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Sobre o retrato do filósofo na República de Platão / On the philosophers portrait in Plato\'s Republic

A República ocupa lugar de destaque no conjunto da obra platônica tanto pela importância do tema de que trata e pelo teor das teses defendidas quanto pela diversidade de questões que aborda no desenvolvimento de seu argumento principal. Em sua mais famosa e influente obra, Platão define a justiça a partir do estabelecimento de uma analogia entre a alma humana e a cidade, mostrando-nos em que consiste esta virtude seja no âmbito particular da vida moral humana seja na vida política de uma cidade idealmente planejada. A obra apresenta inicialmente uma dupla linha de argumentação, tratando, primeiro, da definição da justiça na cidade para, então, poder compará-la e aplicá-la à concepção de justiça na alma humana. O primeiro clímax argumentativo é atingido ao final do livro IV quando a analogia é finalmente estabelecida e obtemos tanto a definição política da justiça quanto sua definição moral. Mas os afluentes moral e político da argumentação entrecruzam-se e desembocam ambos nos livros centrais da obra (V, VI e VII) quando a figura do filósofo passa a ser desenvolvida. Platão demonstra-nos que o filósofo é, ao mesmo tempo, o indivíduo virtuoso por excelência e, portanto, o modelo máximo individual de justiça, e também o único e legítimo líder político da cidade justa, além de elemento indispensável a sua concretização. Nosso trabalho tem por objetivo descrever e analisar o argumento principal dos livros centrais que legitima o posto supremo do filósofo na cidade justa, mostrando como as questões metafísicas e epistemológicas ocupam um papel fundamental na economia da obra. A problemática central da pesquisa concentra-se nos dilemas decorrentes da definição do conhecimento do filósofo que legitima seu posto na cidade. A pergunta fundamental que desejamos responder é: de que modo o conhecimento das Formas pode oferecer um saber prático suficiente e eficiente para a atividade política do filósofo? Avaliamos a hipótese de alguns comentadores de que o argumento de Platão guarda em seu interior um conflito entre a descrição do aspecto teórico do filósofo e seu aspecto prático, e que o elemento fundamental e final de sua formação, o conhecimento da Forma do Bem, é definido de um modo tão abstrato e distante do mundo concreto que não nos deixa claro como ele pode servir de paradigma para a atividade de governante do filósofo. A alegação geral é a de que o conhecimento das Formas e do Bem não fornece ao filósofo nenhuma vantagem com relação aos outros possíveis candidatos à administração dos interesses da cidade. O objetivo máximo de nosso trabalho é nos contrapormos a tal interpretação oferecendo uma hipótese alternativa de leitura do argumento platônico. Nossa concepção parte de uma interpretação distinta da natureza do conhecimento da Forma do Bem, entendendo-a como a compreensão da própria estrutura racional da realidade. Outro ponto chave de nossa leitura é a interpretação que desenvolvemos do conceito platônico de mímesis, peça indispensável para entendermos a razão de não haver nenhuma espécie de conflito entre o que seriam as descrições teórica e prática do filósofo. / The Republic remains as the most special piece of Platos philosophical work, due to the importance of its subject and the meaning of its theses, as well as for the plurality of questions that emerge from its central argument. In his most famous work Plato defines justice by making use of the analogy between the human soul and the city, showing us the true nature of that virtue in its moral aspect with regard to the individual human life, and also in its political aspect in conceiving an imaginary perfect city. Plato leads his argument first through the definition of the perfect just city, so he can later compare and apply his former conclusions to his conception of the human soul. The first important achievement of the text occurs when the analogy is finally completed and we have the two definitions of justice accomplished. But the moral and the political courses of the argument entwine and receive full treatment only in the central books (V, VI, and VII) of the writing, where the picture of the true philosopher starts to be developed. Plato demonstrates us that the philosopher is, at the same time, the genuinely virtuous person, and therefore, the greatest model of individual justice, and the one and only one political chief of the perfect just city, by right - and also the indispensable element for its existence. Our goal in this work is to describe and analyze the main argument of the Republics central books that justifies the supreme position of the philosopher in the just city, showing how the metaphysical and epistemological issues have a special role in the economy of that work. The central problem of this research focuses the many dilemmas concerning the definition of the philosophers knowledge that legitimates his command of the city. We shall answer how it is possible that the knowledge of the Forms can constitute the practical wisdom the philosopher needs for his political activities. An evaluation is made of some scholars assumption that in Platos argument lies a deep conflict between his practical conception of the philosopher and his theoretical conception of the same. Indeed, a suspicion is raised by some commentators that the knowledge of the Forms and of the Good is so abstract and distant from our ordinary world that it is not really clear how it is to be used as a paradigm for the governing activity of the philosopher. The general assumption is that the special knowledge of the philosopher does not offer him any advantage over other possible candidates to the political office. Our main objective in this work is to develop an alternative view of Platos argument that shows how it is coherent and does not present the problems pointed out by these readers. We shall first develop a different conception of the nature of the knowledge of the Good, taking it as the understanding of the rational structure of reality. Another main point of our reading is the interpretation we offer of the important platonic concept of mímesis - a key to the understanding that there is no such conflict on Platos views on the philosopher.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-18102010-154729
Date08 September 2010
CreatorsHenrique Gonçalves de Paula
ContributorsRoberto Bolzani Filho, Eliane Christina de Souza, Marco Antonio de Avila Zingano
PublisherUniversidade de São Paulo, Filosofia, USP, BR
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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