O presente estudo se inscreve na corrente de pesquisas sobre o ensino escolar da escrita, concebendo-a (a escrita) como trabalho humano, meio de ação, interação e constituição de sujeitos sociais e, ainda, como possibilidade de insurreição social. Compreendendo a escrita dessa forma, e assumindo que a escola pode ensinar a escrever com eficiência, defendo que um dos caminhos possíveis para esse ensino deve estar pautado no trabalho com diferentes estratégias de revisão textual, desde o Ensino Fundamental I. A revisão aqui é concebida como um tipo específico de leitura crítica. As elaborações teórico-metodológicas estão apresentadas da seguinte forma: a) inicialmente, marco minha posição em relação ao ensino de escrita nas escolas públicas, porque é esse o meu lugar de fala; b) apresento um panorama das pesquisas brasileiras sobre revisão de textos no Ensino Fundamental I; c) apresento o referencial teórico que sustenta este estudo: i) concepções de sujeito, língua e linguagem ancoradas no sociointeracionismo, baseando-me em Bakhtin (2009, 2011), Geraldi (1991, 1996, 2006, 2009, 2013), Koch (2006), Franchi (1977); ii) concepção de escrita como trabalho humano, baseandome no conceito marxista de trabalho (Marx, 2013), corroborado por Antunes (2013), e nos pressupostos do trabalho de escrever, tal como defendido por Franchi (1977) e Geraldi (2013), iii) diferenciação entre os termos correção, revisão e reescrita, enfatizando os motivos que me levam a adotar o termo revisão neste estudo, e delineando teoricamente a revisão como um tipo específico de leitura crítica (Lipman, 2001) e como possibilidade de trabalho metacognitivo (Marcuschi, 2007; Matêncio, 1994; Silva & Melo, 2007); v) ensaio sobre como, quando e por que ensinar revisão de textos a alunos de Ensino Fundamental I; d) apresento uma investigação sobre as possibilidades de ensinar a escrever no Ensino Fundamental I, considerando a revisão de textos como parte do processo de escrever. Para isso, trago textos produzidos por alunos de 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental, em que quatro estratégias de revisão foram utilizadas, com o intuito de permitir aos alunos formas variadas de relação com a escrita (a sua e a de terceiros). e) Por último, analiso alguns textos que ilustram o que estou chamando de tomada da escrita pelos sujeitos, ou seja, escritas em que se percebe a presença de um sujeito que comunica, com alguma singularidade utilizando a escrita (Possenti, 2002, 2013). Metodologicamente, elegi, para a elaboração/organização deste trabalho, os pressupostos da pesquisa-ação (Thiollent, 1998). Como a coleta dos textos analisados se deu de forma naturalística, adoto como metodologia de análise o paradigma indiciário, proposto por Ginzburg (1989, 2002) e utilizado por Abaurre; Fiad e Sabinson (1997), Abaurre et al. (1995) e Possenti (2002) na análise de escritas escolares. Os textos selecionados e apresentados neste estudo serviram a dois propósitos: o de ilustrar as estratégias de revisão utilizadas pelos alunos, e defendidas aqui como meios de ensinar a escrever, e o de ilustrar indícios que indicam a tomada da escrita pelos alunos. A análise dos textos permite defender a revisão de textos como estratégia eficiente para o ensino da escrita, desde que a produção de textos seja tomada como resposta a objetivos comunicativos socialmente situados. Neste estudo, defendo que assumir um ensino que leve nossos alunos a tomarem a escrita para si é um ato de coragem frente a uma prova de fogo. Trata-se da coragem de trabalhar para que a escrita seja, para os sujeitos incididos por ela, uma possibilidade de incidir sobre o mundo, uma possibilidade de tomar as rédeas da História. / This study is inscribed in the research field of teaching of writing in schools, understanding writing as a human work, as a means of action, interaction and constitution of the social subjects, and, also, as a possibility of social uprising. Having this understanding of writing and of the school as being able to teach it efficiently, it proposes that one of the possible paths for this teaching should be based on the development of different strategies of text revision from the first years of basic school. Revision is here conceived as a specific kind of critical reading. The theoretical-methodological elaboration are presented as follows: a) firstly, I affirm my position regarding the teaching of writing in public schools, as this is the place from which I socially speak; b) secondly, I introduce the field of Brazilian research on text revision in the early years of basic education; c) I present the theories that underlie this study: i) concepts of subject and language, anchored in sociointeracionismo, based on Bakhtin (2009, 2011), Geraldi (1991, 1996, 2006, 2009, 2013), Koch (2006), Franchi (1977); ii) concept of writing as work, my basis is the Marxist concept of work (Marx, 2013), corroborated by Antunes (2013), and the assumptions about work proposed by Franchi (1977) and Geraldi (2013); iii) differentiation between the terms correction, revision and rewriting, emphasizing the reasons that lead me to adopt the term review in this study, and theoretically outlining the review as a specific type of critical reading (Lipman, 2001) and as a possibility to work metacognitive (Marcuschi, 2007; Matêncio, 1994; Silva & Melo, 2007) ; v) essay about how, when and why to teach proofreading the students of elementary school; d) present a research on the possibilities of teaching writing in elementary school, considering the revision of texts as part of the process of writing. For this, bring texts produced by students of 3rd , 4th and 5th years of elementary school, in which four review strategies were used, in order to allow students to various forms of relationship with writing (his and with the others). e) Finally, analyze some texts that indicated the appropriation of their own writing by students (Possenti, 2002, 2013). For the construction of this investigation, I describe the procedures used for the teaching of writing to a group of the methodological assumptions adopted by me for the development/organization of this study were those of the action research as proposed by Thiollent (1998). As the data collection of the analyzed texts happened in a naturalistic design, I adopted the evidentiary paradigm of analysis as proposed by Ginzburg (1986) and used by Abaurre; Sabinson and Fiad (1997), Abaurre et al. (1995) and Possenti (2002) in the analyses of school writing. The selected texts shown in the study served two purposes: illustrating the revision strategies used by students and defended here as means of teaching how to write, and illustrating the traces that indicated the appropriation of their own writing by students. The analyses of the texts allow us to support text revision as an efficient strategy for the teaching of writing. In this study, I propose that taking on a teaching that guides our students to the appropriation of their own writing is in itself an act of courage when facing this difficult task. That courage of working so that writing is, for the subjects touched by it, a possibility of acting upon the world, a possibility of taking the reins of history.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-30032017-162134 |
Date | 12 August 2016 |
Creators | Deise Nancy Urias de Morais |
Contributors | Sandoval Nonato Gomes Santos, Raquel Salek Fiad, Emerson de Pietri |
Publisher | Universidade de São Paulo, Educação, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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