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A tarefa de um narrador: abandono e melancolia no romance de Milton Hatoum

Pinto, Daniel Muletaler January 2016 (has links)
Made available in DSpace on 2016-03-30T02:04:03Z (GMT). No. of bitstreams: 1 000477804-Texto+Completo-0.pdf: 613088 bytes, checksum: 1120699c03f85eb5116aa6082ac9f32a (MD5) Previous issue date: 2016 / The present thesis aims to analyze Milton Hatoum´s four long narratives from the observation of common traits in the family situation of the narrators. The innominate character in Relato de um Certo Oriente attempts to understand his mother's abandonment. In Dois Irmãos, Nael learns that his father is a member of the family in which he and his mother are aggregated, and the narrator has no doubt that the assumption of paternity will never be aired, for the very reason that the two will never be accepted as equals by this family. In Cinzas do Norte, Lavo´s parents die when he is still a child. As for Arminto, in Órfãos do Eldorado, he was born to a mother who died during his birth, and the father does not hesitate to blame him for that. All of these narrators are somehow abandoned or orphaned. The interpretative hypothesis is that the status of narrators is intrinsically related to the very activity of narrating. This is because the one who has the task of telling a story must deal with the loss that the passage of time represents, for the access to the past is hindered by various situations, such as the death of those who witnessed the facts one wishes to narrate. The absence of the father, the mother or both, which characterizes Hatoum´s storytellers is consistent with this lack, a situation that affects the melancholic look that is directed to the past. Nevertheless, the melancholic state is overcome in the narrative process itself, a task that requires the organization of fragmentary reports and scattered memories as well as the collection of documents and objects from the past, all being set in a narrative. The image of melancholy associated with those who have to write is analogous to the condition of the translator, as Walter Benjamin problematized in The Task of the Translator, a text that appears as an interpretative aid, as well as the work of Suzana Kampff Lages, Walter Benjamin: tradução e melancolia, and Mourning and Melancholia, by Freud. The always fragmentary nature of memory, the degradation that the passage of time imposes on everything and everyone, characteristics that grant to Hatoum's novels the aspect of true inventories of ruins, gave rise to the search for a new theoretical framework in Benjamin, this time in The Origin of German Tragic Drama, and in some of his commentators. In Benjamin, I also found the overcoming of the melancholic condition through the translator / writer task, the same that happens to the narrators to which this study is dedicated. However, the analysis of Milton Hatoum´s novelistic production also provided an opportunity to attempt to interpret the narratological issues raised here from Time and Narrative, by Paul Ricoeur, especially on the approach that the philosopher places between historical and fictional narratives. / Este trabalho tem como objetivo analisar as quatro narrativas longas de Milton Hatoum, partindo da observação de traços comuns na situação familiar dos narradores. A personagem inominada de Relato de um certo Oriente tenta compreender o abandono materno. Em Dois irmãos, Nael descobre que seu pai é um dos membros da família na qual ele e a mãe são agregados, e o narrador não tem dúvidas de que a assunção da paternidade nunca será sequer aventada, pois os dois jamais serão aceitos como iguais por essa família. Em Cinzas do Norte, Lavo perdeu os pais quando ainda era criança. Arminto, em Órfãos do Eldorado, é órfão de mãe, que morreu durante o parto dele, e o pai não hesita em culpá-lo por isso. Todos esses narradores são, de alguma forma, abandonados ou órfãos. A hipótese interpretativa é a de que esse estatuto dos narradores está intrinsecamente relacionado à própria atividade de narrar. Isso porque aquele que tem a tarefa de contar uma história deve lidar com a perda que a passagem do tempo representa, pois o acesso ao passado é dificultado por diversas situações, como, por exemplo, a morte daqueles que testemunharam os fatos que se quer narrar. A ausência do pai, da mãe ou de ambos, que caracteriza os narradores de Hatoum, se coaduna com essa falta, situação que condiciona o olhar, sempre melancólico, dirigido ao passado.O estado melancólico é superado, entretanto, no próprio fazer narrativo, tarefa que exige a organização de relatos fragmentários, lembranças dispersas, bem como a reunião de documentos e objetos do passado, tudo sendo configurado em uma narrativa. A imagem da melancolia associada àqueles que têm de escrever é análoga à condição do tradutor, conforme Walter Benjamin problematizou em A tarefa do tradutor, texto que aparece como subsídio interpretativo, assim como o trabalho de Suzana Kampff Lages, Walter Benjamin: tradução e melancolia, além de Luto e melancolia, de Freud. O caráter sempre fragmentário da memória, a degradação que a passagem do tempo impõe a tudo e a todos, características que conferem aos romances de Hatoum o aspecto de verdadeiros inventários de ruínas, ensejou a busca de novo aporte teórico em Benjamin, dessa vez em Origem do drama trágico alemão, e em alguns de seus comentadores. Em Benjamin ainda se encontrou a superação da condição melancólica através do trabalho do tradutor/escritor, como acontece aos narradores aos quais este estudo se dedica, mas a análise da produção romanesca de Milton Hatoum também oportunizou uma tentativa de interpretação das questões narratológicas aqui levantadas a partir de Tempo e narrativa, de Paul Ricoeur, sobretudo na aproximação que o filósofo realiza entre narrativas histórica e ficcional.

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