A ordem primata apresenta uma grande diversidade de modos de organização social, desde espécies consideradas solitárias até aquelas em que os indivíduos de um grupo permanecem o tempo todo juntos. Macacos-prego (Cebus spp.) geralmente vivem em grupos estáveis e coesos, sem a formação de subgrupos. No entanto, sua organização social pode ser mais flexível. Dois estudos anteriores, conduzidos com populações de Cebus nigritus da Mata Atlântica, indicaram a divisão de grupos em subgrupos, mas não concluíram se os processos que foram observados eram de divisão permanente de um grupo grande ou se essas populações assumiam a organização social do tipo de fissão-fusão. O objetivo deste estudo foi investigar se os grupos de macacos-prego do Parque Estadual Carlos Botelho (PECB) caracterizam-se como sociedades do tipo fissão-fusão ou se a formação de subgrupos ocorre apenas como um estágio temporário pré-divisão permanente. No período de Janeiro de 2003 a Março de 2006, foram acompanhados dois grupos sociais, com os indivíduos adultos reconhecidos. Dados de outros grupos foram coletados de forma oportunística. Para verificar se o grupo estava forrageando de forma coesa ou dividido em subgrupos, era feito um censo dos membros do grupo a cada hora e, para o registro da composição dos subgrupos foi contado o número de machos adultos, de fêmeas adultas e de juvenis. Para avaliar a disponibilidade de alimento foram distribuídas 153 armadilhas \"pitfall\" ao longo da área de uso dos animais. Os dados sobre comportamento (locomoção, descanso, forrageamento e locomoção mais forrageamento) e dieta (frutos, invertebrados e folhas) foram registrados por amostragem de varredura, a cada 5 minutos. Também foram anotados o tempo de depleção das fontes de frutos (FTFS) e o número de indivíduos que se alimentaram juntos na mesma árvore (tamanho da subunidade de alimentação). Todos os grupos de macacos-prego observados no PECB organizaram-se em sociedades de fissão-fusão, dividindo-se constantemente em subgrupos de tamanho e composição variável, com associações preferenciais entre pares de macho e fêmea, composição multi-macho/multi-fêmea e ausência de dominância entre as fêmeas. Todas essas características observadas se assemelham com as características de chimpanzés e de primatas neotropicais que se organizam em fissão-fusão. A principal diferença entre os macacos-prego e essas espécies é a dispersão sexual do grupo natal. Em macacos-prego os machos migram entre grupos, enquanto em sociedades de fissão-fusão os machos são filopátricos. Em relação aos dados ecológicos, o FTFS e o tamanho das subunidades de alimentação tiveram valores baixos para todos os grupos de macacos-prego, indicando que as fontes de frutos não sustentam todo o grupo por ter recursos de pobre qualidade. Houve uma relação entre tamanho de subgrupo e padrão da oferta de alimento: quanto maiores e mais uniformemente distribuídas as fontes de frutos no habitat das quais os animais estavam se alimentando, maior o subgrupo. Portanto, os macacos-prego do PECB ajustam o tamanho de grupo para reagir às variações ecológicas, em função de baixa disponibilidade de frutos e assim, essa grande flexibilidade permite que eles se adaptem a novos ambientes e se comportem de modo a aumentar sua aptidão. / The primate order presents a great diversity of social organization, from species considered solitary to those where the individuals of a group remain together all the time. Capuchin monkeys (Cebus spp.) generally live in stable and cohesive groups, without the formation of subgroups. However, their social organization can be more flexible. Two former studies on two populations of Cebus nigritus from the Atlantic Forest suggested the occurrence of subgrouping, but the authors could not conclude whether the observed processes were due to a permanent division of a large group or whether these populations were actually fission-fusion societies. The objective of this study was to investigate whether the capuchin monkey groups of the State Park Carlos Botelho (PECB) can be characterized as a fission-fusion society or subgrouping is a temporary strategy prior to a permanent division of a large group. From January 2003 to March 2006, two social groups were followed, with the adult individuals recognized. Data from other groups were collected in an opportunistic way. To verify whether the group was foraging in a cohesive way or divided in subgroups, a census of the group members was performed at each hour and, and the number of adult males, adult females and juveniles were counted to analyze the composition of the subgroups. In order to evaluate the food availability 153 pitfall traps were distributed along the long home range. Data about behavior (locomotion, rest, foraging and locomotion more foraging) and diet (fruits, invertebrates and leaves) were registered by scan sampling every 5 minutes. The depletion time of fruit sources (FTFS) and the number of individuals that fed together in the same tree (size of feeding subunity) were recorded. All the capuchin monkey groups observed in the PECB were organized as a fission-fusion society, splitting into subgroups of variable size and composition, with preferential associations between pairs of male and female, composition multi-male/multi-female and absence of dominance among females. All these observed characteristics are similar to chimpanzees and neotropical primates which present fission-fusion. The main difference among capuchin monkeys and these species are the sexual dispersion from natal group. In capuchin monkeys the males migrate among groups, while in fission-fusion societies the males are philopatric. In relation to the ecological data, the FTFS and the feeding subunity size had low values for all the capuchin monkey groups, indicating that the fruit sources at PECB are poor quality resources and do not support all group members. There was a relation between subgroup size and pattern of food availability: the largerer and more uniformly distributed the fruit sources the animals were feeding, the larger the subgroup. Therefore, capuchin monkeys at PECB adjust their group size in response to the ecological variations, due to the low fruit availability and thus, this great flexibility allows them to adapt to a new environment and to behave in order to increase their fitness.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-17012008-110418 |
Date | 17 August 2007 |
Creators | Érica Silva Nakai |
Contributors | Patricia Izar Mauro, Dilmar Alberto Gonçalves de Oliveira, Briseida Dogo de Resende |
Publisher | Universidade de São Paulo, Psicologia Experimental, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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