A bacia hidrográfica da Amazônia ocupa cerca de 40% do território brasileiro e possui mais de 60% de toda a disponibilidade hídrica do País. Os recursos hídricos desta região, abundantes e até hoje pouco explorados, constituem um patrimônio nacional para o qual a nação brasileira não pode voltar as costas. Além das mudanças nos usos e coberturas do solos, diversas hidroelétricas tem sua implantação planejadas em vários rios da região, entres os quais o rio Teles Pires, no Mato Grosso. Pouco se sabe sobre as características químicas, variações sazonais das mesmas e sobre a biogeoquímica de muitos dos rios que compõe a bacia Amazônica. Para sanar esta lacuna de nosso conhecimento, estabeleceu-se uma rede de monitoramento contínuo em diversos curso d\'água, onde as condições logísticas e de pessoal permitiram, dentro da chamada Rede Beija-Rio. Este é um grande esforço multi-institucional para entender o funcionamento da bacia Amazônica. Neste trabalho apresentamos alguns dos aspectos deste estudo particulares aos rios Teles Pires e Cristalino, no estado do Mato Grosso, nas cercanias do município de Alta Floresta. Observou-se que a variabilidade sazonal no regime de precipitação resulta em variações significativas das vazões em ambos os rios, mas com conseqüências na qualidade das águas nem sempre idênticas. Em termos da composição química, o aumento da vazão é acompanhado, no rio Teles Pires de um incremento na quantidade de sais dissolvido, ao passo que no rio Cristalino observa-se o contrário. Este fato, associado a uma predominância de cálcio e à presença de sulfato nas águas do último, indicam uma importância relativamente maior do intemperismo de rochas calcáreas, ao passo que no rio Teles Pires a lixiviação dos solos pela chuva acarreta um predomínio de sódio. Entretanto, no que tange às variações sazonais das concentrações de oxigênio dissolvido, carbono orgânico e inorgânico dissolvidos, sedimentos em suspensão e no pH, ambos os sistemas apresentam respostas idênticas ao aumento da descarga. Tal comportamento tem sido observado em outros rios que compõe a rede Beija-Rio, indicando que, apesar do controle da composição química das águas da bacia Amazônica ter distintas origens, parâmetros mais relacionados com a atividade biótica, como carbono orgânico e oxigênio dissolvido, apresentam padrão único, independentemente da origem química das águas. Pode-se deduzir, mesmo que este não seja enfoque deste trabalho, que a biota que depende destes sistemas (como peixes, por exemplo) esteja adaptada a estas condições específicas. Esta característica fundamental do funcionamento destes sistemas fluviais deve ser melhor compreendida e incorporada aos planos de uso e manejo destes recursos que, apesar de ainda abundantes, podem vir a ser rapidamente esgotados com a adoção de práticas inadequadas e/ou insustentáveis. / The Amazon basin occupies around 40% of the brazilian territory and contains more than 60% of the water resources of the country. Abundant and yet little exploited region water resources constitute a national treasure to which the nation can not turn its back. Besides changes in land use/cover, several hydroelectrical plants are planned for rivers in the region, among which the Teles Pires, in Mato Grosso. Little is known about the chemistry and its seasonal variations of many of the rivers in the basin. To supply more information in this regard, a sampling network was established in rivers where logistical and human resources conditions were available, within the so-called Beija-Rio network. This is a large multi-institutional effort to understand the functioning of the Amazon basin. In this study we present some aspects of this study particular to rivers Teles Pires and Cristalino, in the state of Mato Grosso, near the city of Alta Floresta. We observed that seasonal changes in precipitation result in significant variations in discharge for both rivers, but with consequences in water quality that no always identical. Regarding chemical composition discharge increases at the Teles Pires are followed by increases in solute amounts, whereas at the Cristalino the opposite occurs. This fact, associated with the predominance of calcium and with the presence of sulfate in the latter, indicate a relatively more important role of carbonate weathering, whereas at the Teles Pires flushing of soils by rain result in a predominance of sodium. However, in relation to seasonal variations in dissolved oxygen, dissolved organic and inorganic carbon concentrations, suspended sediments and pH, both rivers show identical responses to increased discharges. Such behavior has been observed in several other rivers of the Beija-Rio network, indicating that although the chemical composition of amazonian rivers might have distinct sources, parameters controlled by biotic processes, such as organic carbon and dissolved oxygen, show common patterns, independently of chemical nature of the waters. Although this is not the focus of this work, we can deduce that life forms that feed on this system (such as fish) are adapted to such environmental conditions. These fundamental characteristics of the functioning of these fluvial systems should be better understood and incorporated into use and management plans for these systems which, although still abundant, might become scarce rapidly as a result of inadequate or unsustainable practices.

