Return to search

Memória histórica do Massacre de Felisburgo: um estudo sobre trauma psicossocial e processos de resistência

Made available in DSpace on 2016-04-29T13:31:16Z (GMT). No. of bitstreams: 1
Fabiana de Andrade.pdf: 1722405 bytes, checksum: 4661c533c91d89aaebd7113cfaed01e6 (MD5)
Previous issue date: 2015-03-06 / The aim of this thesis is to present the research and intervention carried out at the Terra Prometida (Promised Land) Settlement located in the Municipality of Felisburgo in the State of Minas Gerais, Brazil. In 2004, there was a massacre of the landless workers living at the settlement, which became known as The Felisburgo Massacre . It is intended to present the context of the massacre according to the Reconstruction of Historical Memory theoretical perspective while also relating it to wider context of the struggle for land in Brazil. We will discuss the subject on the basis of psycho-social studies and interventions in cases of extreme violence and relate them to the process producing affects based on the concept of ethical-political suffering coined by Sawaia. This concept seeks to analyze the political dimension of affects based on the use of this term in the work of Vygotsky and Spinoza. In order to do this, we used the work of authors who shared a socio-historical approach so that we could understand the structure/nature of the affects that constitute psycho-social trauma. The methodology is based on the premises of Socio-Historical Psychology and Liberation Psychology and the analysis of affects on Vygotskian theory. We concluded that from the workers point of view it is essential to raise the question of the massacre and share the suffering resulting from it in order to deepen both understanding of its real causes and its possible psychological consequences and to avoid it being seen as a normal phenomenon. The analysis of the data revealed the existence of mechanisms, affects and psycho-social reactions already studied by Riquelme (1993) and Martín-Baró (2000) among others, and which we have termed psycho-social trauma . In addition to this the workers were encouraged to give think carefully about the question of the seizure and occupation of land and the lack of social justice that makes them vulnerable to processes of re-traumatization. It was held that suffering and traumatization do not heal themselves or simply fade away with the passage of time. In order to break the cycle of repetition they have to be reworked. It is our opinion that Psychology can intervene in a therapeutic community by producing deep analysis with the aim of raising consciousness about the event and its consequences. The aim of the intervention was to ensure that the landless workers understood that the violent process which produced the massacre goes beyond the event itself and forms part of the historical process leading to the emergence of the Brazilian people, a process stained by innumerable forms of violence against workers. Faced with an official policy of silence, we have to develop actions to publicize the narratives, memories and diverse expressions (subjectivisations) which can be used to break through the curtain of silence and trivialization of this chain of historical violence in our country. Reversing the effects of psycho-social trauma thus means producing reflective consciousness and intensifying action / O objetivo desta Tese é apresentar uma pesquisa-intervenção realizada no acampamento Terra Prometida, em Felisburgo/MG, onde ocorreu um massacre contra trabalhadores rurais sem terra, em 2004, e que ficou conhecido como o Massacre de Felisburgo . Para tanto, apresenta o contexto do massacre, na perspectiva de reconstrução da memória histórica, relacionando-o com o contexto mais amplo de luta pela terra no Brasil; realiza uma discussão partindo dos estudos e intervenções psicossociais em casos de violência extrema e os relaciona à política de produção de afetos, a partir do conceito de sofrimento ético-político cunhado por Sawaia que, resgatando obras de Vigotski e Espinosa analisa a dimensão política dos afetos. Assim, utilizamos as contribuições de autores que compartilham de uma visão sócio-histórica, para compreender a composição dos afetos que configuram o trauma psicossocial. A metodologia é baseada nos pressupostos da Psicologia sócio-histórica e da Libertação. Pudemos verificar que, do ponto de vista dos trabalhadores, é fundamental tematizar o massacre e compartilhar o sofrimento decorrente, para fortalecer a compreensão das verdadeiras causas do acontecimento, ampliando a compreensão sobre as possíveis consequências psicológicas produzidas, evitando sua banalização. A análise dos dados revela mecanismos, sentimentos e reações psicossociais já estudados por Riquelme (1993) e Martín Baró (2000), entre outros autores, e que estamos denominando como trauma psicossocial. Os trabalhadores refletem sobre a questão da ocupação de terras e a falta de justiça que os tornam vulneráveis a processos de re-traumatização. Consideramos que o sofrimento e a traumatização não se curam ou se esvaecem com o tempo, mas são reproduzidos subjetiva e objetivamente e, no caso desta pesquisa, pela impunidade dos executores. Para que se interrompa o ciclo de repetição, eles têm de ser rememorados coletivamente, para substituir emoções tristes por emoções potentes é preciso que seja cumprida a justiça e rememorado afetiva e publicamente o acontecimento. Compreendemos que a Psicologia pode intervir em uma terapêutica comunitária a partir da produção de reflexões sobre os afetos, ou seja, sobre a forma como o corpo e a mente foram afetados pelo trauma, permitindo que os trabalhadores compreendam que o processo histórico de produção de violência ultrapassa a experiência específica ocorrida ali. O silêncio faz parte do processo de re-traumatização, vivido como medo, humilhação e culpa. Frente ao silenciamento, temos de publicizar produções de narrativas, memórias e expressões diversas (subjetivações) a partir das quais seja possível a ruptura da banalização dessas violências históricas em nosso País. Desse modo, reverter o trauma psicossocial significa tornar o sofrimento dizível e reflexivo coletivamente para aumentar a potência de pensar da consciência e de agir do corpo, individual e coletivo, mas também lutar socialmente contra a impunidade e a violência no campo, que constituem um dos pilares da traumatização sequencial e da re-traumatização. Teoricamente, a Tese concorda com Baró de que os traumas psíquicos não são imprevisíveis e de caráter individual, mas psicossociais e sequenciais. Nossos dados demonstram que se trata de processos de re-traumatização, não só por conta da memória e da cristalização de sentimentos, mas pela perpetuação social da violência

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:leto:handle/17101
Date06 March 2015
CreatorsCampos, Fabiana de Andrade
ContributorsSawaia, Bader Burihan
PublisherPontifícia Universidade Católica de São Paulo, Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social, PUC-SP, BR, Psicologia
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da PUC_SP, instname:Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, instacron:PUC_SP
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

Page generated in 0.003 seconds