Na atuação feminista, em debates com militantes e gestoras de políticas com vivência acadêmica, percebi o desenvolvimento de um raciocínio que me incomodava: a transposição de certos modos de pensar as mulheres e o gênero construídos no campo do trabalho, cidadania e políticas públicas para a educação. Dessas ponderações, desdobraram-se duas grandes questões: 1) Como a categoria gênero vem sendo utilizada nas pesquisas em educação?, 2) Que categorias vêm sendo (re)criadas nesse encontro entre os estudos de gênero e os estudos em educação? Para tanto, propus-me a estudar as teses de doutorado a respeito das relações de gênero e educação produzidas no Brasil no período 1994-2004, tendo realizado o levantamento das teses na base Capes e nos sites dos acervos e bibliotecas das universidades cadastradas na Capes com doutorado em educação. Após operar com alguns recortes, decidi estudar apenas os trabalhos que se propunham a uma revisão ou recriação de categorias explicativas do campo da educação à luz do gênero, em um total de dez teses. Retomando uma longa trajetória de reflexão da Sociologia da Educação, busquei destacar dos estudos de gênero em educação a compreensão da realidade educacional brasileira como uma realidade social específica, em suas matizes e complexidades, e não como qualquer outra realidade social. Por outro lado, estando a educação no meio de campo híbrido, tenso, conflituoso entre o público e o privado, a família e o Estado, o olhar de gênero em suas diversas dimensões pode trazer grandes contribuições para a melhor compreensão da realidade educacional, como: a própria ruptura dessas polaridades; as possibilidades colocadas pelo gênero neutro, pelas formas híbridas; a não desqualificação nem negação do que seria associado ao doméstico, ao privado, ao feminino; a assunção das tensões e conflitos. Foi nesse sentido que me propus a estudar os usos de gênero nas teses escolhidas: investigar como essa categoria vem sendo construída nos estudos em educação, deslocando-me da pergunta sobre os porquês do gênero. Isso só foi possível pois, embora talvez sejam ainda pouco considerados no campo da educação, os estudos de gênero já se constituem em um campo teórico relativamente consolidado embora marginal, guetizado -, o que ficou evidente nas teses estudadas. Por fim, pude perceber a construção de confrontos teóricos fundamentais no campo da educação, como, por exemplo, a discussão de que são diferentes o trabalho docente primário e o trabalho doméstico, o agir coletivo e o sindicalismo, o trabalho docente e o trabalho profissional ou o trabalho proletário, que o trabalho de educadoras na rede clandestina de educação infantil é legítimo - exemplos de um trabalho intelectual apurado, acurado e ousado. / During feminist activism, on debates to activists or politicians related to the university, I noticed certain thought that I disagreeded to: moving certain ways of thinking about women and gender created on the fields of work, citizenship and public politics to education. Thinking about it, two questions were developed: 1) How the category gender has been used on educational researches?, 2) Which categories have been (re)created on this encounter between gender studies and educational studies? Then I decided to study PhD thesis about gender relations and education produced in Brazil from 1994 to 2004, for what I made a research at Capes basis and at the sites from universities. After some choices among the studies that I found, I decided to study those that revised or recreated categories from educational field by using gender propositions, which were ten studies. Considering a tradition from studies of Sociology of Education, I emphasized the comprehension that our educational reality is a specific social reality, on your shades and complexities. Beyond that, as education is situated on the conflicting and hybrid field between public and private, family and the State, gender, into your multiple dimensions, can bring great contributions to a better comprehension of educational reality, such as like: breaking these oppositions; possibilities from using neuter gender and hybrid forms; not to disqualify or deny what could be considered related to domestic, private and feminine; to assume tensions and conflicts. That´s why I decided to study gender uses on those researches I chose: investigate how that category has been created on educational studies, not thinking about the reasons of using gender. That was possible just because, despite gender studies are little considered on educational field, they are consolidated - though they are a marginal field of studies -, what became evident on the researches I studied. At the end, I could notice important theoretical confrontations in the educational filed, such as discussing that teachers´ work at elementary school is different of domestic work, collective actions are different of trade unions, teachers´ work is different either of professionals or to working class, that the work of women in the underground system of educating little children is legitimate examples of an accurate intellectual work.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-07012009-102817 |
Date | 11 April 2008 |
Creators | Samantha Freitas Stockler das Neves |
Contributors | Marilia Pinto de Carvalho, Fulvia Maria de Barros Mott Rosemberg, Flavia Ines Schilling |
Publisher | Universidade de São Paulo, Educação, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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