No último decênio, as metrópoles brasileiras foram profundamente reconfiguradas pela proliferação de projetos imobiliários de grande porte. O investimento imobiliário, antes fortemente centralizado nas áreas mais valorizadas das metrópoles, irradiou-se também para as periferias e franjas metropolitanas, com importantes repercussões socioespaciais. Esta pesquisa procurou fornecer algumas explicações para esse fenômeno, colocando em foco a crescente penetração das finanças na produção do espaço urbano no Brasil. Desde meados da década de 1990, sucessivos governos, estimulados por organizações privadas ligadas ao setor financeiro, empenharam-se na criação de marcos regulatórios e institucionais favoráveis à circulação do capital financeiro pelo ambiente construído urbano. Esse novo ambiente institucional foi uma peça importante não apenas na ampliação do financiamento habitacional no transcurso da década de 2000, mas também na aproximação do investimento imobiliário com a dinâmica do mercado de capitais. Esta integração entre mercado de capitais e mercado imobiliário ganhou força, primordialmente, com a abertura de capital das principais incorporadoras imobiliárias, ocorrida entre 2005 e 2007, quando grandes fundos de investimento adquiriram participação nessas empresas. Com base em entrevistas, coleta de dados secundários e publicações setoriais, procurou-se, nessa tese, elucidar algumas das implicações desse entrelaçamento das incorporadoras imobiliárias com o mercado de capitais. Observou-se uma profunda mudança nas estratégias empresariais após a emissão de ações e debêntures, o que se explica, em grande medida, pelas exigências de rentabilidade colocadas pelos novos acionistas. A maior parte das empresas adotou políticas agressivas de expansão tanto na escala da metrópole quanto na escala do território, multiplicando seus volumes de lançamentos entre 2005 e 2010. Também ocorreu um aperfeiçoamento das formas de captura de rendas urbanas. Uma análise da atuação dessas incorporadoras no mercado imobiliário de Porto Alegre indicou, além disso, que esse refinamento das estratégias de investimento produziu, de uma parte, uma exacerbação das formas de segregação e fragmentação socioespacial urbana e, de outra, um rearranjo escalar do processo de urbanização. Configura-se, portanto, uma situação em que as metrópoles brasileiras são crescentemente transformadas segundo as determinações e os ritmos ditados pelas finanças, que se beneficiam dos rendimentos produzidos pela reestruturação socioespacial. / Over the past decade, Brazilian cities were thorougly reconfigured by a profusion of large-scale real estate developments. Previously restricted to high-end neighborhoods, real estate investment has expanded to include peripheral and outlying areas of major metropolitan areas, thus producing dramatic socio-spatial effects. The present research provides an explanation for this phenomenon by focusing on the growing penetration of finance into the production of urban space in Brazil. Since the mid-1990s, successive governments, encouraged by private organizations tied to the financial sector, have made an effort to create a regulatory and institutional framework favorable to the circulation of capital in the built environment. This new institutional atmosphere was a key element not only in the growth of mortgage lending in the 2000s, but also in the convergence of real estate investment and the dynamics of capital markets. The integration of capital markets and real estate markets occurred primarily through the initial public offering of large developers between 2005 and 2007, when huge investment funds acquired participation in these firms. Based on interviews, collected data and sectoral publications, this dissertation has attempted to clarify some of the consequences of the links that were forged between developers and capital markets. We observed a profound change in developers strategies after their IPOs, mostly explained by the high yields demanded by investors. Most developers adopted a highly aggressive policy of expansion, both on the scale of the city and on the scale of the territory, multiplying their output between 2005 and 2010. The ways in which urban land rents were extracted had also improved. Our analysis of how these developers have operated in Porto Alegre (southern Brazil) indicates, moreover, that developers finely honed business strategies have, on the one hand, intensified socio-spatial segregation and fragmentation, while on the other, have been responsible for a rescaling of the urbanization process. The outcome is a situation in which metropolitan areas are, to an incresing degree, transformed according the determinations and rhythms dictated by finance capital, which benefits from the returns generated by socio-spatial restructuring.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-07012014-093205 |
Date | 08 August 2013 |
Creators | Daniel de Mello Sanfelici |
Contributors | Amelia Luisa Damiani, Ana Fani Alessandri Carlos, Álvaro Luiz Heidrich, Sandra Lencioni, Cibele Saliba Rizek |
Publisher | Universidade de São Paulo, Geografia (Geografia Humana), USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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