Entender como jornalistas aprendem a ser jornalistas é um passo necessário para se enfrentar o conservadorismo intrínseco ao jornalismo, manifesto nos produtos jornalísticos e na defesa reacionária de seu cânone profissional – ser o espelho da realidade. Este trabalho pretende contribuir à compreensão do processo de ensino-aprendizagem do jornalismo, descrevendo-o para apontar possibilidades de intervenção que permitam abordagens renovadas do fazer jornalístico. Considerando que o jornalismo constitui-se como gênero do discurso global, como define Chalaby (1996), parte-se do princípio de que é através da aprendizagem deste gênero que se aprende a ser jornalista. Neste sentido, o trabalho articula as noções de sujeito e de gênero do discurso estabelecidas por Bakhtin (2000, 2006) para postular que a chave deste aprendizado – e, afinal, de qualquer gênero do discurso – está na constituição do sujeito do gênero: a forma com que o enunciador relaciona-se com a cadeia infinita de discursos e que é delimitada pelo gênero por meio do qual ele se põe a produzir textualmente. Sugere-se que o sujeito do gênero pode ser revelado na análise das formas do discurso citado. Assim, descreve-se o sujeito jornalístico e como este é apreendido por futuros jornalistas a partir de uma análise exploratória dos usos regulares e irregulares das citações em textos produzidos por aprendizes em uma situação de entremeio escola-redação: o Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado do Grupo Estado. Completam o quadro as regularizações promovidas pela jornalista-tutora. Os resultados apontam a ocorrência exclusiva de formas lineares do discurso citado e permitem descrever funções discursivas das citações: autorização, autenticação e verossimilhança. As irregularidades na apresentação do discurso citado provêm da dificuldade dos aprendizes de lidar com a necessidade imperativa de usar citações, enquanto as regularizações exigem o apagamento de raras referências subjetivas. Conclui-se que o sujeito jornalístico caracteriza-se por uma relação dogmática e funcional com os discursos de outrem. Indica-se que uma abordagem pedagógica que coloque em questão esta relação pode ser um caminho para, em salas de aula ou redações, repensar o fazer jornalístico. / It is essential to understand how journalists are taught to be journalists to face the intrinsic conservatism of its daily practice, patent in the journalistic products and in the reactionary defense of it Professional Canon – to be the mirror of reality. The goal of this work is to add to the understanding of the teaching-learning process of journalism, describing it to point out to possibilities of intervention in order to allow the development of renewed approaches of journalism. Since journalism constitutes itself as a global speech genre, as defined by Chalaby (1996), it‟s assumed that one learns to be a journalist through the learning of that genre. In that sense, this work articulates the ideas of subject and speech genre established by Bakhtin (2000, 2006) to postulate that the key to this learning – and, therefore, to any speech genre – lies in the constitution of the subject of the genre: the way through which the enunciator relates to the infinite chain of discourses available and that is enclosed by the speech genre through which the subject produces his or her texts. Supposedly, the subject of the genre can be revealed through the analysis of the reported speech forms. Therefore, we describe the journalistic subject and how it‟s grasped by future professionals, analyzing the regular and the irregular uses of citations in texts written by trainees in a situation between college and the newsroom, the Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado do Grupo Estado. The regularizations promoted by the journalist-tutor complete the picture. The results show the exclusive occurrence of linear forms of reported speech and allow us to describe discursive functions of those citations: authorization, validation and likelihood. The irregularities in the presentation of the reported speech are due to the apprentices‟ difficulties in dealing with the imperative need of citation usage, while the regularizations demand the erasing of rare subjective references. We concluded that the journalistic subject is defined by a dogmatic and functional relation to someone else‟s discourse. A teaching approach that questions this relation, in colleges and newsrooms, could be a new way to rethink the work of journalists.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/117118 |
Date | January 2011 |
Creators | Marques, Cristina Charão |
Contributors | Guedes, Paulo Coimbra |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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