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Viajando entre sereias: saÃde de transexuais e travestis na cidade de Fortaleza / TRAVELLING BETWEEN MERMAIDS: Health transsexuals and transvestites in Fortaleza.

Juliana Vieira Sampaio 10 February 2014 (has links)
CoordenaÃÃo de AperfeiÃoamento de Pessoal de NÃvel Superior / O objetivo deste estudo foi investigar, na cidade de Fortaleza, as prÃticas que travestis e transexuais utilizam para produzir saÃde e como elas se relacionam com os saberes institucionalizados nesse campo. A saÃde no Brasil à dever do Estado e direito fundamental da populaÃÃo brasileira desde 1990, com a criaÃÃo do Sistema Ãnico de SaÃde (SUS). Apesar de ser um direito universal, algumas pesquisas assinalam um processo de exclusÃo da populaÃÃo trans dos serviÃos de saÃde por esta sofrer preconceito nestes espaÃos. Iniciamos nossa pesquisa realizando e registrando em diÃrio de campo visitas exploratÃrias a equipamentos de saÃde indicados como referÃncia no atendimento de travestis e transexuais na cidade de Fortaleza. Observamos que a norma sexual heteronormativa baseada no binarismo de gÃnero à o que geralmente organiza as aÃÃes do serviÃo pÃblico de saÃde quando o foco à essa populaÃÃo. Hà uma âre-patologizaÃÃoâ das sexualidades nÃo heterossexuais quando os serviÃos voltados para DST/aids e envolvidos no processo transexualizador tornam-se os principais espaÃos institucionalizados para a saÃde das trans. ApÃs as visitas exploratÃrias iniciais, comeÃamos a dialogar com travestis e transexuais por entendermos que a saÃde nÃo pode ser reduzida a um problema simples de gestÃo do Estado, uma vez que a saÃde atravessa todos os espaÃos e relaÃÃes. Realizamos, tambÃm, entrevistas semiestruturadas com quatro travestis e transexuais e algumas conversas informais nos ambientes percorridos durante a pesquisa. Esse material foi analisado na perspectiva foucaultiana de prÃticas discursivas, isto Ã, um conjunto de regras anÃnimas e localizadas no tempo e espaÃo que produzem condiÃÃes de exercÃcio da funÃÃo enunciativa. A partir dos relatos das trans, observamos como elas negociam com os espaÃos institucionalizados de saÃde e quais prÃticas sÃo indicadas como produtoras de saÃde por essa populaÃÃo. A falta de respeito ao uso do nome social foi uma das principais queixas das trans sobre o atendimento nos equipamentos de saÃde. Elas passam a utilizar como alternativa o atendimento em clÃnicas particulares ou os serviÃos de emergÃncia. Observamos que a produÃÃo de saÃde das trans geralmente està associada à construÃÃo de um corpo belo e feminino e para isso sÃo utilizadas diversas tecnologias, que muitas vezes sÃo apontadas pelo discurso oficial da saÃde como produtoras de doenÃas, como o uso de silicone industrial e a automedicaÃÃo de hormÃnios. ConcluÃmos que a principal demanda de saÃde de travestis e transexuais, a construÃÃo de um corpo belo e feminino, se afasta das normas e prÃticas que regem a atuaÃÃo do Estado na assistÃncia a essa populaÃÃo. Tal distanciamento à produzido, entre outras questÃes, pela adoÃÃo do Estado de uma noÃÃo heteronormativa e binÃria de sexo e gÃnero para construir suas aÃÃes, que finda por excluir os corpos que escapam e subvertem a norma sexual. / The aim of this study was to investigate practices that transvestites and transsexuals in Fortaleza (CearÃ-Brazil) use to produce health and how they relate to institutionalized knowledge in this field. Health in Brazil is duty of the state and fundamental right of the population since 1990, when the Unified Health System (Sistema Ãnico de SaÃde SUS) was created. Despite being a universal right some studies indicate a process of exclusion of trans people from health services due to the prejudice they suffer in those places. We began our research by exploratory visits to health facilities indicated as references in the care of transvestites and transsexuals in Fortaleza, which were registered in a field diary. We observed that the heteronormative sexual norm based on binary gender usually organizes the actions of the public health service when the focus is this population. There is re-pathologization of non-heterosexual sexualities when the services directed to STD/aids and involved in transsexuality process become the main institutionalized spaces for the health of trans people. After initial exploratory visits we talked to transvestites and transsexuals because we believe that health cannot be reduced to a simple problem of state management, since health pervades all space and relationships. We conducted semi-structured research interviews with four transvestites and transsexuals and also had informal conversations in the spaces visited during research. This material was analyzed in Foucauldian perspective of discursive practices, that is, a set of anonymous rules located in time and space that produce conditions for exercising the enunciative function. From the reports of our trans interviewees we observe how they deal with the institutionalized spaces of health and which practices are selected as producers of health for this population. The disrespect towards the use of social name was one of the main complaints about the care in health facilities, lending them to alternative care at private clinics or emergency services. We observed that the production of trans health is generally associated with the construction of a beautiful female body and the utilization of several technologies, which are often identified by the official discourse of health as producers of disease, such as the use of silicone industrial and self-medication of hormones. We conclude that the main demand of health transvestites and transsexuals, the construction of a beautiful female body, is far from the way the State has acted to assist this population. Among other reasons this distance is produced as the result of the adoption of a binary and heteronormative notion of sex and gender by the State, which ends up excluding the bodies that escape and subvert the sexual norm.

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