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A metafísica do sucesso, a espiritualidade do consumo e a ética hedônica configuradas no sistema axiológico neoprotestante da Igreja Evangélica Sara Nossa Terra

O cristianismo originário desenvolveu em seus seguidores um estilo de vida condizente às crenças escatológicas relacionadas à morte e à ressurreição de Cristo. Um estilo de vida resignado, asceta e destituído de qualquer interesse intramundana através do qual se justificava a crença de que o fim do mundo era iminente e que cada crente era chamado a viver segundo esta expectativa. Quinze séculos mais tarde, a Reforma protestante introduz, a partir do conceito de Berut, uma nova concepção de interação do crente com o mundo. A vocação passa a ser compreendida como atividades capitalistas, exercidas com base racional, exercidas como cumprimento da tarefa conforme a vontade de Deus. Sob esta perspectiva está fundada a ética protestante calvinista. A relação do crente calvinista com o mundo ganha um novo significado. A angústia pela confirmação de um indício da salvação leva o crente a desenvolver uma ética sustentada por duas virtudes: espírito de laboriosidade e rigor ascético. O trabalho passa a ser realizado pelo crente calvinista com o fim de acumular riqueza a fim de que através dela a confirmação do indício desejado. A aquisição material da riqueza como finalidade de vida marca de forma indelével a ética calvinista. Dois séculos depois inicia um movimento de inconformismo entre os pietistas que, insatisfeitos com a espiritualidade materialista do protestantismo calvinista, desenvolve uma sistema de crença que reinterpreta a doutrina da salvação e postula a “certeza emocional” como critério de confirmação da certeza da salvação. Esta consciência oriunda do pietismo gerou uma nova disposição religiosa no Movimento da Santidade que acabou favorecendo a formação do pentecostalismo nos Estados Unidos e no Brasil. O pentecostalismo surge como movimento de retorno às crenças escatológicas do cristianismo originário e, a partir delas, o sistema axiológico pentecostal desenvolve uma relação de distanciamento do mundo (santificação) que implica a mortificação da carne e a conservação de um estilo de vida intramundano destituído de interesse pelo progresso material. O pentecostalismo passa por três ondas, mas é o neopentecostalismo brasileiro que se apresenta como um movimento de ruptura com as duas primeiras ondas do pentecostalismo que o antecede. A Teologia da Prosperidade desenvolvida no neopentecostalismo incorpora o ideal de progresso oriundo da globalização, mas não apresenta nenhuma metafísica do sucesso. A prosperidade material passa a ser esperada de forma mágica, sem que o crente neopentecostal empregue qualquer esforço para obtê-la. O trabalho não é valorizado, nem o espírito de laboriosidade e nem o interesse pela qualificação técnica do trabalho profissional. A igreja Sara Nossa Terra nasce deste contexto neopentecostal, mas desenvolve um sistema axiológico que a diferencia dele. Ela desenvolve um sistema axiológico neoprotestante estruturado a partir de três componentes: uma metafísica do sucesso, uma espiritualidade do consumo e uma ética hedônica. A globalização é um fenômeno compreendido como revitalizador de crenças e valores protestantes calvinistas que são incorporadas pelo sistema axiológico da igreja Sara Nossa Terra e a torna uma legítima herdeira das crenças e valores fundamentais do protestantismo calvinista. A ética hedônica é um fator que a desfilia do cristianismo originário. Mas a metafísica do sucesso e a espiritualidade do consumo a refilia à genealogia protestante calvinista. O hedônico como ideal de vida plena torna o usufruto da riqueza como componente axiológico de novidade que justifica a utilização do prefixo “neo” do sistema axiológico neoprotestante da igreja Sara Nossa Terra. / The originary Christianity has developed in its followers a lifestyle matching to eschatological beliefs related to death and resurrection of Christ. A resigned, ascetic and devoid of any intramundane interest lifesytle through which justified the belief that the end of the world was imminent and that each believer was called to live according to this expectation. Fifteen centuries later, the Protestant Reformation introduces from the concept of “Berut”, a new conception of interaction between the believer with the world. The vocation becomes to be understood as capitalist activities, carried out with rational basis, as the fulfillment of the task according to the will of God. Under this perspective the calvinist protestant ethics is founded. The relationship of the calvinist believer with the world gains a new meaning. The anguish for confirming a sign of salvation leads the believer to develop an ethics supported by two virtues: spirit of laboriousness and ascetic rigor. The work becomes executed by calvinist believer in order to accumulate wealth so that through it the confirmation of the desired sign. The material acquisition of the wealth as the purpose of life marks indelibly the calvinist ethics. Two centuries later starts a movement of nonconformity among the pietist who dissatisfied with the materialistic spirituality of calvinist protestantism, develops a belief system that reinterprets the doctrine of salvation and posits the “emocional certainty”, as a criterion of confirmation of the certainty of salvation. This awareness arising out of pietism has generated a new religious disposition in the movement of holiness which ended up favoring the formation of pentecostalism in the United States and Brazil. The Pentecostalism arises as a movement of return to the eschathological beliefs of originary Christianity, and from them, the pentecostal axiological system develops a relationship of detachment from the world (sanctification) which implies the mortification of the flesh and the conservation of a intramundane lifestyle devoid of interest in the material progress. The pentecostalism goes through three waves, but it´s the brazilian neopentecostalism that presents itself as a movement of rupture with the two first waves of pentecostalism that procedes it. The prosperity theology developed in the neopentecostalism incorporates the ideal of progress arising from globalizaton, but it does not present no metaphysics of sucess. The material prosperity becomes expected in a magical way, without the pentecostal believer employ any effort to get it. The work is not valued, nor the spirit of laboriousness and the interest in the technical skill of a professsional work. The Sara Nossa Terra church is born from this neopentecostal context, but develops an axiological system that differentiates of it. It develops a structured neoprotestant axiological system from three components: a metaphysics of sucess, a spirituality of consumption, and a hedonic ethics. The globalization is a phenomenon understood as revitalizing of the protestant calvinist beliefs and values that are incorporated by the axiological system of Sara Nossa Terra church and becomes it a legitimate heir of the fundamental beliefs and values of calvinist protestantism. The hedonic ethics is a factor that disaffiliates it of the originary Christianity. But the metaphysics of sucess and the spirituality of consumption refill it to the calvinist protestant genealogy. The hedonic as ideal of life makes the enjoyment of wealth as axiological component of novelty that justifies the use of the prefix “neo” of neoprotestant axiological system of the Sara Nossa Terra church.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume.ufrgs.br:10183/49033
Date January 2011
CreatorsPires, Anderson Clayton
ContributorsNeves, Clarissa Eckert Baeta
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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