Return to search

A vida, o corpo e a morte como objetos de apropriação da medicina

Orientador: Newton Aquiles Von Zuben / Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação / Made available in DSpace on 2018-07-24T09:15:35Z (GMT). No. of bitstreams: 1
Camargo_MariaCristinavonZubendeArruda_D.pdf: 4824859 bytes, checksum: 86c98ae9a514b710823d3175083d2026 (MD5)
Previous issue date: 1998 / Resumo: O homem da Medicina, seja o médico, o estudante ou o doente, é apenas um corpo biológico, um organismo vivo, determinado e sujeito às leis da física, da química, do ambiente físico em que vive. Respira, se alimenta, se reproduz, recebe e transmite uma herança genética. Esse corpo-máquina, no caso do médico, é sujeito aos sistemas de saúde presentes na maioria dos países, elaborados freqüentemente por tecnocratas, sem qualquer participação do médico, cabendo a ele apenas o trabalho especializado mecânico e repetitivo. Quando se trata do enfermo, é submetido a medidas intervencionistas, muitas vezes dolorosas, sem ser consultado. A ambos é negada a oportunidade de escolher livremente seu caminho. São apenas corpos anatômicos. Não são pessoas. Os grandes pesquisadores do final deste século não temem infundadamente sobre o futuro moral da ciência e, essa situação de "risco" é agravada quando se trata da existência humana em uma região geográfica de extrema pobreza. Transcender esta realidade é tarefa árdua, porém viável; trata-se de exercitar o movimento de libertar-se. A liberdade é ponto de partida e de chegada, onde se alicerçam as relações entre as pessoas. Ela só é possível baseada na reciprocidade, na responsabilidade, no compromisso, ou seja, no outro. A pessoa só é liberta no coletivo onde o outro não é o limite, mas é condição de liberdade. A vida humana é composta de uma dimensão biológica que interage com outras dimensões, trazendo-lhe a característica única de se expandir em múltiplas expressões e possuir horizontes ilimitados de possibilidades. Mas, acima de tudo, trata-se da vida de um ser pessoal. Através do homem como pessoa, é que se compreende o valor e o significado de sua vida. Esse é um modo singular e irrepetível de vida (ainda que biológica), o que faz com que nenhum ser humano possa estar submetido ou em função de outros. Cada pessoa é dona de sua própria vida, incluindo, evidentemente, a vida biológica, e é chamada a administrá-la com liberdade. A coletividade, enquanto tal tem a função de assegurar a cada pessoa os bens necessários para desenvolver todas as suas potencialidades. A justificativa do valor ético da vida humana é de signo apriorístico. A dimensão ética do viver surge mediante o reconhecimento respeitoso do que existe. O reconhecimento do outro e o reconhecimento de si mesmo fazem passar a vida humana do valor pré-moral para o valor ético. O fato de que o viver humano não resulta indiferente, introduz a vida humana, no sistema de preferências básicas que configuram o universo da ética. A Medicina, às vésperas do terceiro milênio, começa a se dar conta da importância da qualidade da vida, questionando sua sacralidade, dimensão divina e apropriação social. Um caráter peculiar à condição humana é a corporalidade que abrange a totalidade do homem, tanto na relação consigo mesmo quanto no seu relacionamento com os outros. Ela coloca-se basicamente porque o homem não pode pensar sem ser, nem ser sem seu corpo, através do qual ele se expõe a si próprio e ao mundo. As concepções da sociedade a respeito da vida e, conseqüentemente, do corpo, mantêm estreita relação com a visão de morte, exercendo papel determinante na aceitação pelo indivíduo da sua própria morte e dos seus entes queridos. Aqueles que a avistam como possibilidade existencial, não acham que ela seja um acontecimento particular, situável no início ou no término de um ciclo próprio dos seres vivos. Mas, presente na vida humana de modo a dotá-la de características fundamentais. As conseqüências da concepção mecanicista do homem e tecnicista da Medicina atingiram indistintamente os alunos das escolas médicas, os médicos e os enfermos por eles atendidos, tornando a todos, vítimas do modelo mecanicista de saúde. Os problemas morais da biomedicina vêm sendo orientados, desde a muito tempo, pela moral religiosa e códigos deontológicos. Apesar dos aspectos positivos que estas abordagens possam, eventualmente, ter oferecido, a Bioética se configura pela desconfessionalização da ética, ao mesmo tempo em que a liberta dos grilhões dos códigos deontológicos. A escola médica, que trabalha diretamente a questão da vida, do corpo, da morte, da dor e sofrimento humanos deveria manter, com a estrutura social, uma relação crítica, histórica e política, como o faz o próprio homem. A tentativa de divorciar a saúde e a doença da realidade social é a negação de que o ato médico possa se converter em uma ação educativa, do qual o doente
sairá fortalecido não apenas do ponto de vista biológico, mas preparado para o exercício do cuidado consigo e com os outros e para a livre disposição de seu corpo. Será inexequível um projeto de atenção médica que desconsidere o ser humano enquanto pessoa e, se o aluno do curso médico não for tratado como pessoa. O conteúdo programático de um curso de Bioética deverá fundar-se num novo paradigma biomédico: centrar-se no bem-estar, na saúde e no uso criterioso de tecnologias, abandonando o modelo ilusório, quixotesco, da "cura sempre e a qualquer preço, ainda que a revelia do doente". Preferencialmente será compacto e contemplará tópicos essenciais que componham a base do conhecimento de Bioética e temas de interesse profissional específico. O docente de Bioética, além de transmitir conhecimentos de Bioética de forma sistematizada, esclarecerá médicos e estudantes de Medicina sobre: a abrangência da questão da ética da vida; os direitos e deveres decorrentes da cidadania que iguala médicos e doentes; o enriquecimento do viver humano a partir da pluriversalidade; a ideologia presente nas posturas deontológicas maniqueístas; a característica de pluralidade do ser humano e, conseqüentemente, da moral por ele gerada. O docente de Bioética, debaterá com alunos e profissionais situações próprias do existir humano e para as quais o homem não quer e não pode ter soluções unânimes, levando o aluno à aquisição e introjeção de conceitos morais, secularizados e pluriversalizados sobre a vida humana e, conseqüentemente sobre a morte, além de vivenciar com os alunos um relacionamento hominizado cuja experiência deverá ser transferida para seu relacionamento com o outro, especialmente com os doentes. / Abstract: Not informed. / Doutorado / Filosofia e História da Educação / Doutor em Educação

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.unicamp.br:REPOSIP/251451
Date01 July 1998
CreatorsCamargo, Maria Cristina von Zuben de Arruda, 1949-
ContributorsUNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, Zuben, Newton Aquiles von, 1942-
Publisher[s.n.], Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Format208f. : il., application/pdf
Sourcereponame:Repositório Institucional da Unicamp, instname:Universidade Estadual de Campinas, instacron:UNICAMP
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

Page generated in 0.0025 seconds