FundaÃÃo Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientifico e TecnolÃgico / CoordenaÃÃo de AperfeiÃoamento de Pessoal de NÃvel Superior / Esta tese se guiou pela seguinte pergunta: como se davam os consumos de remÃdios em relaÃÃo com as experiÃncias do tempo? Tomando como ponto de partida o estado do CearÃ, interessava compreender como as prÃticas de saÃde ocorriam ao longo dos sÃculos XIX e XX, pondo Ãnfase, a partir de movimentos do cotidiano, sobre suas espessuras temporais. Diante da natureza fragmentÃria das fontes coligidas (romances, memÃrias, anÃncios, documentos oficiais), forjou-se uma estratÃgia metodolÃgica: a consulta de livros de medicina autoinstrutivos. A leitura destes livros, sobretudo do LunÃrio PerpÃtuo, de JerÃnimo Cortez, e do Diccionario de Medicina Popular, do Dr. Chernoviz, nÃo apenas trouxe maiores elementos para a compreensÃo das lÃgicas de consumo, como tambÃm levou a uma ampliaÃÃo semÃntica do conceito de remÃdio. A partir de entÃo, a palavra remÃdio compreendia nÃo essencialmente uma substÃncia, mas uma multiplicidade de produtos, gestos e artefatos, entre os quais os prÃprios livros. Tratou-se de delinear algumas experiÃncias do tempo manifestadas por essas prÃticas de remediar: a medicina humoral em suas associaÃÃes com as rotas astrais; as relaÃÃes entre saÃde e salvaÃÃo, pelos entrelaÃamentos entre corpo e alma, solidÃrias a uma certa ideia de eternidade; o paradigma clÃnico que orienta terapÃuticas num corpo individualizado a transformar-se potente para o trabalho e a construÃÃo do futuro etc. Estes trÃs planos ou estratos temporais, assim como alguns outros que se esboÃam nas prÃticas de remediar, apresentam procedÃncias, duraÃÃes, ritmos e velocidades particulares, reorganizando ademais as reciprocidades entre passado e futuro. Entretanto, sÃo simultÃneos e, nas diversas circunstÃncias do cotidiano, se colocam em relaÃÃes de conflitos e de consensos.