[pt] Este trabalho envolveu a discussão dos modos pelos quais estão organizadas as práticas pedagógicas desenvolvidas no ensino médico de graduação da Faculdade de Medicina da UFRJ, tendo como contexto as políticas de ensino superior e de saúde da década de 70 ao momento atual. Duas foram as questões que serviram de ponto de partida para a pesquisa: quais foram os efeitos da mudança físico- espacial sobre as concepções de formação médica dos antigos professores da Praia Vermelha; e quais eram e quais são as lógicas ordenadoras prevalentes nos diferentes períodos. Do ponto de vista metodológico, trabalhei com relatos orais na linha da história de vida de 21 professores oriundos da Praia Vermelha, procurando identificar em suas narrativas os significados da mudança a respeito do projeto pedagógico da Escola de Medicina da UFRJ, as posições assumidas por eles diante dos efeitos produzidos pela mudança, através da análise de suas trajetórias. Documentos referentes à educação médica, às políticas de saúde e às políticas de ensino superior constituíram-se em referências indispensáveis para o mapeamento das configurações do ensino médico de graduação em nosso país, em especial a partir da Reforma Universitária de 1968. Para o desenvolvimento da pesquisa, Pierre Bourdieu revelou- se como um dos interlocutores centrais. A potencialidade dos conceitos de habitus, capital e campo permitiu pensar o princípio da ação histórica na relação entre dois estados do social: a história objetivada nas coisas, sob a forma de instituições, e a história encarnada nos corpos sob a forma de disposições duráveis, o habitus (Bourdieu, 1994), no nosso caso, a constituição do habitus docente. Lutas e conflitos em torno de tomadas de posições acerca das concepções da Faculdade de Medicina da UFRJ foram sendo mapeadas e ajudaram a revelar as correlações de força que atravessaram essa instituição desde os anos 60. O trabalho está estruturado em torno dos seguintes eixos: as mudanças da Praia Vermelha para o Fundão e as conseqüências provocadas por esse deslocamento físico- espacial na reconfiguração dos campos de poder no interior da Faculdade de Medicina e em última instância na Universidade; as formas de ingresso na carreira docente no período estudado e os efeitos da reforma universitária sobre essas carreiras, sobre as representações dos saberes e conhecimentos que compõem com o habitus a formação do professor de medicina; a formação profissional promovida pelo curso de Medicina, inscrevendo-a no contexto histórico das práticas pedagógicas descritas na literatura do campo da educação médica, bem como dos efeitos das políticas de saúde, da configuração do mercado de trabalho nessa área. Em que pese o esforço que a Faculdade de Medicina vem realizando, como (i) integrar o currículo a partir de iniciativas interdepartamentais; (ii) aumentar as atividades práticas; (iii) inserir o aluno na rede básica de saúde; (iv) tornar obrigatório o internato médico nas áreas consideradas básicas; (v) discutir a relação médico- paciente via criação de uma disciplina, os resultados sinalizam para a existência de contradições entre a intenção e a efetividade dessas medidas. Assim, tem prevalecido ainda um enfoque predominantemente hospitalar e uma abordagem que privilegia o atendimento especializado de doenças que exigem o uso intensivo de tecnologia, fugindo das recomendações de centrar mais a prática nos aspectos preventivos das doenças. O apelo das especialidades, com maior prestígio e remuneração, a necessidade de dedicação à pesquisa pelos professores como pré-requisito para titulação, e o avanço do conhecimento médico são os fatores apontados para o declínio da propedêutica médica de cunho indiciário, e o sucesso observado na introdução de práticas pedagógicas conside / [en] This paper encompasses the discussion about the forms of organization of pedagogical practices developed in the undergraduate program at the School of Medicine at UFRJ (Federal University of Rio de Janeiro). The study ambiance involves university teaching and health policies that have prevailed in Brazil from the 1970 s until today. The research stemmed from two questions: the effect of physical-spatial change on concepts that underlie the medical formation among former faculty members (at Praia Vermelha building in the neighborhood of Urca); secondly, the guiding logics that prevailed in the two different periods. From a methodological viewpoint, I worked with oral reports that followed the life story of 21 faculty members who had come from Praia Vermelha, attempting to identify the meaning of change related to the pedagogical project at the School of Medicine at UFRJ in their narratives and the attitudes they adopted to cope with the effects produced by such changes in the analysis of their studies and life story. Documents involving medical training, health policies and university teaching issues became essential references for a map of the undergraduate medical education in our country, especially after the University Reform in 1968. Pierre Bourdieu was a central interlocutor for the development of the research. The potential of concepts such as habitus, capital and field allowed us to envisage the principle of historical action within the relationship of two social states: the objective history of things, in the form of institutions, and the history incarnated in bodies in the form of durable dispositions, the habitus (Bourdieu, 1994), in our case the constitution of a teaching habitus. Struggles and conflicts for position take over concerning the concepts at the School of Medicine at UFRJ were gradually mapped and helped reveal the correlation of forces that prevailed in the institution since the 1960 s. The work is structured around three guide lines: the transfer from Praia Vermelha to the premises on Fundão Island and the consequences of that physical-spatial change to the power shift in the recess of the School of Medicine and, ultimately, the University as a whole; the procedures that applied to faculty members during the admission process in the studied period, to mention the effects of the university reform on their professional careers, on the representation of knowledge and scholarship which, together with habitus, make up the education of the Medicine Professor; firstly the professional education offered by the Medical School, which inserts it in the historical context of pedagogical practices described in medical education literature; and secondly the effect health policies had on the labor market structure in that field. The School of Medicine has been making efforts to (i) integrate its curriculum based on interdepartmental initiatives; (ii) increase the number of practical activities; (iii) place the students within the basic net of health services; (iv) enforce compulsory medical internship in essential areas; (v) discuss doctor-patient relationships in a specific discipline. Nevertheless, in spite of those efforts, the results indicate contradictions between their intended effects and their efficacy. So, a largely hospital-oriented focus has prevailed, fostering an approach that privileges specialized treatment of diseases with the intense application of technological resources. This approach opposes recommendations which prescribe medical practices centered on disease prevention. The appeal of medical specialists is that they have more prestige and better rates of pay; therefore the professors need to dedicate time to research as a pre-requisite to conquer titles for their career improvement, and the advance of medical knowledge are the contributing factors that account for the decline of symptom-oriented medical procedures and the success of pedagogical practices that are considered innovative, such as problem-based learning and evidence-based medicine. These factors also contribute to the o