Introdução: Em 2015, a infecção pelo zika começou a chamar a atenção de profissionais de saúde da região Nordeste. Apesar dos sintomas semelhantes aos da dengue, tratava-se de uma enfermidade que até então não estivera presente no território brasileiro. No segundo semestre de 2015, houve um aumento nos casos de microcefalia em recém-nascidos e com isso, pesquisadores descobriram que essa condição neurológica estava associada à infecção pelo referido vírus em gestantes. Desta forma, a gravidez em tempos de zika tornou-se uma preocupação para mulheres. Vivenciar uma gestação nestas condições poderia resultar em sofrimento mental para as mulheres, principalmente ao considerar que as áreas mais afetadas pela epidemia são marcadas por vulnerabilidades econômicas e sociais. Grupos e instituições que defendem o direito ao aborto nos casos de infecção pelo zika colocam seus argumentos em circulação na esfera pública, ao mesmo tempo em que atores com posicionamento contrário procuram defender seus discursos. Objetivos: Buscou-se mapear a controvérsia em torno do zika e a interrupção da gravidez para gestantes infectadas pelo vírus em dois jornais brasileiros, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. Metodologia: Trata-se de uma pesquisa qualitativa, envolvendo análise documental de notícias. Foram selecionados textos jornalísticos do período de novembro de 2015 a dezembro de 2017. Por meio da Teoria Ator-Rede de Latour, buscou-se mapear a controvérsia sobre o direito ao aborto para gestantes infectadas pelo zika, identificando os atores e os argumentos que a compõem, por meio da elaboração de categorias de análise. Resultados e discussão: Observou-se que os atores que se posicionaram diante do problema foram médicos, pesquisadores, representantes da esfera jurídica, representantes governamentais, movimentos sociais, organismos internacionais e grupos religiosos. Os argumentos favoráveis recorrentes foram a gravidade da microcefalia, negligência do Estado, sofrimento das mulheres atingidas pela epidemia, defesa da descriminalização do aborto. Enquanto que os argumentos contrários se concentraram na incerteza sobre a relação causal entre zika e microcefalia e o valor da vida humana. Além disso, a presença de vozes das mulheres afetadas pela epidemia foi menor em relação aos outros atores. Considerações finais: O debate sobre a relação entre o vírus e o direito ao aborto foi perdendo força após o ano de 2016, porém reacendeu o debate do aborto. O zika pode ser um objeto adequado para refletir como a comunidade médica e de pesquisadores constroem controvérsias nos veículos midiáticos, bem como outros atores envolvidos no tema, como movimentos sociais, grupos religiosos, representantes governamentais, jurídicos, organismos internacionais. No entanto, nos veículos de comunicação, há uma hegemonia do discurso científico, enquanto que as vozes das mulheres não ecoam neste meio. / Introduction: In 2015, the zika infection began to catch the attention of health professionals in the Northeast region. Despite the symptoms similar to those of dengue, it was a disease that had not been present in Brazil until then. In the second half of 2015, there was an increase in the cases of microcephaly in newborns and with that, researchers found that this neurological condition was associated with the infection by said virus in pregnant women. In this way, pregnancy in times of zika has become a concern for women. Experiencing a pregnancy in these conditions could result in mental suffering for women, especially considering that the areas most affected by the epidemic are marked by economic and social vulnerabilities. Groups and institutions that defend the right to abortion in cases of zika infection place their arguments in the public sphere, while opposing actors try to defend their speeches. Objectives: We aimed to map the controversy around zika and the interruption of pregnancy to pregnant women infected by the virus in two Brazilian newspapers, Folha de S. Paulo and O Estado de S. Paulo. Methodology: This is a qualitative research, involving documentary analysis of news. Journalistic texts were selected from November 2015 to December 2017. Through the Latour Actor-Network Theory, we tried to map the controversy over the right to abortion for pregnant women infected with zika, identifying the actors and the arguments that the compose, through the elaboration of categories of analysis. Results and discussion: It was observed that the actors who posed the problem were doctors, researchers, legal representatives, government representatives, social movements, international organizations and religious groups. Favorable arguments were the seriousness of microcephaly, neglect of the State, the suffering of women affected by the epidemic, and the defense of the decriminalization of abortion. While the opposing arguments focused on uncertainty about the causal relationship between zika and microcephaly and the value of human life. In addition, the voices of the women affected by the epidemic were lower than the other actors. Final Considerations: The debate over the relationship between the virus and the right to abortion was losing strength after 2016, but it rekindled the abortion debate. The zika can be an appropriate object to reflect how the medical community and researchers construct controversies in the media vehicles, as well as other actors involved in the theme, such as social movements, religious groups, government representatives, jurists, international organizations. However, in the media, there is a hegemony of scientific discourse, while the voices of women do not echo in media vehicles.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-05072019-133302 |
Date | 10 June 2019 |
Creators | Gonçalves, Bruna Aparecida |
Contributors | Zioni, Fabiola |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Dissertação de Mestrado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
Page generated in 0.0028 seconds