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Transferência e temporalidade na clínica das psicoses

A presente dissertação busca contornar interrogantes advindos de nossa experiência junto à clínica das psicoses - no marco de nossa inserção no Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Clínica das Psicoses, da Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS. Esta conjuga distintas vivências, da escuta individual de pacientes ao envolvimento no trabalho de oficinas terapêuticas, as quais, ao longo do tempo, fizeram-nos questionar acerca das especificidades e impasses do laço transferencial aí colocado. A noção de temporalidade, desde a psicanálise, nos foi bastante cara no armado desta questão. Nos primeiros momentos de nosso texto, intentamos situar o terreno das principais elaborações de Freud e Lacan acerca da temática das psicoses, desde onde nossa questão sobre a transferência poderia alojar-se. Deste modo, fez-se preciso retomar dois dos principais casos clínicos freudianos, Schreber e o Homem dos Lobos, para melhor situar os entornos da contraindicação freudiana quanto ao trabalho analítico com pacientes psicóticos, bem como extrair consequências da colocação em relevo do mecanismo da Verwefung (foraclusão) para os desdobramentos subsequentes de Lacan. Abordaremos, a seguir, a guinada que a leitura lacaniana das referidas proposições faz apontar como possibilidade no trabalho junto às psicoses. Para trabalhar sobre os fragmentos clínicos que estiveram na base das interrogações propulsoras desta pesquisa, fez-se relevante traçarmos algumas considerações acerca da noção de escrita do caso em psicanálise. Desde então, arrolamos algumas destas narrativas da clínica onde, parece-nos, de distintos modos, contorna-se uma pergunta sobre a transferência em seu enlace com a temporalidade. Acolhemos uma hipótese, destarte, de que a constituição psicótica colocaria em cena uma espécie de abismo temporal, desde a não incidência de balizas simbólicas capazes de instituir um ritmo – intervalo – entre o campo do sujeito e o campo do Outro. Considerando a acepção de Lacan quanto ao registro inconsciente enquanto pulsátil, vislumbraríamos uma fratura no tempo de fechamento, desvelando o psicótico enquanto mártir deste inconsciente a céu aberto. Tais elaborações terão implicações cruciais às especificidades do armado transferencial, onde se colocaria em jogo a possibilidade de forjar-se um tempo, desde a presença do analista enquanto sustentadora de umaposição de vazio capaz de possibilitar ao sujeito algum estancamento no movimento infinitizado do significante, incessante promovedor do congelamento do sentido. / The present dissertation tries to circumvent questions about our experience with the clinic of psychosis – in our insertion in the Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Clínica das Psicoses, from Clínica de Atendimento Psicológico da UFRGS. This brings different experiences, from listening individually to the patients to being involved with the work of therapeutic workshops, which, over time, has made us wonder about the specifics of the transference and its impasses at psychosis clinical. The notion of temporality, from psychoanalysis, was quite important for this issue. In the first moments of our text, we intend to situate the main elaborations of Freud and Lacan on the subject of psychosis, from which our question about the transference could have place. Thus, it became necessary to resume two major clinical freudians cases, Schreber and the Wolf Man, in order to locate the surroundings of the contraindication regarding the freudian analytic work with psychotic patients and to draw consequences of placing emphasis on the mechanism of Verwefung (foreclosure) for the subsequent developments of Lacan. We will address, then, the Lacanian reading of these propositions, showing how the work with psychosis is possible. In order to work on the clinical fragments that were on the basis of the questions driving this research, it was important to draw some considerations about the notion of writing of the case in psychoanalysis. Since then, we mention some of these narratives from the clinic which, in different ways, leads us to a question about the transference and its link to the temporality. We situate a supposition, thus, that the psychotic constitution brings to our attention a kind of abyss of time, considering the non-incidence of symbolic beacons that are able to establish a rhythm – a break – between the subjetc´s field and the Other´s field. Considering the proposition of Lacan about the unconscious registration as pulsatile, we could see a fracture at the closing time, unveiling the psychotic as a martyr of the unconscious as an open sky. These elaborations will have crucial implications on the specificities from the transference, where we put into play the possibility of forging a time, since the presence of the analyst while sustaining a position of emptiness that may allow the subject some stagnation in the in the incessant movement of significant, promoter of the freezing sense.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/35392
Date January 2011
CreatorsCunda, Marília Spinelli Jacoby
ContributorsPoli, Maria Cristina Candal
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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