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Os desafinados: sambas e bambas no "Estado Novo"

Paranhos, Adalberto de Paula 03 June 2005 (has links)
Made available in DSpace on 2016-04-27T19:32:37Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Tese Adalberto de Paula Paranhos.pdf: 1672988 bytes, checksum: fd6dd53ce1c6dd1f16f7d592ff2996fd (MD5) Previous issue date: 2005-06-03 / Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior / O cerco do silêncio que a ditadura do Estado Novo montou em torno das práticas e discursos que pudessem destoar das normas então instituídas levou muita gente, por muito tempo, a acreditar no triunfo de um pretenso coro da unanimidade nacional . Caminhando na contramão dessa corrente, que estende seu alcance aos domínios da música popular, esta tese procura levantar uma parte do véu que encobre manifestações que desafinaram o coro dos contentes durante o regime estado-novista. Seu foco são as vozes destoantes do samba produzido à época, apesar da férrea censura dos organismos oficiais (particularmente do DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda). Sitiados pelas forças conservadoras, nem por isso todos os compositores populares se deixaram apanhar na rede do culto ao trabalho propagado pela ideologia do trabalhismo. Falas dissonantes repontaram aqui e ali, evidenciando que, por mais ditatorial ou supostamente totalitário que seja esse ou aquele regime, nunca se consegue calar por inteiro as divergências ou as diferenças. Ao se trabalhar com a canção como documento histórico, alargam-se, portanto, as possibilidades de questionar o olhar predominante lançado pela historiografia sobre a chamada ditadura Vargas . Quando não nos prendemos à superfície dos fatos, que inflaciona as aparências, e partimos para a investigação concreta da produção fonográfica do período, a situação muda de figura. Sem pretender negar a adesão espontânea, forçada ou interesseira de muitos compositores aos valores incensados pelo Estado Novo , o que se percebe é que foram as mais variadas as formas de expressão assumidas por aqueles que de modo mais ou menos sutil, conforme as circunstâncias não se afinavam pelo diapasão da ditadura. Para alcançar tal propósito, este trabalho se inicia com um balanço crítico sobre uma parcela da historiografia que se ocupou do Estado Novo e rediscute certas concepções teóricas sobre as quais ela se apoiou. Na seqüência, examina o discurso musical dos sambistas que concorreram decisivamente para a invenção do samba como símbolo musical da nacionalidade e destaca os estreitos vínculos tecidos entre o samba e a malandragem. Por fim, ingressa na parte capital desta tese, que envolve as vozes destoantes sob um regime de ordem-unida. A ênfase, então, é posta na produção musical entre 1940 e 1945, quando, sob o império do DIP, o campo da música popular, segundo muitos autores, se teria transformado numa espécie de caixa de ressonância da pregação governamental. Com base na escuta atenta de milhares de gravações que correspondem ao período de constituição do novo samba urbano carioca, foi avaliado um conjunto de elementos, numa análise que, passando pelos arranjos, pela performance dos intérpretes, não ficou refém tão-somente da literalidade da mensagem contida nas letras das canções, por mais importantes que estas sejam.

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