Com base nos pressupostos teórico-metodológicos variacionistas (LABOV, 2006 [1966]; 2008 [1972]; 1999; 2001; 2010) e em alguns conceitos caros à terceira onda (ECKERT, 2012) da Sociolinguística, este trabalho objetiva estudar a comunidade de fala sul-mineira de Itanhandu. Itanhandu se localiza em uma região de tríplice divisa entre os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Além dessa posição geográfica singular, os itanhanduenses revelam possuir com as capitais fluminense e paulista uma relação de identificação maior do que possuem com a própria capital de seu estado, o que parece influenciar o falar local, sobretudo na realização de (-r). O estudo de Itanhandu iniciou-se com uma coleta de 36 entrevistas sociolinguísticas na cidade, que possibilitaram constatar a presença não só de retroflexos, pronúncia considerada a mais prototípica na comunidade, mas também de tepes e fricativos, variantes comumente associadas às capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro, respectivamente. Diante da verificação da ocorrência de tais variantes em Itanhandu, aventou-se a hipótese de que elas estariam correlacionadas aos dois grupos de identificação presentes na cidade, um que se compõe de itanhanduenses que gostam de morar lá e não desejam se mudar ou que tenham saído dela, mas desejam voltar; e outro que se define por itanhanduenses que desejam tentar a vida fora de Itanhandu ou que já se mudaram e não desejam retornar. Entretanto, a análise quantitativa dos dados mostra que as variantes não prototípicas em Itanhandu estão mais ligadas ao tempo de permanência que os itanhanduenses passaram fora de sua cidade natal, ou seja, pronúncias tepes e fricativas são menos correlatos de uma questão identitária e mais de um fenômeno que se dá naturalmente em um processo de acomodação linguística (GILES, 1973) pelo qual passam os itanhanduenses que moram em outras cidades, principalmente localizadas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, este trabalho também investiga a existência de graus de retroflexão em Itanhandu. Retroflexos fortes, ou seja, mais duradouros e intensos, opõem-se a retroflexos fracos, ou melhor, mais curtos e com intensidade reduzida. A análise quantitativa dos dados mostra que tal variação correlaciona-se, principalmente, a variáveis linguísticas: são os grupos de fatores Classe Morfológica da Palavra com (-r) e Frequência do Item Lexical com (-r) os que mais explicam a existência de tal fenômeno em Itanhandu. Por fim, esta dissertação mostra a complexidade da identidade itanhanduense, composta não só de relações sociais, econômicas e linguísticas estabelecidas com cidades paulistas e fluminenses, mas também a partir das vivências individuais dos itanhanduenses, das cidades em que eles já moraram, da forma com que se relacionam com Itanhandu e com os itanhanduenses, das posturas que assumem diante de fatos da vida cotidiana e, principalmente, diante de fatos da realidade linguística da comunidade de fala em que se inserem. / Based on variationist theory and methods (LABOV, 2006 [1966]; 2008 [1972]; 1999; 2001; 2010), including third wave sociolinguistics (ECKERT, 2012), this masters thesis focuses Itanhandu, a town in Southern Minas Gerais, located near the border between Minas Gerais and São Paulo e Rio de Janeiro. Itanhanduenses tend to identify themselves with the capitais of these two states more than with Belo Horizonte, the capital of Minas Gerais. Such identification has an influence in their local speech, especially when it comes to variable (-r). In a sample of 36 sociolinguistic interviews collected in Itanhandu, there are fricative and tap ocurrences of (-r), aside from the retroflex which is prototypical in the community. The fricative and tap variants are commonly associated with the capitals São Paulo and Rio de Janeiro, respectively. The main initial hypothesis is that this case of variation correlates with how Itanhanduenses identify themselves: those who like to live in Itanhandu and do not wish to move to another city (and those who have moved out but would like to return to Itanhandu); and those who would like to leave their birth town (including those who live somewhere else and would not like to move back to Itanhandu). The quantitative analyses suggest that fricative and tap occurrences of (-r) are less correlated to these subgroups, and more strongly associated with how long a period Itanhanduenses spend outside of their birth town. There seems to be a process of accomodation (GILES, 1973) in the speech of those Itanhanduenses who have lived in other cities, especially in the states of São Paulo and Rio de Janeiro. This thesis also looks into degrees of (-r) retroflexion. Strong retroflex (lengthier and more intense) and weak retroflex (shorter and less intense) are analyzed as a variable, which correlates more strongly to linguistic factors: Word Class and Word Frequency. This thesis shows that the Itanhanduense identity is composed not just by social, economic and linguistic relations to São Paulo and Rio de Janeiro, but also by individual experiences, both in Itanhandu itself and in other cities. Such experiences are revealed in stances taken during the sociolinguistic interviews, in relation to facts of their day-to-day life, including their linguistic experiences.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-25112015-111636 |
Date | 06 August 2015 |
Creators | Silva, Mariane Esteves Bieler da |
Contributors | Mendes, Ronald Beline |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | Dissertação de Mestrado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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