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[pt] ENCONTROS NAS ENCRUZILHADAS: OS CORPOS POLÍTICOS DO REFÚGIO, A POLÍTICA DO ENCONTRO E O DESVENDAR DE OUTROS MUNDOS / [en] ENCOUNTERS AT THE CROSSROADS: THE POLITICAL BODIES OF REFUGEES, THE POLITICS OF ENCOUNTER AND THE UNVEILING OF OTHER WORLDSLARISSA SANTOS DE SOUZA 13 December 2022 (has links)
[pt] Em inquestionável estado de vulnerabilidade, a condição refugiada é
permeada por uma gama de relações de poder e violência, que tornam sua
sobrevivência uma jornada cada vez mais tortuosa. Dificilmente conseguimos
deixar de mencionar seu estado de precariedade que os torna sujeitos do
humanitarismo que, através de um discurso do cuidado típico da governança
humanitária, transforma esses indivíduos refugiados em um grande corpo cheio de
feridas abertas prontas para serem suturadas. Quando diante de um complexo
aparato fronteiriço de securitização, são tratados como uma ameaça à ordem e
manutenção das estruturas e forma de vida de uma sociedade que é aparentemente
incapaz de responder imediatamente com hospitalidade. Uma vez assentados em
centros urbanos, essas populações também têm suas experiências atravessadas pelas
relações de poder que se fazem presentes em suas vidas cotidianas, em sua condição
de vida refugiada e vida precarizada, reduzidas à sua luta e suas dores, tornadas
vítimas puras e despolitizadas. À primeira vista, corpos anônimos, abandonados,
securitizados, gerenciados, cujas forças foram tolhidas pela jornada e pelo discurso
sobre suas vidas. Inspirada pelas proposições analíticas da Autonomia da Migração,
essa dissertação está interessada em olhar para a migração e, consequentemente,
para o refúgio enquanto político em si; afetada pelo filme Era o Hotel Cambridge
(2016), de Eliane Caffé, recorta o cotidiano urbano como espaço-tempo a partir do
qual também devemos pensar essa política autônoma da migração. Neste trabalho,
busco refletir sobre a resistência e politização da vida no refúgio urbano, fora do
eixo da cidadania, deslocando as possibilidades de suas experiências políticas para
um lugar de indiscernibilidade às relações de poder que buscam predicá-los a um
conjunto de subjetivizações expectadas. O ímpeto que move este trabalho é o desejo
de poder olhar para outros lugares, outras relações, outros afetos, outros mundos,
que não os delineados pelos significantes da política moderna intimamente
relacionados à figura essencializada do cidadão, demarcadora do pertencimento e
exclusão, ativo qualificante da vida. Este trabalho é um convite para buscarmos
traçar novas rotas, para desvendarmos caminhos outros na diferença que se faz
comum, retomando a condição refugiada urbana (e seus corpos marcados pela
precariedade e precarização da vida) como política nos encontros nas encruzilhadas
do cotidiano da vida urbana. / [en] In an unquestionable state of vulnerability, the refugee condition is pervaded
by a range of power and violence relations, which turns their survival into an
increasingly tortuous journey. One can hardly fail to mention their precarious state
that makes them subjects of humanitarianism that, through a discourse of care
typical of humanitarian governance, transforms these refugee individuals into a
large body full of open wounds ready to be sutured. When faced with a complex
border apparatus of securitization, they are treated as a threat to the order and
maintenance of the structures and way of life of a society that is apparently
incapable of responding immediately with hospitality. Once settled in urban
centers, the experiences of these populations are also permeated by the power
relations that are present in their daily lives, in their condition as refugees and as
precarious life, being reduced to their struggle and their pain, turned into pure and
depoliticized victims. At first sight, anonymous, abandoned, securitized, managed
bodies, whose forces were diminished by the journey and the discourse about their
lives. Inspired by the analytical propositions of the Autonomy of Migration, this
dissertation is interested in looking at migration and, consequently, at refuge as
political itself; affected by the film Era o Hotel Cambridge (2016), by Eliane Caffé,
it focusses on urban daily life as a space-time from which we must also think about
this autonomous politics of migration. In this work, I seek to reflect on the resistance
and politicization of life in condition of urban refuge, outside the axis of citizenship,
shifting the possibilities of their political experiences to a place of indiscernibility
from the power relations that seek to predicate them to a set of expected
subjectivizations. The impetus that moves this work is the desire to be able to look
at other places, other relations, other affections, other worlds, other than those
outlined by the signifiers of modern politics closely related to the essentialized
figure of the citizen, demarcator of belonging and exclusion, qualifying asset of life.
This work is an invitation to seek to trace new routes, to unveil other paths in the
difference that is made common, recapturing the urban refugee condition (and their
bodies marked by precarity and the precariousness of life) as political in the
encounters at the crossroads of everyday urban life.
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