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A elegia portuguesa nos séculos XX e XXI : perda, luto e desenganoLage, Rui January 2010 (has links)
A elegia é um poema de origens antiquíssimas que se mostrou desde cedo a espécie poética preferida sempre que se tratava de dar voz ao pranto pelos mortos, quer os mortos privados, quer os mortos públicos, e de consolar os sobreviventes. Mas através do recurso à contemplação, à especulação e à interrogação, prestou-se também a veículo por excelência da meditatio mortis, da consciência da brevidade da vida e da veloz fuga do tempo, da instabilidade e fragilidade de tudo o que é humano ou tocado pelo humano, pelo que versou e versa todos os fenómenos relacionados com a perda, quer de uma perspectiva pessoal quer de uma perspectiva universalista. Desde os sirventeses e prantos medievais, a poesia portuguesa acolheu a elegia em toda a sua riqueza e variedade, e no século XX, à semelhança dos séculos anteriores, quase nenhum poeta português ficou imune à elegia. Se em inícios do século a elegia portuguesa rescende ainda à dramaturgia romântica sublimadora dos mortos, fazendo-se nuvem com o saudosismo de Pascoaes, se com a geração de Orpheu ela lamenta acima de tudo a perda de um eu que fica viúvo de si mesmo, se a partir dos anos quarenta procura nos vivos, seguindo o mapa das Elegias de Duíno de Rilke, o rumor invisível dos mortos, a partir do final dos anos cinquenta, e em especial após as Metamorfoses de Jorge de Sena em 1963, no quadro da crise do divino, do materialismo contemporâneo e dos desenganos acarretados pelo progresso científico, instala-se na elegia a pura perda e dá-se lugar a uma morte intransitiva, sem redenção e abertura a uma nova e melhor vida, passando a interessar os detalhes íntimos e particulares dos mortos dados através de um discurso esvaziado de pathos. (...).
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