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Catatau: literatura de obstrução em país bloqueado / Catatau: obstruction literature in locked country

Aqui neste espaço, a que comumente se destina o resumo, bem poderíamos chamá-lo advertência. Talvez deixasse no leitor a impressão mais forte de que não se trata simplesmente da apresentação geral daquilo que deve vir nas páginas posteriores; mas uma censura leve aos desavisados. Sejamos breve. Menos que mapa, só um roteiro. Ao longo do texto tentamos demonstrar por que escolhemos Catatau, e não outro romance talvez melhor acabado ou que fosse sinônimo redondo da literatura praticada no Brasil dos anos de 1970. Nosso ponto de vista: Catatau, enquanto objeto artístico, permanece um óbice ao enquadramento da produção literária de um período e ao mesmo tempo formaliza o impasse artístico e social brasileiro na década de 1970. Lemos Catatau como um ponto privilegiado de onde se pode apreender uma interpretação do Brasil a partir do envolvimento de Paulo Leminski na dinâmica de correspondências entre sua aspiração vanguardista e a impossibilidade dessa constituição em um ambiente de fechamento. Catatau, enigma até certo ponto impenetrável em suas qualidades, nos valeu mais por suas possíveis e prováveis irregularidades. Um desafio acima das forças exige armas. Nesse sentido, fomos procurar as mais adequadas para o enfrentamento: uma abordagem crítica que, como procedimento metodológico e também tomada de posição frente ao texto e à vida, possibilitasse o alargamento seguro do campo de visão. Assim, elementos da Teoria Crítica nos pareceram ser precisos ao deixar o alvo mais vulnerável a nossas investidas. Ao alcançarmos um distanciamento justo, tentamos enfrentar o Catatau como problema literário não resolvido. Dessa maneira, é possível achar em um canto ou outro deste trabalho as tentativas de solucioná-lo. Mas nunca as fizemos de forma direta, demos algumas voltas em torno da atividade artística de Paulo Leminski, contudo sempre a partir dos momentos cruciais da elaboração de Catatau estendendo-se até sua recepção no ambiente conturbado dos anos de chumbo. Uma categoria que se nos apresentou feito um flanco aberto foi a do narrador. Cartesius, produto da estratégia autoral, ao abrir mão de truques e artifícios do realismo formal, rasga os véus da representação. De maneira discreta no conto Descartes com Lentes e de forma mais ostensiva em Catatau, em que o espírito vanguardista, sobretudo sua atitude derrisória, habita o corpo do texto. O riso leminskiano hesita entre a autopreservação e o ataque. O resultado desse movimento é o impasse. Esse encontra correspondência na imagem de Occam, o lado obscuro do nosso atraso que neutraliza a razão cartesiana, bem como na de Articzewski, que é esperado por Cartesius. Para nós, a visão alegórica desta sobreposição de impasses é a encenação de Renatus Cartesius oscilando entre o uso da erva e o da luneta. Enquanto a desrazão e a espera alimentam o impasse, o imobilismo que nos caracteriza emite maus sinais. / These lines, along which one usually unfolds an abstract, might as well be termed as warning. Perhaps it would allow the reader a more vivid impression, once it consists not in a general presentation of the following pages, but rather an advice to the rash ones. One shall be brief. Not a map, just a script. On the course of this text one has tried to show why Catatau was chosen, instead of a maybe better finished novel or some acknowledged sample of what was typically written in Brazil during the 1970s. The present point of view: Catatau, as an art object, remains an impediment to the framing of a periods literary production and, at the same time, formalizes Brazilian artistic and social impasse over the decade. One reads Catatau as a privileged locus from which it is possible to apprehend an interpretation of Brazil through Paulo Leminskis correspondence dynamics between his avant-garde aspiration and its impossibility under an enclosing environment. Catatau, an enigma up to a certain point inscrutable in its qualities, derives its importance mainly from its possible and probable irregularities. A challenge beyond ones forces demands weaponry. In this sense, one has searched for the most adequate one to combat: a critical approach which, as methodological procedure and assumed position in text and life, would safely enlarge the visual array. Therefore, elements derived from the Critical Theory seemed precise as they made the target more vulnerable under ones assault. After reaching a just distance, one has tried to assail Catatau as a nonresolved literary problem. In this way it is possible to find, here and there along the work, attempts to solve it. However, this was never done straightforwardly; one has besieged Paulo Leminskis artistic activity, always departing from crucial moments in Catataus conception following to its reception during the turbulent lead-years. A category presented itself as a weak flank, the narrators. The authorial strategy product, Cartesius - given up formal realisms tricks and devices - tears the representational veils: discretely in the short story Descartes com Lentes, and yet more ostensively in Catatau, where avant-gardes spirit, especially in its derisory vein, inhabits the texts own body. Leminskis laughter oscillates between self-preservation and attack. Impasse is the result of such movement. The later echoes in Occams image, the obscure side of our delay neutralizes the Cartesian reason, as well as in Articzewskis, who Cartesius awaits. The allegoric vision seems us the portrayal of Renatus Cartesius oscillating between the weed and the lunette. While the unreason and the attendance support the impasse, our characteristic steadiness affords bad omens.

Identiferoai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-19022010-104804
Date27 April 2009
CreatorsSousa, Claudio Roberto
ContributorsRabello, Ivone Dare
PublisherBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Source SetsUniversidade de São Paulo
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
TypeTese de Doutorado
Formatapplication/pdf
RightsLiberar o conteúdo para acesso público.

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