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A vivência de psicoterapia de mães enlutadas

Orientadora: Profª Drª Joanneliese de Lucas Freitas / Coorientadora: Profª Drª Maria Virginia Filomena Cremasco / Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Paraná, Setor de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Defesa: Curitiba, 31/03/2017 / Inclui referências : f. 104-109 / Resumo: O luto é definido existencialmente como uma vivência que emerge da mudança abrupta de um relação, com a supressão da corporeidade de um ente querido. Com a morte desse outro, fica impossibilitado um modo de ser do enlutado que se apresentava de maneira única e especial naquela relação. A perda desse outro a quem o enlutado está sensivelmente entrelaçado, é vivida por ele como a perda de um mundo. Segundo esta perspectiva, o luto materno pode ser compreendido como um fenômeno que emerge do rompimento de uma relação partilhada entre uma mãe e um filho, com a supressão abrupta da corporeidade desse filho. O luto materno lança essa mãe em um mundo de impossibilidades. O filho falecido, que antes era com ela parte de uma mesma intercorporeidade, passa a ser uma presença-ausente em sua rotina e sua memória. Em situações de perdas significativas como essa, frequentemente se recorre à um psicólogo clínico, dando-se inicio a um processo psicoterápico. O modo como este processo é vivenciado pelo enlutado, no entanto, ainda é pouco estudado. Pesquisas empíricas sistematizadas que abordem o processo psicoterápico ainda são escassos. Pesquisas sobre a experiência de psicoterapia de mães enlutadas, mais especificamente, ainda não existem na literatura nacional. No intuito de preencher esta lacuna, o presente estudo assumiu o objetivo de compreender a vivência de mães enlutadas de seus processos psicoterápicos. Para tanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa, aplicando-se o método fenomenológico. Foram realizadas entrevistas com quatro mães participantes de um grupo de ajuda mútua para enlutados de Curitiba intitulado "Amigos Solidários na Dor do Luto" (ASDL). Este grupo foi criado e é coordenado pela comunidade leiga, sendo composto em sua maioria por mães que perderam seus filhos. As entrevistas com as mães que aceitaram participar da pesquisa foram realizadas individualmente, tendo sido iniciadas pela pergunta disparadora: "Você pode relatar a vivência de seu processo terapêutico durante o luto?". Com o consentimento das participantes, as entrevistas foram gravadas em áudio e posteriormente transcritas. Para a análise dos dados foram seguidos os quatro passos metodológicos desenvolvidos por Giorgi. A análise das entrevistas revelou 19 elementos que constituem a vivência de mães enlutadas da psicoterapia, a saber: sentir dificuldade inicial para falar, sentir-se acolhida, sentir-se escutada, sentir-se respeitada, sentir-se compreendida, raiva do psicoterapeuta, falar sem reservas, expressar sofrimento, sentir-se livre para abordar outros temas que não o luto, revelar o sentimento de culpa, poder se queixar dos familiares, perceber novas possibilidades, alcançar autocompreensão, aceitar a morte, deixar de culpar os outros pela morte do filho, aceitar o modo dos outros lidarem com o luto, experiência de fortalecimento, sentir-se melhor de saúde, retomar a vida. Concluiu-se que esta é a vivência de uma relação particular, entre mãe enlutada e psicoterapeuta, que pode propiciar a abertura de possibilidades de novos sentidos desde que contemple determinadas condições. Palavras-chave: Luto; Luto materno; Psicoterapia; Psicologia fenomenológica. / Abstract: Mourning is defined existentially as an experience that emerges from the abrupt change of a relationship, with the suppression of the corporality of a loved one. With the death of this other, a way of being of the mourner that presented itself in a unique and special way in that relationship becomes impossible. The loss of this other to whom the mourner is sensibly interconnected is experienced by him as the loss of a world. According to this perspective, maternal grief can be understood as a phenomenon that emerges from the breakup of a shared relationship between a mother and a child, with the abrupt suppression of that child's corporeity. Maternal grief throws this mother into a world of impossibilities. The deceased son, which shared with her the same intercorporeality, becomes a presence-absent in his routine and his memory. In situations of significant losses such as this, a clinical psychologist is often referred to, starting a psychotherapeutic process. The way this process is experienced by the bereaved, however, is still little studied. Systematic empirical research that addresses the psychotherapeutic process remains scarce. Research on the experience of psychotherapy of bereaved mothers, more specifically, does not exist yet in the national literature. In order to fill this gap, the present study assumed the objective of understanding the experience of bereaved mothers of their psychotherapeutic processes. For that, a qualitative research was carried out, applying the phenomenological method. Interviews were conducted with four mothers who are participants of a mutual aid group for mourners in Curitiba entitled "Amigos Solidários na Dor do Luto" (ASDL). This group was created and is coordinated by the lay community, being composed mostly by mothers who lost their children. Interviews with the mothers who agreed to participate in the research were conducted individually, and were initiated by the triggering question: "Can you relate the experience of your therapeutic process during mourning?" With the consent of the participants, the interviews were recorded in audio and later transcribed. For the analysis of the data the four methodological steps developed by Giorgi were followed. The analysis of the interviews revealed 19 elements that constitute the experience of bereaved mothers of psychotherapy, namely: initial difficulty to speak, to feel welcomed, to feel listened, to feel respected, to feel understood, rage towards the psychotherapist, speak without reservations, express suffering, feel free to address other issues beyond mourning, reveal guilt, complain about relatives, realize new possibilities, achieve self-understanding, accept death, stop blaming others for the death of the child, accept others' way of dealing with mourning, strengthening experience, feel healthier, resume life. It was concluded that this is the experience of a particular relationship between a bereaved mother and a psychotherapist, which may allow the opening of possibilities of new meanings as long as it contemplates certain conditions. Keywords: Mourning; Maternal grief; Psychotherapy; Phenomenological psychology.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:dspace.c3sl.ufpr.br:1884/47461
Date January 2017
CreatorsMichel, Luís Henrique Fuck
ContributorsCremasco, Maria Virginia Filomena, Universidade Federal do Paraná. Setor de Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Freitas, Joanneliese de Lucas
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Format508 f., application/pdf
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFPR, instname:Universidade Federal do Paraná, instacron:UFPR
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess
RelationDisponível em formato digital

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