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Paixões e identidade cultural em Manoel de Barros: o poema como argumento

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Previous issue date: 2006-08-15 / A reais funções da língua e seu sentido mais agudo só se deslevam
efetivamente quando observadas no exercício do dizer, no exercício cotidiano do
traduzir-se para traduzir o que se entende por realidade. Vista assim, a língua em
uso impõe ao falante uma categoria de ação interlocutória que é, ao mesmo
tempo, reveladora de características idiossincráticas e de aspectos culturais que
são inerentes à própria concepção do termo língua: a linguagem verbal de um
grupo específico de pessoas. Visto nessa perspectiva, o ato de dizer desnuda aos
poucos, mas constantemente, o sujeito que a utiliza nas inúmeras situações de
interação com o outro, bem como um certo modo de ser do grupo em que se
insere. Mostra, pois, marcas particulares variações/variedades de grupos,
regiões geográficas, diversidades que se constituem em discurso (movimentos
dos sentidos) quando assumidas por um sujeito. O discurso - de um modo ou
outro, parte da identidade de um indivíduo, mas só pode existir por situar-se num
universo de conhecimentos e de paixões construídos dentro de determinada
cultura. Sustentar essas premissas são fundamentais para os propósitos deste
trabalho: descrever as paixões do pantaneiro / bugre a partir da poesia de Manoel
de Barros. Para detectá-las, observo como se constroem tais paixões em língua,
observo como se dá o exercício de construção do poema pelo poeta, isto é,
debruço-me sobre a língua como um objeto de interação homem/natureza, como
exercício de construção singular, capaz de ressaltar paixões e formas identitárias,
capaz de caracterizar um poeta em exercício de criação e seu objeto como
cenário revertido (ou transmutado) em língua e língua em discurso. Ademais, para
o cumprimento de meus propósitos, considero, por princípio, que os poemas,
embora exercitem a liberdade natural permitida pela busca e tradução da poesia,
por serem tradução singular da poesia em língua, não perdem, como em qualquer
discurso, as características de intencionalide e de argumentatividade. Os poemas,
portanto, têm, aqui, características argumentativas: são vistos na intersecção entre
ethos, logos e pathos, num conjunto polifônico em que o retor e o auditório
entrecruzam suas vozes e as fazem aflorar no enunciado para ressaltar paixões e
idiossincrasias identitárias. Por isso, para os objetivos deste trabalho, é preciso
considerar, sempre, que há, nos poemas, a existência de uma argumentação
empírica, fundamentada na experiência observada e vivida através da presença
dessa construção caracteristicamente opinativa (porque subjetiva) e uma
cenografia que engendra enunciado e enunciação.
Para a análise do caleidoscópio apresentado por Manoel de Barros,
este trabalho sustenta-se nos princípios da Retórica e da Nova Retórica, tão
revisitada pelos estudos lingüísticos modernos, para, pelo princípio da indução,
analisar o lugar argumentativo do preferível, para a verificação dos valores, dos
lugares-comuns e das perguntas dialéticas como categoria de análise. Algumas
outras teorias, ancilares, serão contempladas - por, de um modo ou outro,
representarem um traço de união, menos ou mais tênue, com a Retórica: a
Pragmática lingüística de Ducrot, os estudos franceses de Análise do Discurso e a
Teoria da Enunciação, cada uma perfeitamente definida em seus propósitos, com
delimitações também específicas de análise e visões de encunciação, mas que, a
meu ver, sem ferir os princípios que as norteiam, podem fornecer subsídios para a
criação do pensamento analítico-retórico dos poemas de Manuel de Barros.
Consideram-se, também, neste trabalho, as paixões como um estado
de alma em inquietação que reflete a identidade tal como esta se apresenta ao
grupo de determinada comunidade e em Manoel de Barros busco confirmar a
existência passional não como espelho estrito das paixões que foram estudadas
por Aristóteles, mas, sim, como pathos, forma de se apresentarem no universo
singular do pantanal, enfim, como qualidade ou o conjunto de qualidades passivas
não só do sujeito, mas também de todo objeto em geral, numa correlação
entranhada de homem/objeto, objeto/homem, de natureza ontológica e não só
psicológica. Chegamos a algumas conclusões, como sobre as paixões na obra do
poeta refletirem a identidade do bugre; a criação de metáforas da natureza que
representam a vida pantaneira: a cultura social que guia o poeta individual; a
paixão pela vida como memória/tempo; a contribuição da Retórica, através das
idéias aristotélicas que podem servir de prisma para análises da realidade atual;
mas, ressaltamos, ao conectar ethos , logos e pathos , o ato retórico continua
jorrando poesia e linguagem sem ponto final, água viva. Por isso estudar a paixão
do bugre nunca estanca, mas represa-se no Pantanal para recriar vida e morte

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:leto:handle/14405
Date15 August 2006
CreatorsAzevedo, Lucy Ferreira
ContributorsFerreira, Luiz Antonio
PublisherPontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em Língua Portuguesa, PUC-SP, BR, Língua Portuguesa
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da PUC_SP, instname:Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, instacron:PUC_SP
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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