A presente pesquisa visa compreender e analisar criticamente o discurso de sustentabilidade e as práticas constitutivas da permacultura, debatendo tanto o potencial que elas podem oferecer à construção de um utopismo dialético norteado por uma nova práxis ambiental, como as contradições geradas a partir de sua inserção em uma sociedade capitalista, orientada pelo lucro e pela tendência geral em transformar todas as coisas em mercadorias. Pensada originalmente na década de 1970 pelos australianos Bill Mollison e David Holmgren, a permacultura diz respeito à criação de assentamentos humanos sustentáveis e resilientes, feita com base em princípios e técnicas específicos. A partir da década de 1990 paralelamente à ascensão e à globalização do neoliberalismo tem sido verificado um novo boom na eclosão e disseminação de experiências comunitaristas alternativas e sustentáveis, muitas das quais baseadas na permacultura, o que é sintomático do atual estágio da geografia histórica do capitalismo, apontando de um lado para a crise estrutural e multifacetada experimentada nos dias de hoje, e, de outro, para a urgência em se buscar formas distintas de sociabilizar-se e de relacionar-se com a natureza. Sustenta-se que estas experiências configuram a etapa mais recente de um fenômeno cujas origens podem ser rastreadas na segunda metade do século XIX e que aqui se denomina contraculturas espaciais, ou seja, microexperimentos de organização e produção socioespacial, geralmente de caráter comunitarista, que nascem como tentativas de subversão à ordem dominante, onde o nível privado e a esfera do cotidiano ganham primazia e tornam-se o lócus privilegiado no qual são experimentadas e desenvolvidas técnicas, práticas e solidariedades distintas daquelas que conformam a lógica homogeneizante, individualista e alienante encabeçada pela produção capitalista do espaço. Essas espacializações alternativas são expressões essencialmente modernas e urbanas que costumam surgir com mais força e visibilidade em momentos de crise de reprodução do sistema. Tendo por base a combinação entre pesquisa bibliográfica, documental e entrevistas com seus fomentadores, bem como a realização de trabalhos de campo junto a experiências de permacultura localizadas na Argentina, no Brasil e no Chile, buscar-se-á aqui, a partir do exame crítico do sistema produtivo permacultural, discutir as possibilidades e os limites apresentados pelas contemporâneas contraculturas espaciais à construção de uma sociedade mais igualitária e ecológica. / The present investigation aims to critically understand and analyze the speech of sustainability and the constitutive practices of the permaculture, debating the potential that they offer to the construction of a dialectical utopianism orientated by a new environmental praxis; as well as the contradictions produced from its insertion in a capitalist society geared to profit and to the general tendency in turning all the things into goods. Originally thought in the decade of 1970 by the Australians Bill Mollison and David Holmgren, the permaculture concerns the creation of sustainable and resilient human settlements, based on specific principles and techniques. From the decade of 1990 in parallel with the consolidation of neoliberalism a new boom in the outbreak and dissemination of alternative and sustainable communal experiences has been observed, many of them based on permaculture, which turns out to be symptomatic of the current state of the historical geography of the capitalism. This concept points, on the one hand, to the structural and multifaceted crisis experienced nowadays; and, on the other hand, to the urgency of searching for different forms of socialize and interact with nature. It has been argued that these experiences constitute the most recent stage of a phenomenon whose origins can be traced to the second half of the nineteenth century. Here they are referred to as spatial countercultures, or, in other words, micro-experiments of socio-spatial organization and production generally of communal character. Such micro-experiments are usually born as attempts to subvert the dominant order, where the private and everyday life spheres acquire primacy and become a privileged locus where they are experienced and developed techniques, practices and solidarities; different from those that conform the homogenizing, individualistic and alienating logic represented by the capitalism production of space. Notably, these alternatives are essentially modern and urban expressions that usually arise with more strength and visibility at moments where the system faces crisis in its reproduction. Based on a combination between literature and documentary research, interviews with their developers, and fieldworks to permaculture experiences located in Argentina, Brazil and Chile; this investigation aims to critically address the permaculture system of production, discussing the possibilities and limitations that this type of spatial contemporary countercultures offer for the construction of a more egalitarian and ecological society.
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-07112013-113710 |
Date | 02 July 2013 |
Creators | Silva, Luis Fernando de Matheus e |
Contributors | Marques, Marta Inez Medeiros |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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