O presente estudo teve por objetivo investigar as práticas e as representações ligadas à vida reprodutiva entre jovens universitários da Universidade de São Paulo (USP), especialmente aquelas dirigidas à contracepção e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, no âmbito das relações heterossexuais.A pesquisa foi dividida em duas fases. Na primeira, foi elaborada uma amostra representativa dos estudantes matriculados em cursos de graduação da USP, na Cidade de São Paulo, no ano de 2000, e foram entrevistados 952 alunos e alunas com idade entre 17 e 24 anos. Na segunda, foram gravadas entrevistas em profundidade com 33 estudantes que se ofereceram voluntariamente para continuar participando da pesquisa. O uso do condom é freqüente entre os estudantes universitários, principalmente na primeira relação sexual. No entanto, o uso desse método apresenta descontinuidades. Além da primeira relação sexual, o condom é usado especialmente nas relações casuais e no início dos relacionamentos sexuais com um parceiro ou uma parceira novos. Os jovens negligenciam o condom no contexto do namoro, tendendo a substituí-lo pela pílula. A contracepção é cercada por descuidos, erros e esquecimentos e os estudantes mencionam que utilizam métodos de baixa eficácia, como o coito interrompido e a abstinência periódica para regular a fecundidade. Os estudantes manifestam um forte desejo de adiar a fecundidade, mas o uso inadequado de métodos contraceptivos e o recurso aos métodos de baixa eficácia podem levar a uma gestação não planejada. 77% do total de entrevistados afirmou que gostaria de ter até dois filhos e a idade ideal para ter o primeiro filho seria próxima aos 30 anos. Somente 4% dos entrevistados e entrevistadas referiram ter passado por uma gestação. Apesar do pequeno número de gestações referidas, o aborto provocado foi a forma de finalização de uma alta proporção dessas gestações. Os resultados da pesquisa indicam que uma complexa rede de representações simbólicas subsidia as condutas diante da contracepção e da saúde reprodutiva. Essas representações constróem o sentido da sexualidade, classificando-a, definindo regras e obrigações segundo cada situação e orientando práticas. Questões de gênero pontuam os discursos sobre os temas tratados. As diferentes concepções sobre o "ficar" e o namorar, a opção pelo método contraceptivo, as representações sobre as responsabilidades do homem e da mulher frente à contracepção e, especialmente, os discursos sobre o aborto revelam a importância que os diferenciais de gênero assumem perante a construção do sentido da sexualidade e da vida reprodutiva. Questões de gênero também marcam a busca de orientação médica, no âmbito da saúde reprodutiva. A consulta médica é restrita ao grupo das mulheres e o método mais indicado é a pílula, embora trate-se de jovens mulheres solteiras que estão iniciando a sua vida sexual. Observa-se, por sua vez, que os homens jovens estão totalmente alijados do sistema de saúde, ainda que se trate de um grupo com alta escolaridade que recorre à medicina privada. O estudo indica que os diferenciais de gênero estão presentes desde o processo de rotulações e significações que dão sentido a vivência da sexualidade e da regulação da fecundidade até o âmbito das políticas públicas voltadas para a saúde reprodutiva dos jovens, revelando uma importante lacuna nos serviços de saúde que necessita ser contemplada por políticas públicas capazes de promover a eqüidade de gênero na atenção à saúde reprodutiva e de incluir os jovens do sexo masculino nos serviços de saúde. / The present study aimed at investigating the practices and representations linked to the reproductive life of university youths from the Universidade São Paulo (USP) especially those geared at contraception and prevention of STDs in the scope of heterosexual relations. The project was divided into two phases. In the first a representative sample of 952 male and female students between 17 and 24 years old enrolled in under-graduate courses at USP in the city of São Paulo in 2000 was elaborated. In the second phase in-depth-interviews with 33 students that volunteered to continue take part of the research were recorded. The use of condom is frequent among university students mainly at the first sexual intercourse. However, this method presents discontinuity. Beyond the first sexual intercourse it is used especially in the casual relationships and in the beginning of new sexual relationships with a new partner. Youth neglect the condom in the dating context tending to replace it for the pill. Contraception is surrounded by carelessness, mistakes and neglect and the students mention the use of low efficacy methods such as interrupted copulation and periodic abstinence for fertility control. The students revealed strong will to delay fertility but the inadequate use of contraceptive methods and use of low efficacy methods may lead to an unplanned pregnancy. 77% of the interviewees state that they would like to have up to two children and that the ideal age for the first child would around 30. Only 4% of the interviewees referred having had a gestation. Despite the small number of pregnancies referred the provoked abortion represented a high proportion of pregnancy termination. The results of the survey indicate that a complex network of symbolic representations accounts for the conducts in terms of contraception and reproductive health. These representations construct the sense of sexuality, classifying it, defining rules and obligations according to each situation and guiding practices. Gender issues mark the discourses on the themes discussed. The different conceptions about noncommitted dating and dating proper, the option for the contraceptive method, representations on the male and female responsibilities with reference to contraception and especially the discourses on abortion reveal the importance the gender differentials possess in face of the construction of meaning of sexuality and reproductive life. Gender issues influence the search for medical guidance in the context of reproductive health. Medical consultation is restricted to the female group and the most prescribed contraceptive method is the pill in spite of the fact that they are young single women in the beginning of their sexual life. On the other hand it was observed that young men are totally cast out of the health system notwithstanding the fact that this is a group with high level education with access to private medicine. The study indicates that the gender differentials are present from the process of labeling and signification that attribute meaning to the experiencing of sexuality and the regulation of fertility to the scope of public policies capable of promoting gender equity in the attention to reproductive health of youth. That reveals an important gap in the health services that must be addressed by gender equity promoting public policies that also inscribe male youth in the health services.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-25042003-183553 |
Date | 11 October 2002 |
Creators | Pirotta, Katia Cibelle Machado |
Contributors | Schor, Neia |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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