A cidade contemporânea é demarcada por uma época de transição correspondente à globalização, em que relações de pertença entre sujeitos e seus contextos parecem cada vez mais apartadas, dissociadas. O conjunto de condições tecnológicas, políticas e econômicas globais produzem paisagens cada vez mais homogêneas, de modo que local e global já não são tão facilmente distinguíveis quando conteúdos, imagens, sentidos daqui(s) e lá(s) se chocam, atravessam e sobrepõem a todo momento. Em tal contexto, o espaço público vem sendo sintetizado como superfície de formas programadas de consumo e uso parcial, o que impõe dificuldades a sua realização como forma social, simbólica e política que transmite uma identidade específica a cada contexto. Este trabalho investiga então que espaço público pode ainda ser (re)produzido/reconhecido em circunstâncias de formas e identidades urbanas cada vez mais pasteurizadas. A hipótese é que, embora as singularidades de cada local sejam constantemente atravessadas por sentidos vindos de todo lugar, por outro lado esses mesmos fluxos podem pelo transbordamento, fricções, contatos que aí acontecem despertar de modo inesperado momentos criativos, ocorrências que aqui conceituamos como Zonas de entremeio. Tais zonas são expressivas de um estado liminar que oferece um momento aberto para a produção de novos sentidos e coalisões, convertendo o habitual em estranho e o conhecido em desconhecido. A abordagem desses campos liminares convoca a retomada de um olhar crítico ao cotidiano, que acompanhe a movimentação de lugares e poderes; que, se desprendendo dos mapas tradicionais, assuma o desafio de uma cartografia sem borda de espaço e de tempo; capaz de perseguir mais os fluxos do que as posições fixas e, assim, admitir rompimentos; que considere a realidade como algo em formação que tem seus desdobramentos pelo(s) tempo(s) e espaço(s). Nos entremeios, nos encontramos então em campos do indeterminado, da suspensão, da dúvida que também é sinônimo de possibilidades outras. Nossa proposta é a de perseguir/apresentar as zonas de entremeios como horizonte (embora não único) do reconhecimento da realização do espaço público, a qual parece encontrar alternativas justamente em condições da cidade contemporânea que pressupõem (ou sugerem) sua impossibilidade. / The contemporary city is undergoing a period of transition related to globalisation, in which relationships of attachment between individuals and their contexts seem increasingly divided and disconnected. A set of technological, political and economic conditions is producing landscapes that are increasingly homogenous, in which local and global are no longer so easily distinguishable, when content, image and meanings from here(s) and there(s) clash together, intersect and overlap all the time. In this context the public space has become synthesised as a surface of programmed forms of consumption and partial usage, which impede its establishment as a social, symbolic and political form that conveys a specific identity to each context. This study investigates how the public space can still be (re)produced/recognised in conditions of urban identities and forms that have become increasingly sterile, postulating that despite the individual features of each locale being constantly permeated by meanings coming from everywhere, these same influxes can on the other hand by causing overflow, friction and contact unexpectedly trigger creative moments and occurrences that we term here In-between zones. These zones relate to a liminal state that provides opportunities for the production of new meanings and coalitions, converting customary into unfamiliar and known into unknown. Consideration of these liminal fields requires taking a critical look at everyday life, together with shifts in places and powers, detached from traditional maps and accepting the challenge of a cartography unrestrained by space and time, concentrating more on flows than fixed positions and thus accepting disruptions; considering reality as something in formation, unfolding through space and time. These in-between zones reveal fields of indefinition, suspension and doubt, which also offer other possibilities. We aim to seek out/present in-between zones as a possible (but not unique) approach to recognition of the establishment of the public space, which seems to find alternatives precisely in features of the contemporary city that seem to presuppose (or suggest) their impossibility.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-17042018-155855 |
Date | 10 November 2017 |
Creators | Crestani, Andrei Mikhail Zaiatz |
Contributors | Alves, Manoel Antonio Lopes Rodrigues |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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