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O cordão encarnado - uma leitura severina

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Previous issue date: 2002 / Este trabalho tem por finalidade a exegese de uma obra que, apesar de
responsável pela consagração nacional e internacional de seu autor, tem sido
pouco considerada, quer pelo fato da intertextualidade presente em seus versos,
quer pelo seu contraste com relação às demais obras de vanguarda cabralinas,
em que a inovação formal de cunho metalingüístico oferece a tônica essencial.
A análise aqui desenvolvida integra as perspectivas
ideológica/mítica/utópica, destacando o pensamento e a estética realistas do
poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, contextualizados em
interlocuções com outros intelectuais que, em sua época, também denunciaram o
desamparo dos retirantes, como Graciliano Ramos e Cândido Portinari; além de
autores que se indignaram contra a miséria no campo (Francisco Julião) e no
mangue (Josué de Castro). Na seqüência, resultam pertinentes as meditações
sobre o primeiro livro do tríptico do rio, O Cão sem Plumas, o qual, em sua
estrutura ainda com elementos surrealistas, evolui em alegorias de fome e lama,
vida curta e estagnada dos homens da maré, expressa em metáforas
decompostas e reagrupadas de modo similar à figuração trencadis com que o
poeta conviveu ao tempo em que serviu como cônsul em Barcelona, onde o livro
foi por ele editado em impressora artesanal.
A opção de Cabral pelo romanceiro para relatar o êxodo de Severino desde
o Sertão até à capital pernambucana esclarece perspectivas ligadas ao coronelato
do Sertão, à defesa da Reforma Agrária no campo, à denúncia da mortalidade dos
severinos enquanto transcorre a festa do nascimento de Cristo: daí tratar-se o auto de Natal de uma verdadeira via-crucis a condenar um sistema de governo
que permite essa afronta à vida humana: passa-se a exaltar as excelências das
lapinhas de lama nos mocambos e palafitas, em sua forma não camuflada da vida.
A análise ora proposta da obra cabralina evidencia que a lição de cidadania
em tom brechtiano enunciada por Severino no Auto de Natal Pernambucano é
uma crítica dotada de exemplaridade ao sistema capitalista que reífica e aliena o
homem/severino do Nordeste; Morte e Vida Severina representa no plano da
linguagem dramática e poética uma utopia libertária da qual participavam os
estudantes e demais segmentos da comunidade nos anos cinqüenta e sessenta e
que hoje prossegue transfigurada quer pela iniciativa oficial de um Ministério do
Desenvolvimento Agrário, quer pela face alternativa do Movimento dos Sem-Terra,
do qual Severino, com a inocência de um Cândido e a determinação de um
Quixote, continua sendo uma referência a emocionar leitores/espectadores em
seu calvário/natalino. Se a opção pelo auto faz notar a homenagem prestada à
cultura ibérica, a inserção do pastoril dentro do auto denota a adesão cabralina a
um projeto de extensão da cultura, ao contrário de seus outros livros voltados à
elevação da cultura, os quais têm sido objeto de abordagens acadêmicas
igualmente elevadas e sucessivas.
Finalmente, este Cordão Encarnado, ao contextualizar nacional, regional e
municipalmente o Auto de Natal Pernambucano, procura oferecer à Universidade
Brasileira uma leitura Severina em que o discurso acadêmico surja articulado com
o fundamento e a raiz de uma poesia como a cabralina, profundamente identificada com os mapas e percursos de sua terra, regional e universalmente
definida

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.ufpe.br:123456789/7638
Date January 2002
CreatorsRODRIGUES, Lucila Nogueira
ContributorsLICARI, Luzilá Gonçalves
PublisherUniversidade Federal de Pernambuco
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFPE, instname:Universidade Federal de Pernambuco, instacron:UFPE
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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