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[pt] A CENTRAL NUCLEAR DE ANGRA DOS REIS: UMA HISTÓRIA DO LUGAR E DA TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM / [en] THE ANGRA DOS REIS NUCLEAR POWER STATION: A HISTORY OF PLACE AND LANDSCAPE TRANSFORMATIONJOAO PEDRO GARCIA ARAUJO 05 September 2023 (has links)
[pt] A energia nuclear no Brasil tem uma longa e rica história, que inclui
complexos acordos comerciais internacionais, domínio tecnológico, segredos
militares e um grande acidente radiológico. Entretanto, ela é pouco estudada por
nossa Geografia, que poderia ampliar o debate sobre o tema para além das
tradicionais perspectivas técnico-econômicas. Neste estudo tomamos como base a
teoria relacional do lugar, a tipologia das paisagens energéticas e o conceito de
nuclearidade para narrar as transformações socioespaciais ocorridas a partir da
instalação da Central Nuclear em Angra dos Reis, bem como as conexões desse
empreendimento com o ciclo do combustível nuclear. Utilizamos múltiplas
metodologias, que incluem: análise documental; entrevistas semiestruturadas com
especialistas; análise de séries históricas de imagens, incluindo a aplicação de
técnicas de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento; e trabalho de campo
exploratório e confirmatório. Apresentamos os marcos iniciais na localização de
reatores nucleares pelo mundo, para contextualizar os estudos realizados no Brasil
que levaram à escolha da Praia de Itaorna, Angra dos Reis (RJ), para receber a
primeira central nuclear do país. Essa escolha tornou Itaorna um lugar nuclear. A
instalação da Central Nuclear em 1970 e sua expansão lenta e descontínua nas cinco
décadas seguintes levou à uma série de alterações na composição do lugar e no seu
grau de nuclearidade. Durante esse período o domínio do significado se manteve
estável, enquanto os domínios da natureza e das relações sociais tiveram mudanças
significativas, indicando transformações na paisagem. Estas devem ser entendidas
dentro de um contexto mais amplo de transformações socioespaciais no município
de Angra dos Reis, que inclui a ascensão (terminal de petróleo e Central Nuclear) e
o declínio (matas carvoeiras) de paisagens energéticas. A Central Nuclear tornouse um marco na paisagem, modificou a linha de costa e criou uma área de exclusão
que permitiu, em certa medida, a regeneração da vegetação no seu entorno. Por
outro lado, estimulou o crescimento de um núcleo populacional em Mambucaba
que reduziu a vegetação por lá. A paisagem energética da Central Nuclear é
caracterizada por sua alta densidade energética, por sua dominância espacial e
permanência temporal. A instalação da Central Nuclear ocorreu simultaneamente
às instalações da Fábrica de Combustível Nuclear (Resende – RJ) e do Complexo
Mínero-industrial do Planalto de Poços de Caldas (Caldas – MG). Esses três lugares
se conectam por meio do ciclo do combustível nuclear e sua existência depende de
fluxos de materiais (principalmente urânio), de pessoas e de recursos financeiros,
que se estabelecem (ou se estabeleciam) entre eles. Essa interdependência
diferencia as paisagens energéticas nucleares de outras, como aquelas formadas por
hidrelétricas ou parques eólicos. As três paisagens nucleares possuem alta
densidade energética. Dentre elas, o Complexo Mínero-industrial é responsável
pela transformação mais profunda, maior dominância espacial e permanência
temporal, enquanto a Fábrica de Combustível situa-se no outro extremo. A teoria
relacional do lugar, a tipologia das paisagens energéticas, e o conceito de
nuclearidade se revelaram uma base teórica robusta para o estudo das
transformações socioespaciais no ciclo do combustível nuclear e constituem
ferramentas promissoras para aplicação no planejamento energético. / [en] Nuclear power in Brazil has a long and rich history, including complex
international trade agreements, technological dominance, military secrets, and a
major radiological accident. However, it has received little attention from Brazilian
Geography, which could broaden the debate on the subject beyond the traditional
technical-economic perspectives. We applied the relational theory of place, the
typology of energy landscapes, and the concept of nuclearity to describe the sociospatial transformations that occurred after the establishment of the Nuclear Power
Station in Angra dos Reis, as well as the connections of this enterprise with the
nuclear fuel cycle. We used mixed methods that include: document analysis; semistructured interviews with experts; analysis of historical series of images, including
the application of Remote Sensing and Geoprocessing techniques; and exploratory
and confirmatory fieldwork. We presented the initial milestones in the siting of
nuclear reactors around the world, to put in context Brazilian studies that led to the
selection of Praia de Itaorna, Angra dos Reis (RJ), to receive the first nuclear power
plant in the country. This choice made Itaorna a nuclear place. The installation of
the Nuclear Power Station in 1970 and its slow and discontinuous expansion over
the next five decades led to a series of alterations in the composition of the place
and in its degree of nuclearity. During this period, the domain of meaning remained
stable, while the domains of nature and social relations had significant changes,
indicating landscape transformations. These must be understood within a broader
context of socio-spatial transformations in the municipality of Angra dos Reis,
which includes the rise (petroleum terminal and Nuclear Power Station) and fall
(charcoal forests) of energy landscapes. The Nuclear Power Station became a
landmark, modified the coastline, and created an exclusion area that allowed, to a
certain extent, the regeneration of the surrounding vegetation. On the other hand, it
stimulated the growth of a population center in Mambucaba that reduced the
vegetation there. The energy landscape of the Nuclear Power Station is
characterized by high energy density, spatial dominance, and temporal permanence.
The establishment of the Nuclear Power Station took place simultaneously with the
establishment of the Nuclear Fuel Factory (Resende – RJ) and the Planalto de Poços
de Caldas Mining Plant (Caldas – MG). These three places are connected through
the nuclear fuel cycle and their existence depends on flows of materials (mainly
uranium), people and financial resources, which are (or were) established between
them. This interdependence differentiates nuclear energy landscapes from others,
such as those formed by hydroelectric plants or wind farms. The three nuclear
landscapes have high energy density. Among them, the Mining Plant causes the
deepest transformation, has greater spatial dominance and temporal permanence,
while the Fuel Factory is located at the other extreme. The relational theory of place,
the typology of energy landscapes, and the concept of nuclearity proved to be a
robust theoretical basis for the study of socio-spatial transformations in the nuclear
fuel cycle and constitute promising tools to be applied to energy planning.
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