e quais são suas causas, busca-se relacionar sua presença com aquele desempenho decepcionante. Defende-se que ele pode ser explicado pela negligência da maior parte da corrente dominante em relação ao realismo de suas proposições, negligência traduzida na utilização amplamente difundida nas práticas dessa corrente de modelos irrealistas, que são aqueles que não buscam ou, se o fazem, não são bem-sucedidos em capturar uma parcela relevante da realidade. Sugere-se que o emprego de modelos irrealistas é geralmente - mas não sempre - o resultado da insistência do mainstream na ciência econômica em aderir à abordagem dedutivista em um mundo caracterizado pela não-ubiqüidade de regularidades estritas que ela invariavelmente pressupõe, e se manifesta tipicamente na aplicação generalizada em situações concretas de modelos econômicos fortemente abstratos cujos pressupostos implicam a operação de mecanismos que são inválidos nessas situações específicas. A explicação para esta tendência ao irrealismo do mainstream, por sua vez, se encontra no fato de que a grande maioria dos modelos elaborados a partir dessa perspectiva pressupõe a onipresença de estruturas de mercado competitivas a despeito de que em muitas - e mesmo na maioria das - situações reais elas estão claramente ausentes, o que decorre do viés ideológico que os economistas associados à corrente dominante possuem e que se caracteriza pela crença inequivoca nas insuperáveis virtudes do mecanismo de mercado e da propriedade privada como princípios orientadores centrais da organização da produção e mesmo da vida em sociedade. Essa crença se encontra na origem do liberalismo econômico tradicional e do neoliberalismo, e sua defesa obrigatoriamente requer que os mercados sejam, pelo menos em sua grande maioria, competitivos. Para satisfazer essa hipótese a ideologia neoliberal impõe à realidade a onipresença de estruturas de mercado competitivas, possíveis em abstrato mas geralmente ausentes em situações reais, o que faz com que os modelos construídos a partir da abordagem que a ela adere assim como a própria abordagem sejam freqüentemente irrealistas. / This work suggests that irrealism is a remarkable feature of mainstream in economics and explains the poor performance of both activities of prediction and explanation that heavily draw from this paradigm. After elaborating the unclear concept of irrealism in economics, showing when it occurs and what are its causes, I try to relate its presence to that poor performance. It\"s sustained that this performance can be explained by the negligence of most of mainstream practioners concerning the realism of their propositions, negligence that translates into the widely spread use of unrealistic models, those that do not try or, if they do, they don\"t succeed in capturing a relevant portion of the reality, in their practices. It\"s suggested that the use of such an unrealistic models is mostly - but not always - due to the insistence of mainstream economics in sticking to the deductivistic approach in a world where the strict regularities that it inevitably assumes are extremely scarce, and tipically shows itself in abstract models widely applied to concrete situations where their assumptions imply the operation of mechanisms that happen to be invalid in those specific situations. The account of that tendency to irrealism in mainstream economics should be looked for in the fact that the large majority of models they create assumes the ubiquity of competitive market structures despite in many real situations - probably in most of them - they are clearly absent, what is a result of the ideological bias that mainstream economists have, defined by the strong belief in the insurmountable virtues of the market mechanism and private property as general principles for the organization of production and even for life in society. This belief is found in the origin of traditional economical liberalism and of neoliberalism, and its defense inevitably requires markets to be, at least in their large majority, competitive. In order to satisfy that assumption neoliberal ideology imposes into reality the ubiquity of competitive market structures, possible as an abstraction but generally absent in real situations, what frequently making those models that heavily draw from this paradigm as well as the whole approach totally unrealistic.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-15082011-200354 |
Date | 06 May 2011 |
Creators | Emilio Cherñavsky |
Contributors | Leda Maria Paulani, Ana Maria Afonso Ferreira Bianchi, Maria Rita Garcia Loureiro Durand, Ramon Vicente Garcia Fernandez, Mário Duayer de Souza |
Publisher | Universidade de São Paulo, Economia, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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