Quando se falava de Sebastianismo, mais precisamente na origem do sebastianismo, sentia-se uma lacuna evidente: pouco se sabia sobre a personagem que, reconhecidamente, tinha tido um papel fundamental para o efeito - D. João de Castro (1550?-1628?) neto do famigerado vice-rei da Índia. Depois de frequentar a Universidade de Évora de 1568 a 1578, seguiu D. António, Prior de Crato, com o qual se exila durante largos anos em França e Inglaterra... Canado de desilusões e sofrimentos, decide deixar - em clara ruptura - a corte exilada, convencido de que o monarca que seguira não tinha condições para defender os melhores interesses para Portugal... Como o próprio revela nessa fase (1578), em Paris - com o objectivo bem definido de diminuir D. António politicamente... - vai «inventar», com base numa trabalhada sustentação profética, a ideia de que D. Sebastião estava vivo... No entanto, subjugado por aquiloque agora lhe parecia claro em profecias, vai acreditar, de facto, nessa esperança inicialmente fingida, e envolver-se empenhadamente no caso do «quarto falso rei D. Sebastião» - um Marco Túlio que se começou a declarar por tal em 1598, em Veneza, e que viria a ser sentenciado em 1603. Tudo isto o vai obrigar a um longo exílio em Paris que se prolongará até ao fim dos seus dias... até 1628 produzirá uma vastíssima obra inédita em que tenta provar que D. Sebastião não morrera, mas estava «encoberto» e apareceria para ter um papel imperial, teológico e teleológico na história da humanidade...Entre os filões proféticos com que se relaciona há um que ocupa um lugar importantíssimo: as ideias e as obras atribuídas a Joaquim de Flora... Delas receberá conceitos, metodológicas, e a própria visão da história. E por este exercício - pela forma consitente e precursora com que o fez - a sua obra tem uma enorme importância no cenário da literatura profética em «língua portuguesa»...