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Uma filosofia do 'qualquer' : a gênese da primeira teoria da denotação de Bertrand Russell

Esta dissertação tem um duplo objetivo. O primeiro deles — e o principal — é a tentativa de verificar uma hipótese acerca das razões de Bertrand Russell para conceber a sua primeira teoria da denotação, apresentada em The Principies of Mathematics (PoM). A teoria da denotação é urna explicação excepcional (no contexto da semântica de Russell) do significado de expressões denotativas da linguagem natural, expressões constituídas por alguma das seguintes seis palavras: "todo", "qualquer", "cada", "algum", "um"e "o"(ou suas declinações). Trata-se de apresentar a teoria de Russell como solução para um problema, e a hipótese que proponho é uma segundo a qual esse problema deriva da conjunção de três teses que Russell sustentava à época da publicação de PoM. Argumento que as ideias de Russell acerca da relação entre as expressões da linguagem natural e aquilo que lhes confere significado, da natureza dos constituintes do mundo e da relação entre mente e mundo no intercurso epistêmico formam um conjunto incompatível com a constatação trivial de que sentenças da linguagem natural que contêm expressões denotativas são inteligíveis. As ideias de Russell aludidas acima implicam que a inteligibilidade de uma expressão denotativa — e, de modo geral, de qualquer menor item semanticamente ativo de uma sentença da linguagem natural — requer a satisfação de duas condições: a existência de uma entidade no mundo que tal expressão representa e o vínculo epistêmico de contato entre o sujeito e tal entidade. A satisfação dessa dupla condição acarreta que, ao apreender o signifcado de uma expressão denotativa como, por exemplo, "todos os homens", eu estou em contato com todos os homens, o que, evidentemente, é impossível. Se o contato com aquilo que é o significado de um certo número de expressões denotativas é impossível (como no caso anterior), há que se postular um elemento semântico que não aquelas entidades no mundo, de modo que a inteligibilidade de tais expressões seja preservada. A teoria da denotação é esse postulado, e o elemento que medeia o vínculo entre a expressão denotativa e os objetos no mundo é o conceito denotativo. Pretendo também demonstrar que as ideias de Russell que conduzem ao problema acima noticiado sobrevivem ao abandono da teoria da denotação. Se é verdade que, a partir da publicação de On Denoting (OD), Russell adota uma perspectiva mais "desconfiada" acerca da transparência semântica da linguagem natural — o que implica a recusa da análise proposta em PoM, onde expressões denotativas são expressões às quais se pode legitimamente atribuir significado isoladamente —, também é verdade que Russell (i) continuará a pensar no funcionamento de linguagens logicamente mais nítidas à maneira antiga, segundo a qual o significado das expressões dessas linguagens reduz-se, em última análise, à satisfação das duas condições mencionadas no parágrafo anterior; (ii) permanecerá concebendo os constituintes do mundo, que conferem significado às expressões da linguagem, como entidades objetivas, no sentido de não serem constituídas pela atividade mental; e (iii) que continuará dentro de uma perspectiva epistemológica segundo a qual o vínculo epistêmico entre sujeito e mundo é de contato ou direto, isto é, não-mediado por ideias ou representações. / This thesis has two aims: the first and the main one is to try to verify an hypothesis concerning Bertrand Russell's reasons to frame his first theory of denoting, which he presents in The Principies of Mathematics (PoM). The theory of denoting is an anomalous (within Russell's semantics) account of the meaning of denoting expressions of natural language, expressions formed by any one of the six following words: "all", "any", "every", "some", "a"and "the". I present Russell's theory as a solution to a problem, and according to my hypothesis the problem arises from the conjunction of three theses Russell held at the time he wrote PoM. I argue that Russell's theses concerning (i) the relation between the expressions of natural language and their meanings, (ii) the nature of the constituents of the world and (iii) the epistemic relation between mind and world are incompatible with the statement that sentences containing denoting expressions are intelligible or meaningful. Russell's ideas imply that understanding the meaning of a denoting expression — and understanding the meaning of any of the shortest semantically active expressions of language — requires two conditions to be satisfied: there must exist some entity in the world that the expression stands for and there must be a direct epistemic relation between the mind and this entity. If both conditions are to be satisfied, it must be the case that as I apprehend the meaning of a denoting expression like "all men", for example, I am in a direct epistemic relation, acquaintance, with ali men, which is clearly impossible. If acquaintance with the meaning of a certain class of expressions is impossible (as in the example above), a propositional constituent other than the denoted entity must be posited, such that it will account for the expressions' meaningfulness. Russell's first theory of denoting is grounded in the postulate according to which there are such constituents, the "denoting concepts", bridging the gap between denoting expressions and entities in the world. The second aim of the thesis is to provide evidence of the preservation of the abovementioned ideas in Russell's thought after his abandonment of the theory of denoting. Although it is certainly true that after On Denoting (OD) Russell grows increasingly suspicious about the "transparency"of natural language — which implies the departure from the PoM style of semantic analysis, according to which denoting expressions have meaning in isolation it is nevertheless true that Russell keeps thinking that (i) the meaning of an expression in a logically adequate language is secured by the satisfaction of the two conditions mentioned in the preceding paragraph; (ii) the constituents of the world are objective, in the sense that they are not the outcome of the "work of the mind"; and (iii) the basic epistemic relation between mind and world is that of acquaintance, i. e., it is not mediated by ideas or representations.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume.ufrgs.br:10183/36041
Date January 2010
CreatorsCorrêa, Cleber de Souza
ContributorsFaria, Paulo Francisco Estrella
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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