Return to search

As práticas de trabalho e o processo de aprendizagem de trabalhadores da construção civil à luz da estética organizacional

Os estudos sobre aprendizagem organizacional habitualmente adotam uma visão predominantemente cognitivista e atribuem maior destaque aos aspectos formais de aprender e aos níveis gerencial e/ou organizacional, fragmentando o conhecimento e desconsiderando interações sociais, contexto e o indivíduo no seu todo (mente-corpo). Para superar limitações decorrentes da utilização exclusiva dessa perspectiva nos estudos, a aprendizagem, tratada sob uma perspectiva cultural-interpretativista, considera a natureza processual da aprendizagem e as interações/relações sociais cotidianas dos indivíduos como fundamentais ao aprendizado. Essa abordagem extrapola a dimensão cognitiva de análise e considera outras possibilidades, como a dimensão estética, para compreender as práticas. O presente estudo buscou compreender o processo de aprendizagem e as práticas de trabalho de um grupo de trabalhadores da construção civil, a partir da teoria da estética organizacional. As técnicas empregadas na coleta dos dados foram a observação não-participante e entrevistas em profundidade, realizadas com cinco trabalhadores (mestre de obras e serventes) de uma empresa construtora de pequeno porte do município de Santa Maria (RS). Para a análise dos dados, foi utilizada a técnica de análise textual interpretativa. Os principais resultados obtidos apontam, no grupo de indivíduos pesquisado, a existência de práticas coletivas integradoras, que desempenham papel importante no relacionamento interpessoal criado e mantido pelo grupo. As práticas revelam aspectos que dizem respeito à cultura do grupo, que o distinguem de outros e lhe dão uma identidade própria. O processo de aprendizagem dos trabalhadores revelou-se essencialmente informal. A formação e aprendizagem para a execução das práticas de trabalho ocorrem dentro do próprio trabalho, através da experiência prática, da interação com colegas e pessoas mais experientes e da observação do modo de realização de outros, permitindo introduzir novos comportamentos e formas de realizar as práticas. Os trabalhadores interpretam acontecimentos e situações da vida organizacional, utilizando as faculdades perceptivo-sensoriais e formando um juízo estético a respeito. Associam o trabalho bem feito à beleza, perfeição, harmonia, proporção. Nas práticas de trabalho há um imbricamento entre a esfera cognitiva e a dimensão sensível/estética: além de usarem a cognição, os trabalhadores utilizam suas faculdades perceptivo-sensoriais para interagir com elementos não-humanos e promover a execução das práticas. O uso dos cinco sentidos nas práticas de trabalho revelou-se uma forma de interação dos trabalhadores com o ambiente, tendo o objetivo de orientá-los e fornecer precisão na execução da prática, atuando ainda como uma forma de conhecimento (experiência estética) e aprendizagem. Os trabalhadores estabelecem relação entre seu corpo físico e os artefatos que utilizam no desenvolvimento de suas práticas de trabalho, os quais são vistos como essenciais ao cumprimento e implementação das mesmas. A execução dessas práticas mobiliza conhecimentos pessoais/incorporados/não-formalizados dos trabalhadores, que são compartilhados através do diálogo, observação e interação, passando a fazer parte da cultura do grupo. Esse conhecimento tácito é incorporado pela organização no seu “produto”, obtendo reconhecimento por isso. Utilizando a lente da estética organizacional, o estudo possibilitou abordar o fenômeno da aprendizagem para além da perspectiva lógico-racional, além de introduzir as práticas de trabalho na compreensão da aprendizagem de um grupo de trabalhadores da construção civil. / Studies on organizational learning usually adopt a view predominantly cognitive and give greater emphasis to the formal aspects of learning and to managerial and/or organizational levels, which fragments the knowledge and disregards the social interactions, context and the individual as a whole (mind-body). To overcome limitations arising from the exclusive use of such perspective in the studies, the learning, addressed under an interpretive-cultural perspective, considers the procedural nature of learning and everyday social interactions/relationships of individuals as fundamental to learning. This approach goes beyond the cognitive dimension of analysis and consider other possibilities, such as the aesthetic dimension, to understand the practices. This study sought to understand the process of learning and work practices of a group of construction workers from the theory of organizational aesthetics. The techniques employed in data collection were the nonparticipant observation and in-depth interviews with five employees (foreman and helpers) for a small construction company in Santa Maria (RS). For data analysis, was used the technique of interpretive textual analysis. The main results show, in the group of subjects studied, the existence of collective integrative practices, which play important role in interpersonal relationships created and maintained by this group. Practices reveal aspects that concern the group's culture, which distinguish it from others and give it its own identity. The learning process of workers unveiled to be essentially informal. Training and learning for the performance of work practices occurs within the work itself, through practical experience, interaction with peers and more experienced people and observing the manner of performance of others, allowing the introduction of new behaviors and ways of doing practices. Workers interpret events and situations in organizational life, using the perceptual-sensory faculties and forming an aesthetic judgments about it. Associate the job well done to beauty, perfection, harmony, proportion. In the work practices there interweaving of the cognitive sphere and sensitive/aesthetics dimension: in addition to using cognition, workers use their perceptual-sensory faculties to interact with non-human elements and promote the implementation of practices. The use of the five senses in working practices unveiled to be a form of interaction of the workers with the environment, with the aim to guide them and provide accuracy in implementing the practice, still acting as a form of knowledge (the aesthetic experience) and learning. Workers establish a relationship between your physical body and the artifacts they use in developing their work practices, which are seen as essential to fulfillment and implementation such practices. The accomplishment of these practices mobilizes personal/embodied/non-formalized workers’ knowledge, that are shared through dialogue, observation and interaction, becoming part of culture of group. This tacit knowledge is embodied by the organization as its "product", gaining acknowledgment for it. Using the lens of organizational aesthetics, the study allowed approach the phenomenon beyond the logical-rational perspective, besides introduce work practices for understanding the learning of a group of construction workers.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:www.lume.ufrgs.br:10183/25343
Date January 2010
CreatorsSchiavo, Sílvia Raquel
ContributorsAntonello, Cláudia Simone
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

Page generated in 0.003 seconds