O jogo patológico tem sido amplamente analisado na literatura e, apesar do reconhecimento do impacto que ele causa nos familiares, poucos estudos se dedicaram à família. A maior parte destes baseou-se exclusivamente na experiência profissional dos autores, sem metodologia adequada que permitisse a comparação ou generalização de resultados. O presente estudo tem o objetivo de descrever a estrutura do núcleo familiar de jogadores patológicos e analisar seu funcionamento após a intervenção de um programa psicoeducacional. Familiares que moravam junto com um jogador patológico que aderiu a um programa de tratamento foram convidados para a avaliação familiar. As avaliações constaram de três etapas. A primeira fase foi composta por uma entrevista e aplicação das três escalas da Medida de Avaliação Familiar (FAM Geral, FAM Auto-avaliação, FAM Diádica) e da Escala de Adequação Social. Na avaliação intermediária, antes e após o psicoeducacional, foi aplicada a versão breve da FAM. Finalmente, após um intervalo de um a dois anos os familiares repetiram as escalas da avaliação inicial. Os jogadores foram avaliados no início pela FAM versão breve. A intervenção foi composta por quatro encontros psicoeducacionais baseados em um manual desenvolvido especialmente para familiares de jogadores patológicos e fundamentado no método Reforço Comunitário e Treinamento Familiar. A amostra inicial (n = 91) diminui significativamente depois de seis meses (n=54), sendo que apenas aproximadamente um terço participou da reavaliação final (n = 30). A proporção de mulheres em todas as ocasiões foi expressivamente maior que a de homens (>70%), o que demonstra que são as mulheres que mais aderem a programas intervencionais. A estrutura das famílias dos jogadores patológicos apresenta o jogador ocupando a posição de pai (40,7%) ou de mãe (36,2%) na maior parte das vezes. A maioria dos familiares (83,5%) sabia exatamente quando o jogo havia começado. O fator financeiro foi apontado por 55% dos familiares como o primeiro problema causado pelo jogo, e o relacionamento por 34% da amostra. Tanto o familiar como o jogador percebem o jogador como o paciente identificado. Os familiares consideram o funcionamento da família muito comprometido, sendo que os quesitos mais problemáticos foram a realização de tarefas, a atribuição de papéis, o controle e os valores e normas. Os escores da Escala de Adequação Social indicaram que o ajustamento social dos familiares de jogadores patológicos está prejudicado em todas as áreas exceto relação com filhos em relação a sujeitos normais. Após o programa psicoeducacional em curto prazo os familiares não apresentaram diferença significativa e em longo prazo eles evidenciaram uma redução significativa da questão do controle. Também passaram a perceber os valores e normas do jogador como mais adequados, e descreveram uma melhora na situação econômica. Apesar de alguns resultados começarem a surgir depois do psicoeducacional, esta intervenção não se mostrou suficiente para promover uma mudança consistente no funcionamento familiar. O caráter informativo do psicoeducacional pode ter contribuído em alguns momentos para minimizar o estresse, porém em outros parece não ter dado conta da demanda. / The pathological gambler has been widely investigated in the literature and beyond recognizing the impact they have on family members, few studies have addressed the family itself. The majority of studies have been based exclusively on the professional experience of the authors, without employing suitable methods allowing comparison or generalizing of findings. The present studies aims to describe the structure of the family unit of pathological gamblers and analyze its functioning following intervention by a psychoeducation program. Family members that live together with pathological gambler that joined a treatment program were invited to the family evaluation. Assessments consisted of three stages. The first phase comprised an interview and application of the three Family Assessment Measure scales)(General Scale, Self-Rating Scale, Dyadic Scale) together with the Social Adjustment Scale. The brief version of the FAM was applied both before and after psychoeducation at the intermediate assessment. Finally, following a one to two- year interval, the families repeated the scales of the initial assessment. The gamblers were assessed using the brief version of the FAM. Intervention consisted of four psychoeducation sessions based on a specially developed manual for family members of pathologic gamblers, employing the underlying method of Community Reinforcement and Family Training (CRAFT). The initial sample (n = 91) reduced significantly after six months (n = 54), where only around a third took part in the final assessment (n = 30). The proportion of women present at sessions was markedly greater than men (> 70%), showing that women adhere more to intervention programs. The structure of pathologic gamblers families show the gambler tends to be the father (40.7%) or the mother (36.2%) in most cases. The majority of family members (83.5%) knew exactly when the gambling had commenced. The financial factor was mentioned by 55% of family members as representing the major problem caused by the gambling whilst relationships accounted for 34% of the sample. Both family member and gambler recognized the gambler as a patient. The family members considered family functioning to have been severely compromised, where most problematic issues proved to be Task accomplishment, Role performance, Control and Values and norms. The scores of the Social Adjustment Scale indicated poorer social adjustment in all areas but parental role for the pathological gamblers family in relation to normal subjects. Following psychoeducation program, family members presented no significant difference in the short term, whereas over the long term they showed a significant reduction on the Control scale. They also reported Values and norms of the gambler as having become acceptable, and described improvement in Economic adequacy. Although some positive results began to emerge after the psychoeducation program, this intervention did not prove sufficient to bring about a consistent change in family functioning. The informative nature of the psychoeducation may have contributed at times by minimizing stress, whilst in other areas it seems to have been unable to address the problems.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-16102006-143849 |
Date | 22 August 2006 |
Creators | Maria Helena Bernardi Mazzoleni |
Contributors | Clarice Gorenstein, Isabel Cristina Gomes, André Malbergier |
Publisher | Universidade de São Paulo, Psiquiatria, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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