A degradação ambiental proporcionada pelo consumo de produtos (JORGENSON, 2003) é fruto tanto da evolução de uma sociedade que se distancia da natureza (MORAN, 2011), quanto de suas reais necessidades (FRY, 2005). Da mesma forma, os interesses do mercado, de governos e de consumidores enrijecem a manutenção de uma sociedade hiperconsumista (FRY, 2005). Este fato é observado pela existência de políticas governamentais de consumo (corrente do consumo verde) que prezam pela rotulagem ambiental, depositam a responsabilidade da redução da degradação ambiental no consumidor (AKENJI, 2014), e que não consideram que o aumento da ecoeficiência, sem questionar quais são os limites ambientais impostos para a realização das atividades humanas, provocam um efeito de rebote que pode elevar ainda mais a degradação ambiental (HANLEY et al., 2009). Em contrapartida, a corrente do consumo sustentável afirma ser necessário repensar os níveis de consumo de modo a não ultrapassarmos os limites impostos pelo ambiente à realização das nossas atividades (AKENJI, 2014). Desta forma, a informação necessária para a corrente do consumo sustentável é aquela que indica em que medida as capacidades de suporte do ambiente foram superadas (ALCOTT, 2008). Dentre todos os instrumentos capazes de fornecer informação sobre os aspectos ambientais de produtos, a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) é o único instrumento desenhado para avaliar as consequências ambientais relacionadas ao ciclo de vida de um produto (CHEHEBE, 1997). Entretanto, as evidências encontradas na bibliografia indicam que os métodos utilizados pela ACV para mensurar as consequências ambientais do produto (métodos de AICV - Avaliação do Impacto do Ciclo de Vida) foram estruturados para calcular majoritariamente a ecoeficiência dos produtos, pois são poucos (ou não indicados pela bibliografia) os casos em que a capacidade de suporte do ambiente é avaliada por estes métodos (POTTING; HAUSCHILD, 2006). Diante deste quadro, esta dissertação se propôs a avaliar se os métodos de AICV existentes estão alinhados à sustentabilidade forte ou se estão alinhados à sustentabilidade fraca. Dois critérios de avaliação foram definidos com base nos princípios da sustentabilidade forte: (i) O resultado do indicador da Categoria de Impacto deve apresentar quanto da capacidade de suporte foi ultrapassada ou não para as emissões relacionadas ao ciclo de vida do produto - alinhado ao princípio (a) da sustentabilidade forte, de que as atividades humanas devem ser limitadas à capacidade de suporte do ambiente (COSTANZA; DALY, 1992) - e, (ii) Todas as Categorias de Impacto (CIs) do método de AICV devem atender ao requisito (i) - alinhado ao princípio (b) da sustentabilidade forte, de que não há substitutabilidade completa entre os diferentes elementos do capital natural (COSTANZA; DALY, 1992). Dos métodos de AICV avaliados (CML 2002, Eco-Indicator 99, Eco-Factors 2006, EDIP 2003, IMPACT2002+, MEErP 2011) verificou-se que nenhum método está alinhado aos princípios da sustentabilidade forte, pois os critérios (i) e (ii) não foram atendidos concomitantemente. Desta forma, concluiu-se que por não estarem alinhados aos princípios da sustentabilidade forte, os métodos de AICV avaliados não são capazes de atender à demanda do consumo sustentável por informações. Sua utilização demonstra que as políticas de consumo verde continuam a depositar a maior responsabilidade pela reversão da degradação ambiental nos consumidores, sem alterar a estrutura sistêmica criada pelos governos, pelo mercado e consumidores na qual o hiperconsumo prevalece. / The environmental degradation provided by the consumption of products (JORGENSON, 2003) is the result of the evolution of a society that distances itself away from nature (MORAN, 2011) and from its real needs (FRY, 2005). At the same time, the interests of the market, governments and consumers maintain the hyper-consumption society (FRY, 2005). This fact is noticed by the presence of government consumption policies that appreciate environmental labeling, lay the responsibility for the reduction of the environmental degradation on the consumer (green consumption current) (AKENJI, 2014), and do not consider that the increase in eco-efficiency, without questioning the environmental limits for human activities, causes a rebound effect that can further raise environmental degradation (HANLEY et al., 2009). In contrast, the sustainable consumption current claims to be necessary to rethink consumption levels in order not to overpass the limits imposed by the environment for our activities (AKENJI, 2014). Thus, the necessary information for the sustainable consumption current is the one that indicates to what extent the environmental carrying capacity is exceeded (ALCOTT, 2008). Among all the instruments able to provide information on the environmental aspects of products, the Life Cycle Assessment (LCA) is the only instrument designed to assess the environmental consequences related to the life cycle of a product (CHEHEBE, 1997). However, the evidence found in the literature indicates that the methods used by LCA to measure the environmental impact of products (LCIA methods - Life Cycle Impact Assessment) were structured to mainly calculate the eco-efficiency of products, once there are only a few cases (or no indicated by references) in which the environmental carrying capacity is assessed by these methods (POTTING; HAUSCHILD, 2006). Given this context, this work aimed to evaluate whether existing LCIA methods are aligned to the strong or weak sustainability currents. Two evaluation criteria were defined on the basis of strong sustainability: (i) The results of the Impact Category indicator should present how much of the carrying capacity has been exceeded or not by the emissions related to the product life cycle according to the principle (a) of the strong sustainability, which states that human activities should be limited by the environmental carrying capacity (COSTANZA; DALY, 1992) - and (ii) All Impact Categories of a LCIA method must meet the requirement (i) - according to the principle (b) of the strong sustainability, which states that there is no complete substitutability between the different elements of natural capital (COSTANZA; DALY, 1992). From the evaluation of the LCIA methods (CML 2002, Eco-Indicator 99 Eco-Factors 2006, EDIP 2003 IMPACT2002+ and MEErP 2011) it was found that any of these methods are aligned with the principles of the strong sustainability, once the methods do not comply with criteria (i) and (ii ) concurrently. Thus, it was concluded that once they are not aligned to the principles of strong sustainability, the evaluated LCIA methods are not able to meet the demand of sustainable consumption for information. Its use demonstrates that green consumption policies continue to place the greatest responsibility for the reversal of the environmental degradation on consumers, without changing the systemic structure created by governments, the market and consumers in which hyper-consumption prevails.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-28012017-145109 |
Date | 14 October 2016 |
Creators | Renato Inhasz Paiva |
Contributors | Paulo Antonio de Almeida Sinisgalli, Sylmara Lopes Francelino Gonçalves Dias, Luiz Alexandre Kulay, Flavio de Miranda Ribeiro |
Publisher | Universidade de São Paulo, Ciência Ambiental, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
Page generated in 0.0032 seconds