O Livro do Desassossego, chamado por Fernando Pessoa de autobiografia sem fatos, diário lúcido ou ao acaso, entre outras tantas classificações, atribuído a Vicente Guedes e a Bernardo Soares, seu heterônimo e semi-heterônimo, respectivamente, apresenta temáticas e estratégias textuais várias que podem aproximá-lo da literatura intimista. Motivado aparentemente pela reflexão íntima ou por um minucioso exame de consciência, essa voz narrativa autoral, que é observadora atenta da vida cotidiana circundante, considerada reles e comezinha, registra suas impressões pessoais num pretenso diário íntimo ficcional. Tais recursos, utilizados pela escrita intimista, bem como o texto fragmentário formado pelas anotações desse eu solitário e entediado, parecem ser uma tentativa de constituí-lo como sujeito. Além da complexa elaboração textual (cujos fragmentos soltos, a diarística e a narrativa autobiográfica são exemplos), que torna a escrita intimista ainda mais sui generis na obra, há outra problemática, não menos significativa - a condição editorial a que o Livro do Desassossego ficou sujeito, visto que, inacabado, foi ordenado e publicado postumamente, de acordo com as escolhas e critérios de seus organizadores. Esta tese, pois, à luz da escrita de si, delineia e analisa brevemente os sujeitos possivelmente constituídos em três edições do projeto da prosa pessoana em questão - as de Teresa Sobral Cunha, Jerónimo Pizzarro e Richard Zenith -, a fim de verificar se e como a ordenação desse complexo material deixado, com fins de publicação da obra, contribuiu para evidenciar o processo de busca ontológica desse(s) eu(s) ficcional(is). / TheBook of Disquiet, referred to by Fernando Pessoa as a factless autobiography, a lucid diary or a random diary, among so many other designations, and attributed to Vicente Guedes and to Bernardo Soares, his heteronym and semi-heteronym, respectively, presents diverse themes and writing strategies that may place it in the vicinity of Intimism. Apparently motivated by an intimate reflection or by thorough soul-searching, this authorial narrative voice an attentive observer of the surrounding daily life, which is considered vulgar and mundane records its personal impressions in a presumed fictional intimate diary. Such devices, which are used in writing of the self and the fragmentary text formed by the notes of this lonely and bored self, seem to be an attempt to constitute it as a subject. In addition to the complex text construction (examples of which are loose fragments, diaries and autobiographical narratives), which renders the writing of the self even more unique in the work, there is another and not less important issue the publishing condition to which The Book of Disquiet was subject. Left unfinished, it was posthumously ordered and published according to the organizers choices and criteria. Thus, this thesis, in the light of writing of the self, outlines and briefly analyzes the subjects possibly constituted in three editions of Pessoas prose project in question the ones organized by Teresa Sobral Cunha, by Jerónimo Pizzarro and by Richard Zenith , so as to check whether and how the ordering of this complex material, with the purpose of publishing the work, has contributed to reveal the process of ontological search for this fictional self or these fictional selves.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-29012016-125510 |
Date | 23 September 2015 |
Creators | Monica Imperio Simiscuka |
Contributors | Annie Gisele Fernandes, Mirhiane Mendes de Abreu, Renata Soares Junqueira, Paola Poma, Raquel de Sousa Ribeiro |
Publisher | Universidade de São Paulo, Letras (Literatura Portuguesa), USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
Page generated in 0.0025 seconds