A bacia hidrográfica da Amazônia ocupa cerca de 40% do território brasileiro e possui mais de 60% de toda a disponibilidade hídrica do País. Os recursos hídricos desta região, abundantes e até hoje pouco explorados, constituem um patrimônio nacional para o qual a nação brasileira não pode voltar as costas. Além das mudanças nos usos e coberturas do solos, diversas hidroelétricas tem sua implantação planejadas em vários rios da região, entres os quais o rio Teles Pires, no Mato Grosso. Pouco se sabe sobre as características químicas, variações sazonais das mesmas e sobre a biogeoquímica de muitos dos rios que compõe a bacia Amazônica. Para sanar esta lacuna de nosso conhecimento, estabeleceu-se uma rede de monitoramento contínuo em diversos curso d\'água, onde as condições logísticas e de pessoal permitiram, dentro da chamada Rede Beija-Rio. Este é um grande esforço multi-institucional para entender o funcionamento da bacia Amazônica. Neste trabalho apresentamos alguns dos aspectos deste estudo particulares aos rios Teles Pires e Cristalino, no estado do Mato Grosso, nas cercanias do município de Alta Floresta. Observou-se que a variabilidade sazonal no regime de precipitação resulta em variações significativas das vazões em ambos os rios, mas com conseqüências na qualidade das águas nem sempre idênticas. Em termos da composição química, o aumento da vazão é acompanhado, no rio Teles Pires de um incremento na quantidade de sais dissolvido, ao passo que no rio Cristalino observa-se o contrário. Este fato, associado a uma predominância de cálcio e à presença de sulfato nas águas do último, indicam uma importância relativamente maior do intemperismo de rochas calcáreas, ao passo que no rio Teles Pires a lixiviação dos solos pela chuva acarreta um predomínio de sódio. Entretanto, no que tange às variações sazonais das concentrações de oxigênio dissolvido, carbono orgânico e inorgânico dissolvidos, sedimentos em suspensão e no pH, ambos os sistemas apresentam respostas idênticas ao aumento da descarga. Tal comportamento tem sido observado em outros rios que compõe a rede Beija-Rio, indicando que, apesar do controle da composição química das águas da bacia Amazônica ter distintas origens, parâmetros mais relacionados com a atividade biótica, como carbono orgânico e oxigênio dissolvido, apresentam padrão único, independentemente da origem química das águas. Pode-se deduzir, mesmo que este não seja enfoque deste trabalho, que a biota que depende destes sistemas (como peixes, por exemplo) esteja adaptada a estas condições específicas. Esta característica fundamental do funcionamento destes sistemas fluviais deve ser melhor compreendida e incorporada aos planos de uso e manejo destes recursos que, apesar de ainda abundantes, podem vir a ser rapidamente esgotados com a adoção de práticas inadequadas e/ou insustentáveis. / The Amazon basin occupies around 40% of the brazilian territory and contains more than 60% of the water resources of the country. Abundant and yet little exploited region water resources constitute a national treasure to which the nation can not turn its back. Besides changes in land use/cover, several hydroelectrical plants are planned for rivers in the region, among which the Teles Pires, in Mato Grosso. Little is known about the chemistry and its seasonal variations of many of the rivers in the basin. To supply more information in this regard, a sampling network was established in rivers where logistical and human resources conditions were available, within the so-called Beija-Rio network. This is a large multi-institutional effort to understand the functioning of the Amazon basin. In this study we present some aspects of this study particular to rivers Teles Pires and Cristalino, in the state of Mato Grosso, near the city of Alta Floresta. We observed that seasonal changes in precipitation result in significant variations in discharge for both rivers, but with consequences in water quality that no always identical. Regarding chemical composition discharge increases at the Teles Pires are followed by increases in solute amounts, whereas at the Cristalino the opposite occurs. This fact, associated with the predominance of calcium and with the presence of sulfate in the latter, indicate a relatively more important role of carbonate weathering, whereas at the Teles Pires flushing of soils by rain result in a predominance of sodium. However, in relation to seasonal variations in dissolved oxygen, dissolved organic and inorganic carbon concentrations, suspended sediments and pH, both rivers show identical responses to increased discharges. Such behavior has been observed in several other rivers of the Beija-Rio network, indicating that although the chemical composition of amazonian rivers might have distinct sources, parameters controlled by biotic processes, such as organic carbon and dissolved oxygen, show common patterns, independently of chemical nature of the waters. Although this is not the focus of this work, we can deduce that life forms that feed on this system (such as fish) are adapted to such environmental conditions. These fundamental characteristics of the functioning of these fluvial systems should be better understood and incorporated into use and management plans for these systems which, although still abundant, might become scarce rapidly as a result of inadequate or unsustainable practices.