Mais de setenta anos após a criação do SPHAN, um conjunto significativo de experiências e reflexões permite verificar a constituição de um campo cultural próprio de intervenção arquitetônica em bens patrimoniais. As interlocuções entre Brasil, Europa e América latina ajudam a compreender a integração do país no cenário internacional. Nesse sentido, pode-se localizar o SPHAN como vanguarda nos debates sobre a preservação até a década de 1950, ao invés de um caso singular no contexto do movimento moderno, como vem sendo interpretado. As análises entre preservação e modernidade oferecem novas perspectivas à visão corrente e senso comum de que a arquitetura e o urbanismo moderno, e, em particular, a Carta de Atenas, formulada a partir do IV CIAM (1933), estão fundados num radical anti-historicismo e propõem a \"tábula rasa\" como único método de intervenção urbana. A análise da atuação de profissionais de diversas nacionalidades, sobretudo vinculados à arquitetura e urbanismo moderno, desde os anos 1930 até a redação da Carta de Veneza, em 1964, permite evidenciar a contribuição fundamental do modernismo para o aprofundamento e atualização das teorias e tendências no campo da preservação e intervenções no século XX. Como estudo de caso dessas dinâmicas, dois projetos, realizados em Salvador, Bahia, foram selecionados: o restauro e adaptação do Convento de Santa Teresa para instalação do Museu de Arte Sacra da Bahia, projeto de Wladimir Alves de Souza e Geraldo Câmara (1957-9), e a restauração e adequação do Solar do Unhão para abrigar o Museu de Arte Moderna da Bahia, sob responsabilidade de Lina Bo Bardi (1961-3). Por meio deles é possível explicitar os novos problemas do patrimônio nas décadas seguintes, assim como acompanhar as alterações que se processaram nessa área no Brasil, entre o final da década de 1950 e o início dos anos 1960. As novas posturas de intervenção sobre os bens patrimoniais, em particular a introdução dos princípios da \"restauração crítica\" no país, fazem parte desse processo de transformação, que também envolve a atuação de profissionais não vinculados organicamente ao SPHAN e a participação mais ativa de entidades como o IAB e a UNESCO, além da criação de novas instituições com incidência na área como ICOMOS (1964), EMBRATUR (1966), entre outras. A análise histórica e a avaliação mais precisa do período estudado visam a contribuir para a melhor compreensão das teorias e práticas em torno do restauro e da intervenção no patrimônio cultural, cada vez mais relevante na formação e no exercício profissional de arquitetos e urbanistas. / More than seventy years after the SPHAN (National Historic and Artistic Heritage Service) was created, a significant group of experiences and reflections allows to detect the constitution of a cultural sphere concerning architectonic intervention in cultural heritage in Brazil. The dialogues with Europe and Latin America help us to understand the country\'s integration into the international scenario. In this sense, rather than a particular case inside the modern movement, as it has been interpreted, the SPHAN is situated in the vanguard of the discussions on conservation until the 1950s. The analysis of the relations between preservation and modernity offers new perspectives to the common sense that architecture and modern urbanism, and particularly the Charter of Athens (1933), formulated after the 4th CIAM - International Congress of Modern Architecture, are established on a radical anti-historicism and propose the tabula rasa as sole method of urban intervention. The works of professionals from diverse nationalities, specially those related to modern architecture and urbanism, from the 1930s until the Charter of Venice in 1964, reveal the crucial contribution of modernism towards the enrichment and update of the theories and trends in the field of preservation and interventions in the 20th century. For the analysis of these dynamics two projects carried out in Salvador, Bahia, are highlighted: the restoration and adaptation of the Convent of Santa Teresa to install the Sacred Art Museum of Bahia (Wladimir Alves de Souza and Geraldo Câmara, 1957-9), and the restoration and adaptation of the Solar do Unhão to house the Museum of Modern Art of Bahia (Lina Bo Bardi, 1961-3). The drafting and discussions of these projects evince new problems around cultural heritage as well as the changes in this area in Brazil, in the late 1950s and early 1960s. The new conceptions of intervention in architectonic heritage, particularly the introduction of the principies of \"critical restoration\", the involvement of professionals not organically tied to the SPHAN, a more active participation of entities as the IAB and UNESCO, and of new institutions as the ICOMOS (1964), EMBRATUR (1966), among others, are part of this process. The historical analysis and a more precise assessment of the years 1930-1960 seek to contribute to a better understanding of the theories and practices around the architectonic intervention in cultural heritage, which is becoming increasingly important in the work and training of architects and urban planners.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-04052011-151700 |
Date | 11 June 2010 |
Creators | Cerávolo, Ana Lúcia |
Contributors | Feldman, Sarah |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
Page generated in 0.0025 seconds